terça-feira, outubro 31

Eu fui à praça...

... comprei uma batata
... outra batata

... uma cenoura

... uma banana

... dei a volta à praça e ficou uma caraça

Versão acumulada, depois do épá-não-lhe-dês-o-bloco-de-postites-prá-mão

segunda-feira, outubro 30

South park

Li aqui e fui . E não ficou nada mal...

Fezes bem Gertrudes

Madrugar nas competências laborais oferece algumas vantagens. Podemos, por exemplo, fazer sala no quarto de banho sem o risco de sermos importunados por vítimas de desarranjos intestinais. Podemos ainda gabarmo-nos de sentar o rabo num tampo criteriosamente higienizado pela Dona Gertrudes, nome indissociável ao farto buço que transporta. A zelosa empregada é cumpridora e goza de uma perspicácia assustadora. Ainda hoje me comovi quando me preparava para o alívio. Correu de pronto para o balneário, atravessou-se-me no caminho e desencravou a porta da cunha que a escancarava aos curiosos. Encorajou-me depois nos meus desígnios e assegurou que tinha caminho livre para me aliviar. "Esteja à vontade", sossegou a empregada, antecipando as minhas necessidades de recato. Retenho porém, duas questões pertinentes: sou assim tão transparente ou tenho cara de cagão?

sábado, outubro 28

Clisterina

Na sequência de um memorável tratado sobre o drama das comichões no esfíncter, lembrei-me da Orangina. Aos mais jovens, é possível que pouco ou nada lhes diga. Para os que já andam nos 30's, devem provavelmente recordar-se daquela intragável aguadilha fermentada com cascas de laranja. Tratava-se do pior sumo da história mas o melhor exemplo de merchandising bem sucedido. Em plena agonia de mais uma golada neste xarope, acariciávamos as roliças formas da sumptuosa garrafa e lembravamo-nos das coxas robustas da vizinha do 3º Dto. A silhueta afeminada da Coca Cola monopolizava as prateleiras, mas a Orangina propunha a uma imensa minoria evocações de camponesas nutridas, em alternativa aos cabides das passerelles. Depois havia a redundante melodia do anúncio, que nos embalava os apetites para a vitamina c. Agora, como já tive oportunidade de elucidar quem de direito, não era muito aconselhável para aliviar as micoses anais

sexta-feira, outubro 27

Faça-a você mesmo

Vá juntando as peças nos momentos de ócio e espere pelo resultado final. Só lhe falta falar, mas ainda ninguem se queixou

quinta-feira, outubro 26

Enlacado

Há odores, aromas, cheiros e pivetes que são indissociáveis ao encadeamento dos episódios de vida. O desuso de alguns perfumes, aniquilados pelas sucessivas metamorfoses da modernidade, conduz-nos erradamente à ideia que deixaram de existir. Isto a propósito de um determinado caixão desenterrado das entranhas do subsolo. Imaginava eu que a laca era recurso de estética capilar caído em desuso. Estúpido luto que idealizei, pois esse gás engomado teima em imiscuir-se vigorosamente nos hábitos quotidianos. Ontem madruguei e fui forçado a recorrer à (d)eficiente rede pública de transportes. Coloquei-me disciplinadamente na bicha (fila é dito de maricons) e, segundos volvidos, infiltrou-se-me olfacto dentro um fedor que julgava extinto. Era laca Senhor... melhor, era a laca da senhora. Da crina alçada da cinquentenária emanava aquela mistura de óleo de fritos com o também obsoleto Old Spice. Uma orgia de revivalismo, que me recuperou a infância da laca da avó e a adolescência da camioneta prá escola
...
PS: Em epígrafe, dois brasileiros (Daniel Carvalho e Vagner Love) que, assim que me recorde, têm em comum o facto de serem as duas maiores estrelas do CSKA de Moscovo. Como abnegados profissionais, explanaram todas as suas potencialidades no balneário de Alvalade e encavaram o Sporting na final da Taça UEFA

quarta-feira, outubro 25

'Bora(t) lá ver isso

He is coming in a moment very quick. Infelizmente não tão depressa quanto o desejável, pois as salas de cinema portuguesas só acolherão a pérola no finalzinho de Novembro. Mas acho que vale a pena penar. Borat Sagdiyev é um jornalista do Cazaquistão, ficcionado por um homem que faz mais pela humanidade que 400 inúteis reuniões do Conselho de Segurança da ONU. Sacha Baron Cohen tem o dom de desmascarar senadores e congressistas norte-americanos à mais pura natureza da imbecilidade. Entrevistas aparentemente absurdas conseguem extrair desses senhores todo o potencial-avestruz, aqueles animais espadaúdos famosos por terem olhos com diâmetro superior ao cérebro anexo. As brincadeiras de Sacha desencadearam um conflito diplomático só ofuscado pelos testes nucleares do travesso Kim Jong-il. Curiosamente, as queixinhas tiveram origem nos mal agradecidos, e sensíveis, cazaques, um povo que tem no ciclismo, ou doping (que é praticamente a mesma coisa) a sua única referência internacional: Alexandre Vinokourov. Borat tem mais pedalada e o filme que aí vem promete incontidas urinadelas

terça-feira, outubro 24

Glorioso rebento meu!


O hino na voz cristalina da minha criação
Créditos à prima engenheira, que tem uns dedinhos mágicos.

Galo!

Mas porque é que as morenas só aparecem quando estou a tomar café com a loura??

domingo, outubro 22

Pudinzinho Royal

Foram uns bons três anos de namoro. Cheguei a ponderar desembolsar uns valentes 600 euros para adquirir o único exemplar disponível no mercado (legal!). Umas chapadas da Maria recolocaram-me no mundo terreno e desencorajei-me. Pelo mesmo valor, adquiri umas três estatuetas da mesma saga, mas junto de um fornecedor mais popularucho. Sim... podemos ter umas abertas de lucidez, mas o transe fica para sempre. Faltava-me o Royal Guard. Um tipo caladinho, mas com presença. Populou o meu imaginário infantil, a par do mais mediático Darth Vader. Três anos volvidos, a sangrar de carências, uma outra instituição de caridade lembrou-se de distribuir um muito mais giro e a preço acessível. Selei hoje o negócio, mas só aterra nas prateleiras de casa lá para Dezembro. E o mais engraçado é que a transacção foi coberta pelo cartão de crédito da Maria. O amor é lindo!

sábado, outubro 21

McRita

Imaginem que me dava um apetite radical e me enforcava... perdão, casava. Resmas de convidados. Gente e salivar pela boda e os morfes. Chegados ao copo de água, McMenus para toda a gente. Adivinho que pelintra ou unha de fome seriam as considerações mais aveludadas e publicáveis neste espaço sério. Agora, só porque a Rita teve a mesma ideia, a opinião pública foi lesta em aclamar a originalidade. No lugar da vichisoise, um punhado de folhas de alface com duas nutritivas rodelas de tomate. Quem esperava pelo tornedó com molho de café, teria, em alternativa, de alambazar-se com um Chicken Mythic. Os miudos, por sua vez, enfardavam-se com McMarins. E como a Rita tem mãos mais largas que as mamocas, nutria as pulsões consumistas da pequenada com uma bolsinha da feiticeira Witch. Para rematar a refeição, um mega-adocicado Sunday para carburar a tripa. Seria bonita a festa, não fosse o Zé Gouveia prevaricar. A poucos dias do calórico enlace, soube-se que o empresário tinha eleito uma senhora para mãe do seu próximo filho. O problema é que a dita não respondia pelo apelido Egídio. Anulou-se tudo e o Burger King ficou a rir-se que nem um perdido. Gorou-se uma ideia peregrina, mas salvou-se uma casa

sexta-feira, outubro 20

Terapia da fala

Cedo erguer não dá muita saúde, mas proporciona saber. Pela manhã, tive conhecimento que, depois da menopausa, a globalizada comunidade internacional celebra o Dia da Gaguez. Há gente que tropeça nas palavras. Outros que se embaraçam no discurso. Também há quem só debite a trautear o Avô Cantigas. É justo homenagea-los a todos. É também de inteira justiça render estima a quem nos reajusta a oralidade. Rita Escalhão é uma terapeuta letrada na matéria. Aprendemos a ser coloquiais na prosa. A disciplinar a lingua. No lugar de conjugações fétidas e enroladas, a Rita conduz-nos aos termos floreados. Os conhecimentos da Rita transformam motores gripados em infalíveis turbinas de linguajar. Devo, porém, denunciar o efeito inverso (ou perverso) da Rita. Imagino regressões patológicas entre mestres de prelecção. Bichas de perder vista a embicar ao consultório da especialista. Casos clínicos de prognóstico reservado a exigir anos de terapia. Te-te-tem va-va... aii vaga prá sema-ma-mana dótôra?

A graça da pomba

Provavelmente... nem sei

quinta-feira, outubro 19

ReferÉden


E você... já votou?
Face às dificuldades dos milhares de voyeurs deste espaço sensaborão, junto a legenda do cartaz de luxo. Eis a identificação dos monumentos a sufrágio mundial:
- 1ª linha da grelha: Liviana Aerosmith Taylor, Nicola Cruises Kidman, Angelina Lábios Jolis, Salma Frida Hayek, Jeninha Lopes da Silva, Noémia Alta-voltagem Watts e Jenny Garner Alias Affleck.
- 2ª linha da grelha: Denísia Hot Lips Richards, Maria Sharoposa, Letícia Nada Casta, Lena Cristina, Escarlate Joana, Carre Gada de Porrada Otiste e Amyga Lina.
- 3ª linha da grelha: Jessica Bieleza, Catalina Back-in-Saldos, Jeninha The Hulk Connely, Fé nas Colinas, Cátia Titânica Winslet, Natália Toma Lá Embrulha e um Mulherão que não consigo saber o nome

quarta-feira, outubro 18

Menotrauma

Força-nos o calendário a assinalar hoje o Dia Mundial da Menopausa. Parece-me mal. Os finados do prazo de validade da mulher mereciam mais discrição. O drama feminino não é efeméride para celebrações. São momentos trágicos, que desencadeiam aflição e agonia. Não é bonito vermos algumas desesperadas esparramar-se em tábuas de engomar. Há vincos que não se alisam com ferros a vapor. Mas esta tragédia não é exclusiva das fêmeas. Nós, os homens, temos palavra activa nessa delicada metamorfose. Uma palavra de indignação, de incredulidade. Um basta.! Um chega (para lá)! Resmas de musas que outrora nos aveludavam as hormonas a cair no descrédito. Abatidas como tordos pelos tiros certeiros do desgaste irreversível. Arre, c'um camano! Qualquer dia esgotam-se-me as referências. Também tu Helga?!

Gepeta!

Provavelmente... enganou-se

terça-feira, outubro 17

Rosa fardada

Volto à Rosa para tributar a justa homenagem a uma mulher dos sete ofícios. Antes de dar baile ao Jorge Gabriel num Quem Quer Ser Milionário com o banco Millenium BCP, a Bela platinada mostrou atributos na série de referência Major Alvega. Fraulein Schmidt era um género de Helga, mas com ligas em rendas de Bilros. Tal como a pernalonga do Allo Allo, que se enrolava amiúde com Herr Otto Flick, também a Rosa desfardava a líbido em açoites de amor. Alvega Carriço estava, porém, do outro lado da barricada. Um amor impossível em cenário de comics, que apurou o arcaboiço sofredor de uma mulher que agora abraça tristes, pobres de espírito e incontinentes renais

Ai as minhas cruzes

Provavelmente a mais penosa canção de sempre

segunda-feira, outubro 16

Estado lacrimal

Um homem também chora, mas um homem não é lamechas. Homem que é homem, verte lágrimas por causas nobres. Por outras palavras, não esbanja fluídos por menoridades. Macho não faz birras. Não uiva a cobiçar o que não tem. Contenta-se orgulhosamente com os argumentos próprios. Macho comove-se, é verdade. Mas com um golo de bandeira do Nuno Gomes ou uma chapelada do Miccoli. Desprevenido, ainda pode estremecer com o Adágio de Albinoni, que corre traiçoeiro em elevador de edifício público. Mas homem tem por hábito esgueirar-se habilidosamente dessas ratoeiras. Os prantos são para os incautos. Impreparados. Inábeis. Pobres coitados, que se desregulam com melodramas da estirpe de uma Lista de Schindler. Águas gastas, quando se apela à moderação dos recursos naturais. Há excepções, obviamente. Quando, por exemplo, a segunda-feira se esgota ao ritmo de uma ampulheta de areia granulosa. Quando os minutos galgam a passadas agonizantes de caracol . Logo depois de uma semaninha de lazer, concluída com "sesimbrada" de marisco e branco fresquinho. Só me apetece ir chorar para o programa da Rosa Bela

sexta-feira, outubro 13

Insónias

Está de regresso um dos maiores ícones da televisão portuguesa. Rosa Bela é a cara e o coração de um programa que salvou centenas de vidas. Muita gente tristonha, prestes a cortar os pulsos, aportou no afecto de uma loura de olhos azuis. Dramas como hemorroidal, unhas encravadas ou borbulhas com pus ganharam dimensão mediática no consultório de Rosa Bela, uma mulher que nunca dorme e que conforta quem lhe partilha a vigilia. Inesgotáveis abraços e carinhos hertzianos proporcionam conforto a quem sofre com as maleitas do quotidiano. O ouvido atento de uma mulher oferece conforto público para português ver, sofrer e renascer, na esperança da reencarnação de Nossa Senhora, em versão filantropa de choradinho televisivo. As madrugadas reconquistaram a luz entre o breu da indiferença, no regionalista Porto Canal

quinta-feira, outubro 12

Duplos jackpots

Enquadramento prévio: mais um spot promocional da TVI sobre a loteria que me transformará num excêntrico, megalómano e metrosexual, que relegará David Beckham à categoria dos embustes. Com as pequenas iris translúcidas, já dilatadas ao ponto extremo, a pequena vocifera:
- Bolinhasssee! Bolinhassee!
- Não Cice, não. É só na sexta-feira...
Descontente com a justificação plausível de um pai que cuida por elucidar, a criança contra-ataca, já com laivos de ruborescimento pelas maças do rosto:
- Bo-li-nhassseeee... Boolinhasssseee!
Temendo pela transe galopante do rebento, tento amainar a expectativa, que se gorará em segundos com o término do pequeno aperitivo ao milionário concurso:
- Oh Cice... não é agora... é só na sexta-feira.
Descortino um ligeiro tremelicar do lábio inferior, que denuncia a frustração de um prazer insaciado, que se manifestará dentro de uns anos entre as múltiplas chatices da adolescência.
Conclusões posteriores, após aturada ponderação sobre a almofada: será ansiedade pelos 80 milhões? Será expectativa pelo lúdico saltitar dos números? Ou trata-se de apurado olho clínico para estética siliconada? Ficam as questões no ar para debate futuro

quarta-feira, outubro 11

Múltiplos de pares

Há números que conquistam. Arrebatam. Estremecem. Há números redondos. Outros mais bicudos. Um ou outro nasce do engenho artífice de especuladores. Excedem-se na estética. Há aqueles que não combinam. Os ímpares. Prefiro-os pares. Aos pares. Números nutridos, que aleitam as contas dárias. Ou os que se contam pelos dedos. Duas mãos cheias deles. Há números que capitalizam. Que se perdem na contabilidade. Outros há que resvalam. Abandalham com o tempo. Desgastam-se. Desvalorizam. Fosse eu mais materialista, perdia-me nas contas... de peito cheio

terça-feira, outubro 10

Nutícias

O governo norte-coreano testou a capacidade nuclear e abalou-me os sentidos com esses olhos cristalinos... a comunidade internacional estremeceu-me a postura com a lânguida pronúncia das palavras... a Casa Branca ameaça com sanções e promete-me que te despojas da roupa para exibires os contornos dos ombros... face à intransigência de Pyongyang, o conselho de segurança frágil essa que se desmorona quando me fitas... o Mundo reage incrédulo à ousadia desses lábios carnudos que tentam o mais resistente... Os Estados Unidos exigem o fim ingrato que me aguarda sem a tua presença... teme-se que a Coreia do Sul esteja prestes a accionar nova explosão de amor... Mas ainda há quem ligue aos telejornais?

domingo, outubro 8

Vitórias morais, derrotas carnais

Uma ganha tudo. A outra não ganha nada. A Vanessa dá abadas às adversárias. A Tatiana é vergada pela incapacidade de se superar. A tuga corre que nem uma lebre. A francesa arrasta-se nos courts. A lingrinhas Fernandes parece uma lontra as esgueirar-se na correnteza dos rios. A elegante Golovin tropeça nos atacadores. A nossa é sempre a primeira a pedalar. A deles deixa as bolas passar. A brava lusitana é uma campeã, mas deixa muito a desejar. A infeliz gaulesa perde sempre, mas deixa muitos a deseja-la

sábado, outubro 7

Requiem

Provavelmente, o hambúrguer com a melhor voz de sempre

Ma Ke Bono Sono

Israel Kamakawiwo'ole foi um dos mais sublimes escultores hawaianos. Natural de Kaimuki, nos arredores de Waikiki, este robusto senhor foi apurando uma voz capaz de polir a sonoridade mais brega. Entre o cardápio do cantor do cavaquinho figura uma das mais belas metamorfoses musicais, que a Galp agora recuperou. O pindérico Somewhere Over the Rainbow, na voz da não menos miserável Judy Garland, transfigurou-se numa ode sonora que embala e vicia. Tudo culpa desta existência. Teve vida curta . Sufocou aos 38 anos, esmagado pelos quase 350 kg e por uma obesidade literalmente mórbida. Rai's parta o badocha, que agora a musiquinha não me sai da cabeça

sexta-feira, outubro 6

Power Rangers

Fala-se que o júnior Bush anda com intentos de plagiar os israelitas e também ele edificar uma barreira granjola de betão. Neste caso, para estancar os compulsivos instintos turísticos dos mexicanos. Parece que os latinos gostam tanto de socializar com os gringos de gema que entopem os serviços de imigração. Pior que isso, açambarcam os postos de trabalho mais apetecidos. Áreas como a restauração, imobiliário ou escravatura são monopilizados pelos hispânicos e o Bush quer acabar com essa pouca vergonha. Dulce Pinzon, uma provocadora fotógrafa mexicana, decidiu homenagear os aventureiros conterrâneos. Esses patifes que ousam desviar avultados rendimentos para o país centro-americano, descapitalizando a grande potência. Pelo atrevimento, chamou-lhes heróis e equipou-os a condizer. Do trolha Hulk Cardozo, ao estafeta Superman Reyes, ficou o tributo da artista, que não deve ficar lá muito bem na fotografia da Casa Branca

quinta-feira, outubro 5

Menino guerreiro

Provavelmente, o político mais kitsch de sempre...


quarta-feira, outubro 4

Spigcial One

Ainda não sei o que pense. Estou assim no limbo da auto-estima. Hoje disseram-me que era inconfundível. Que me distinguem a milhas. Que me identificam numa manifestação da CGTP às portas de São Bento. Apontam-me o dedo, com convicção irrepreensível, numa praia da Caparica durante um domingo de Agosto. Ou seja, denuncio-me mesmo no lusco-fusco de um Pavilhão Atlântico a abarrotar com um espectáculo do Tony Carreira. Sou um Wally em ponto grande, que toda a gente sabe onde está. Sou inconfundível, sim, mas as razões ficam congeladas num encriptado ponto de interrogação. Tenho medo de decifra-lo, não fosse hoje o dia do animal

terça-feira, outubro 3

Micro machines

Virei adepto das novas viaturas da PSP. Creio que têm impacto. Espalham deferência entre os transeuntes. Infundem respeito na escolta às ruas da capital. Confio mesmo que se está a lançar uma fatal machadada na criminalidade. Mais ninguém passará vermelhos alaranjados, tal o pavor reverente que incutem. Observei, porém, que os agentes se passeiam aos pares, aconchegadinhos na caixa de fósforos. Só temo pela saúde das autoridades, face ao exíguo espaço em que se movimentam. Imagino uma trepidante perseguição numa rua de paralelos, alí para os lados da cidade velha. Imagino um dos polícias com a tripa às voltas da feijoada da véspera. Imagino uma valente flatulência a eclodir no diminuto habitáculo. Náuseas a rodos. Tonturas, dificuldades de focalização. Meliantes a escaparem-se dos dedos como areia fina. São estéticos os bólides. Desmistificam a sisuda autoridade. Proporcionam-nos outra graça ao dia. Pena que sejam pouco arejados

segunda-feira, outubro 2

Valsa da emancipação

O novo milénio começa a conjugar com sucesso as primeiras letras do alfabeto. Sem os incisivos centrais, adquiridos pela fada dos dentes a troco de um punhado de euros, o novo milénio já ganha laivos de independência. Por cá, parece que as fêmeas se dignaram a acompanhar os revolucionários tempos de modernidade. Arrumaram o pudor na prateleira dos detergentes corrosivos e desnudaram-se de preconceitos. Sob o falso pretexto da tonificação dos alongamentos, cursam aulas do varão. Enquanto as novatas investem nos primeiros movimentos do círculo, sob a próxima supervisão da monitora, as da classe seguinte já exercitam o drop sem assistência. Por sua vez, as finalistas acertam zelosamente o relógio, com requintados movimentos do pernil. Por uns 200 euros, levam a casa o falo de alumínio, para a prática diária... mas não montam