sexta-feira, novembro 28

Comichão ardente, proposta indecente

O que é pior que a sarna que nos força a obstinada coceira e que nos pela até à carne viva, seguida da dor aflitiva de se salgar a ferida, a ponto de espumarmos de sofrimento e desfalecermos em agonia? Pior, muito pior, é ouvir da minha filha a intolerável proposta: "Pai, hoje vamos ser do Sporting a fingir?"

quarta-feira, novembro 26

A nossa selecção

Leandra Freitas e Ana Cachola foram medalhadas num recente Europeu de sub-23 e logo foram apelidadas de "novas meninas bonitas do judo português". Pudera!!

segunda-feira, novembro 24

Ambigo

Não nos chegasse o drama de sermos estripados logo à saída do ventre materno, somos forçados a passar pelo mesmo processo aquando da nossa emancipação. Romper com o cordão umbilical deixa marcas relacionais. Renegamos à cobertura paternal para nos fazermos à vida. O ensejo de independência polvilha de drama os progenitores, que nos querem à guarda até aos primeiros cabelos brancos (nossos). Karolina Kurkova é o símbolo revolucionário da libertação dos descendentes. Esta modelo espadaúda cria graves problemas a operadores de imagem e técnicos de photoshop sempre que pousa em vestes curtas, já que lhe falta um umbigo. O exemplo de um esventramento suave e uma emancipação feliz, como testemunha o semblante de sorriso rasgado

quinta-feira, novembro 20

A prison nada

Querida Jodi, julgava-te acabada, mas pareces uma gata: tens vidas que nunca mais acabam, uns olhos cristalinos e uma ferocidade assanhada. Aplicaram-te as mais bárbaras sevícias. Deram-te a cheirar o que não querias, mas subsististe estóica, depois de te pregares (literalmente) ao carcereiro. Dizem que és um bocado velhaca, mas olvidam que passaste uma infância obscura, que te dá, nos tempos de hoje, esse feitio de ruindade. Por mim, não me importa nada. És muito mais gira que a insossa da médica alcoólica e não dás abébias a florzinhas de estufa de olho mortiço que se fingem actores (podias é dispensar os xoxos ao calvo geronte)

terça-feira, novembro 18

Banco alimentar

À mão que te dá o pão não podes dizer que não!
(registo bolorento da minha precoce filantropia)

sexta-feira, novembro 14

Economia (de pau) parada

A União dos 27 que nos privou dos jaquinzinhos, o único peixe que comia sem cuspir espinhas, patrocina colegiados de eurocratas especialistas em estética da fruta. Os peritos montam a trincheira à porta das grandes superfícies agrícolas munidos de régua, esquadro e transferidor para avaliar que frutas, vegetais e leguminosas aparentam a dignidade e formosura adequadas às virtuosas prateleiras dos supermercados. A mesma União dos 27 que quase nos saqueava os galheteiros dos restórans acaba de abdicar do preciosismo estético em nome da crise económica. A partir do próximo Verão (que as emendas tomam a cadência de caracol) podemos novamente aviar o cabaz das compras com pêssegos de bunda ou pepinos em curvatura, conforme o gosto da procura

quarta-feira, novembro 12

Café creme

Sou da geração miúda das graúdas. Cresci a apreciar gente grande, mulher espadaúda. Nos primórdios da TSF, suspirava pelas informações de trânsito da Laurinda Alves, a amazona que avaliava a correnteza das vias a galope numa Cagiva 125 cc. Casou-se depois com um indefectível portista e perdeu a mística. Lembro-me também de espreitar para a Leonor Pinhão durante os pequenos-almoços na Cister, ali para a Escola Politécnica. Tinha, e ainda tem, olhos cavados, silhueta esguia e militância da enormidade benfiquista. Naquela pastelaria, recatava-se na mesa mais obscura. Não me lembro de quantos chávenas de café sorvia, mas ainda hoje tenho presente que tragava fiadas de cigarros com incontinente alarvidade. Depois aliava a ligeireza assertiva do folhear de A Bola, ainda no formato gigante, com a sisudez carregada de quem consumia com redobrado zelo cada palavra imprimida no papel ralo. A Leonor lia e não me passava cartão. Eu nutria-me com bolas de berlim, empurradas a galão (claro e morno)

terça-feira, novembro 11

Salmo de insanidade

"Eu não leio guiões. Os guiões é que me lêem a mim", Downey Jr, como Kirk Lazarus. Alguém perdeu a mão ao argumento e rebentou a cabeça a revolver as entranhas da guerra (tudo literalmente)

sexta-feira, novembro 7

Variedades

Não quero desculpabilizar as minhas opções em idade mais precoce, mas toda a gente carrega com um gomo mais apodrecido no conjunto do fruto que lhe germinou em pessoa. Tive gostos que, nos dias de hoje, e numa primeira leitura, podem sugerir náuseas ou, em casos mais extremos, cólicas renais. Nos dias de hoje, por exemplo, qualquer editora doméstica consegue compilar, com a celeridade e eficiência do digital, uma colectânea de artistas. Nos meus tempos de menino, o vinil e a fita magnética delimitavam-nos os apetites do consumo musical. Eu, por exemplo, para ter num só produto estilos tão díspares como Tom Jones, Tina Turner, Tony de Matos ou Alfredo Marceneiro tive de adquirir a cassete do Fernando Pereira, comprada ali numa discoteca entalada entre a taberna das limonadas e o tribunal da Boa Hora. Na altura, o referido artista ainda ostentava um bigode que lhe conferia uma insuspeita masculinidade, pelo que adquiri descomprometidamente a obra, sem antecipar que ainda hoje me ruboriza a face de tanta vergonha

quarta-feira, novembro 5

segunda-feira, novembro 3

Glock de teatro

"Figlio de una puttanona. Fare un culo. Farti fottere. Stronzo!!"