quarta-feira, novembro 12

Café creme

Sou da geração miúda das graúdas. Cresci a apreciar gente grande, mulher espadaúda. Nos primórdios da TSF, suspirava pelas informações de trânsito da Laurinda Alves, a amazona que avaliava a correnteza das vias a galope numa Cagiva 125 cc. Casou-se depois com um indefectível portista e perdeu a mística. Lembro-me também de espreitar para a Leonor Pinhão durante os pequenos-almoços na Cister, ali para a Escola Politécnica. Tinha, e ainda tem, olhos cavados, silhueta esguia e militância da enormidade benfiquista. Naquela pastelaria, recatava-se na mesa mais obscura. Não me lembro de quantos chávenas de café sorvia, mas ainda hoje tenho presente que tragava fiadas de cigarros com incontinente alarvidade. Depois aliava a ligeireza assertiva do folhear de A Bola, ainda no formato gigante, com a sisudez carregada de quem consumia com redobrado zelo cada palavra imprimida no papel ralo. A Leonor lia e não me passava cartão. Eu nutria-me com bolas de berlim, empurradas a galão (claro e morno)

Sem comentários: