Nestes dias de ócio, refugiei-me numa bolorenta publicação de há 12 anos. Saiu em fascículos coleccionáveis e versava sobre as 100 figuras (na altura) do nosso futebol, numa escrita quase desusada. Há pouco mais de uma década, seduzia-se o leitor com parábolas que invertiam o sujeito com o complemento, desterrando-se o verbo em lugar incerto. Começava-se pelo fim, sem localizar a acção. Assim se pensava adensar mistérios em coisa nenhuma. Resultado: uma publicação de rendilhados arcaicos. Ou, como se escrevia há 12 anos, de arcaicos rendilhados se constituia aquela publicação. Também há 12 anos, confundia-se comoção com, por exemplo, acne. Pedro Yazalde, pai de um goleador que passou pelo Sporting, informou o filho que tinha de largar os estudos para colaborar no sustento da família, isto "com as lágrimas borbulhando-lhe pelas faces". Na mesma publicação, o dramático luto de António Oliveira, que, num jogo europeu, materializou com três golos a raiva pela morte do pai. A notícia fora dada pelo presidente do Sporting na altura, João Rocha, "com as lágrimas borbulhando na face". À falta de melhor imagem para o autor da publicação, toda a gente, naquela altura, borbulhava quando emocionada. Nem toda. Rui Jordão, antigo avançado de Benfica e Sporting, produziu, por sua vez, uma amálgama pastosa quando constatou que não servia para o atletismo. No último sprint de uma corrida em Bengela, o menino Jordão rasgou uma coxa. Ainda dolorido, prostrou-se no chão, segundo o narrador, "chorando, com a cinza da pista amalgamando-se nas lágrimas, que se confundiam com as bagas de suor" (se chacota daí vier, só um insensível - você - pode ser)
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