quinta-feira, agosto 28

Mimor

- Cice: Sabes o que é que eles estão?
- Fogas: A abraçar-se!
- Cice: Não, eles estão com o amor
- Fogas: Amor? O que é amor??
- Cice: O amor é mimos!
A minha filha só tem quatro anos e já aprende coisas que eu não lhe ensinei
(é que me deu um nó na garganta tão-tão apertado que só não chorei porque me concentrei muito-muito no miudo, duas filas atrás, que ameaçava vomitar as pipocas porque o irmão lhe tinha colado dois burriés na borda do pacote)

quarta-feira, agosto 27

Manuel de vida

Quem anda perdido procura referências. Imaginem um desvio acidental ao traçado que delinearam e que caminham sem rumo conhecido. Querem ir, por exemplo, para Vilar de Izeu, lá para Trás-os-Montes e, sem esperar, estão a escancarar-se com a indicação para Alvoco das Várzeas, em Oliveira do Hospital. Nesse momento de impasse, têm uma solução: aceder ao Guia Michellin. Em alternativa, se quiserem ser um pouco mais metafóricos e trocar as localidades por dois sentidos de vida, podem recorrer aos ensinamentos de Francesco Alberoni. Este sociólogo é o samaritano que, à beira da estrada, nos indica o melhor traçado para embicar à estrada do nosso destino. O pensador italiano é uma versão mais branda de Desmond Morris. Suaviza tratados de vida em literatura ligeira para encalhadas, imortalizando paradigmas como "o amor para durar, tem de ser também confiança e estima; isto é, deve adquirir algumas propriedades da amizade" (pausa para assimilação de tão sapiente dizer). Para Alberoni faz também todo o sentido que tenhamos dois, ou até mais, destinos (gajas) nas caminhadas (noitadas) que empreendemos, pois "uma vida longa e intensa dificilmente se pode caracterizar por um único amor" (inspirar profundamente para decalcar no peito a erudita reflexão). Tenho um amigo que anda fragilizado de amores e que me aconselhou uma "magnífica obra" do "conceituado antropólogo". Por especial favor, darei uma espreitadela, mas só depois de ler alguma coisa do Paulo Coelho. É que tenho de reunir fortes argumentos para degladiar conceitos de vida com o pinga-amor do meu amigo

segunda-feira, agosto 25

O Zécalcas

Faz-me alguma graça chamarem Madjer a todo o artista que calca o esférico em jogos de fim-de-semana. Quem avalia com essa leviandade não conheceu o Zeca, o meu colega de primária que corria mais que um galgo... corrido à pedrada. O Zeca tinha aquela tez cenoura, incisivos centrais desalinhados e um porte tão escanifrado que tinha de cuidar-se em dias de ventania. Mas a ligeireza do Zeca proporcionava-lhe super-poderes nos sprints de Educação Física. Ganhava as corridas naquele estilo a cambalear. Em cada passada larga flectia os abdominais, ao mesmo tempo que balançava a queixada para impulsionar a carcaça franzina . Era uma técnica inestética, que se confundia com esgar de sofrimento pré-comatoso, mas extramente eficaz. Mas o Zeca não era temido apenas nas corridas. Em momentos mais quentes de altercação, o Zeca virava-nos os costados e infligia um coice de mula que carimbava muita nódoa negra nas tenras pernas dos colegas de turma. Na altura, ganhei mais medalhas que a comitiva olímpica portuguesa em Pequim

quinta-feira, agosto 21

Let's party

Ao fundo, um senhor alto, com uma imponência física que minguava na imensidão da sala vazia. Esperava pelos convidados, já com indisfarçável impaciência. Mas o salão ornamentado com motivos policromáticos continuava vazio, aglutinando os permanentes suspiros do senhor alto. Entretanto, abocanhava canapés. Já nem era apetite, era tique nervoso. Mastigava tanto quanto transpirava. O senhor alto olhou outra vez para o relógio. Os ponteiros rodopiavam, mas ninguem aparecia. Mais canapés e mais lamentos em surdina. Um festim tão solene e ainda ninguém para o engalanar. Mas acabou-se a angústia. Primeiro chegou a Vanny, irrequieta. Logo a seguir, o Nelsinho, ainda cheio de areia no rabo. Pediram muita desculpa pelo atraso, mas tinham passado primeiro pela Luz para vestir a camisola a preceito. O senhor alto inspirou fundo e abraçou os convivas. Portugal aplaudiu e também se cobriu de verde e vermelho
(Ensaio sobre o desafio lançado por Nuno Fernandes, presidente da Comissão de Atletas, a Laurentino Dias para promover uma festa de campeões logo a seguir aos Jogos Olímpicos de Pequim. São poucos, muito bons e da melhor escola!!)
Adenda: afinal chegou mais um, mas este não foi à festa do senhor alto e deixou-se ficar pela Catedral (não sei é por mais quanto tempo)

quarta-feira, agosto 20

Fleuma olímpica

A Cândida Pinto engana um bocado. Tem aquele nome próprio de ingénua pureza e logo que não se dá por ela... zás, lá está a reporter de guerra em zona de conflito. No meio de bazucas, lança-mísseis, torpedos ou bombas de gás-mostarda, Cândida transmite-nos, com fleuma inabalável, o drama destruidor da avidez humana. Ainda agora continua às portas de Tbilissi aguardando que as chaimites russas entrem pela capital georgiana dentro para esmigalhar tudo o que é edifício público para, assim, fragilizar Mikhail Saakashvili, o presidente que troçou da influência da dupla Medvedev-Putin na zona do Cáucaso. Contam-me que, concluída a cobertura do conflito na Geórgia, Cândida Pinto manter-se-á em ambiente de guerrilha. Assim que regressar a Portugal, prevê fazer dois ou três directos à porta da sede do Comité Olímpico de Portugal

segunda-feira, agosto 18

Ranchosa

Tiffany, anexada no canto superior direito, sempre foi rapariga para outros voos. Largou a ocupação de lojista e apostou em outro ramo laboral. Continuava a ter contacto com clientela, agora num espaço mais amplo e iluminado por um ligeiro lusco-fusco de néon. Foi para lá ver no que dava. Impôs, porém, algumas restrições. Sempre foi, digamos, um misto de selecta com reservada. Não aceitava qualquer gente. Aliás, torcia para que não a elegessem na esmagadora maioria dos dias, só porque não tinha muita paciência. Para os infortunados que se embeiçavam pelo rosto nobre desta rapariga, o aviso prévio: não soprava em cornetas de outrens, porque sempre lhe puxaram os vómitos. Também a incomodava terminologia como "clientes", "rameiras" ou "bordel". Preferia as metáforas... ou os 500 dólares por 20 minutos num jacuzzi, mas sem porcarias. Um dia perdeu a cabeça e acedeu colaborar com uma colega numas intimidades com um senhor. No meio da pândega, mostrou os seios, mas avisou logo o porcalhão que não queria beliscões nem palmadas no rabo. Aguentou-se por lá não chegaram a duas semanas. Fez as malas e voltou para casa. Estava desconfortável com os olhares das colegas. "Sentia que começava a ser uma ameaça para elas", confessou (!?!?!), já a caminho do check-in...
O Bunny Ranch é um programa que tem a sua graça, mas tenho de ligar para a SIC Radical a protestar pelo horários impróprios desta série. Costumam passar aquilo pelas 23:00 e isso não é a hora mais adequada, sobretudo para quem anda quase há duas semanas a levantar-se pelas 08:00 da manhã. Tem noites que me custa segurar a vigília

quarta-feira, agosto 13

MortaDelas

Venho por este meio esclarecer uma significativa parcela do Mundo, ou, por outras palavras, a parte da humanidade que me vai interpelando sempre que envergo a farpela que coloco em anexo. A quem insistentemente me anuncia como "chegou o super-homem", ou, mais possessivamente, "chegou o meu super-homem", ou ainda, em jeito de socorro, "chegou o super-homem que me veio salvar", obrigo-me a elucidar que não se trata do super-homem, mas do Super Mortadela!! Um pouco mais de argúcia, meninas

segunda-feira, agosto 11

Óleo Gula

Tenho uma banha estranha,
que se me entranha
pela cavidade axilar.
Ainda ninguem desdenha
porque a minha banha
tem a t'shirt a tapar.
Raio da gula desmedida,
de voracidade incontida,
que me insufla a pança,
que já balança, só de eu andar.

sexta-feira, agosto 8

Tales from the heart

Deixaste a porta entreaberta para me facilitar a investida. Esperavas na sala com indiferença glaciar. Olhaste-me de soslaio e ordenaste que me despisse, num trato frio e autoritário. Tirei a roupa. Disseste para me acercar de ti para que pudesses passar-me o gel pelo corpo. Levantaste-te e, num esgar de sorriso quase imperceptível, murmuraste-me "hoje sou eu que faço a cama". Sacaste do rolo de papel asséptico, estendeste-o pela marquesa e mandaste-me deitar. Fiquei todo besuntado, mas o electrocardiograma correu bem

quarta-feira, agosto 6

Rabo de gralha

- Criança: O pai vai onde?
- Maria: Ao cu do conde!
- Criança: Eu também quero ir!!

...

Minha querida filha. Passas ainda por tenra idade e não dominarás, por certo, a peculiar gíria desta expressão idiomática. Como não escolheste os genes que te materializam a existência, também não terás a culpa da irresponsabilidade de quem carrega o ventre que te gerou. Ter-se-á esquecido a tua mãe que reproduzes com uma exactidão assustadora tudo o que de mais estranho te faísca nos tímpanos. Esqueceu-se também a leviana da tua mãe que tens passado estes dias com a tua avó
...
Para memória futura, quero que saibas que no circulo de relacionamentos do teu querido pai não figura ninguem titulado e muito menos quem confie as costas para despudores dessa estirpe. E se queres ir, desemerda-te sozinha

segunda-feira, agosto 4

Roda bota fora

- Legenda:
Foto à esquerda: há adultos que querem ser crianças
Foto à direita: há crianças que não querem os adultos