Vamos a contas. Duas semanas! O mesmo que 15 dias, que, por sua vez, totalizam qualquer coisa como 360 horas. Contando que cada hora dobra aos 60 minutos, então estamo-nos a referir à monstruosidade de 21.600 minutos. Dieta rigorosa, abstémia, insossa. Sem bolinhos, docinhos, salgadinhos. Nem assados, guisados, gratinados ou refogados. Uma bucha para aquietar o apetite e água mineral, bem gelada já agora, para me passar o calor
sexta-feira, junho 29
Regime de caserna
Vamos a contas. Duas semanas! O mesmo que 15 dias, que, por sua vez, totalizam qualquer coisa como 360 horas. Contando que cada hora dobra aos 60 minutos, então estamo-nos a referir à monstruosidade de 21.600 minutos. Dieta rigorosa, abstémia, insossa. Sem bolinhos, docinhos, salgadinhos. Nem assados, guisados, gratinados ou refogados. Uma bucha para aquietar o apetite e água mineral, bem gelada já agora, para me passar o calor
quinta-feira, junho 28
Piu piu
quarta-feira, junho 27
Arcanjo estivador
Tenho gratas memórias do falecido Manuel Bento. Pequenino, franzino, de farta caracoleta e bigode farfalhudo. Além de dono da baliza do Benfica, Bento era também a cópia fiel do meu anjo da guarda. Aparecia com frequência nas minhas sestas. Não dizia nada, mas ficava ali a olhar-me. No dia em que contei isto à minha mãe, o sangue drenou-se-lhe para as extremidades capilares e a mulher ficou mais pálida que a cal das fachadas alentejanas. A partir daí, foi muito complicado convence-la a ficar sozinha em casa comigo. Quando me assaltavam as saudades do anjo Bento, vou chamar-lhe assim, corria para o quadro pregado na sala da minha tia e lá o reencontrava na cabina do barco, como podem testemunhar pelo vulto que nitidamente dali transparece. Há dois séculos atrás, o Bento exercia no ramo da estiva madeireira. Foi esmagado por um tronco centenário e encontrou a paz de finados acompanhando-me nos repousos diários. Com o amadurecimento da minha vivência, o Bento foi-se desleixando, até ao dia em que não mais deu sinal, para descanso da minha mãe, que ainda hoje me pergunta, a gaguejar, se voltei a ver o fantasmaterça-feira, junho 26
Fada Medina
A propósito da Bolsa da Sensualidade, desafio lançado pelo diário Correio da Manhã, lembrei-me dos parcos recursos para elaboração de fantasias na minha pré-adolescencia. Nestes tempos modernos, é oferecido um cabaz de referências nacionais com reservas suficientes para sustentar o imaginário até à reforma. Na penúria da década de 80, a cobiça tinha fronteiras delimitadas e apontava quasi exclusivamente às locutoras de continuidade. Entre a parca oferta, ficou-me a Fátima Medina. Em suma, a minha sexualidade foi edificada sobre a versão de uma mulher de bolso. Neste particular, tratava-se de uma criatura de pulso e tornozelo maciços, ligeiro prognatismo no maxilar superior, que lhe conferia um sorriso perene, olho cristalino, pálpebra gorda e rosto ovular. Semanalmente, ia circulando pelas publicações de referência: as resistentes Nova Gente e Maria e a já defunta Crónica Feminina. Preparava-nos monocordicamente para mais uma sessão de Bota Botilde, um novo episódio do Blue Thunder, o helicóptero indestrutível, ou a fornada de animação checa servida pelo Vasco Granja. Como a líbido borbulhava pustulenta, condescendia-se e a Fátima desembaraçava o novelo do imaginário pueril. A Ana Lourenço chegou tarde demais... seria homem de gosto mais apurado, mas não podia chamar-me Borgessegunda-feira, junho 25
Bi winners
sexta-feira, junho 22
quinta-feira, junho 21
Ricos rápido
Passa agora na TV um anúncio filantropo... daqueles com as letrinhas subnutridas em roda-pé... de uma instituição bancária que se presta a ceder um acréscimo de três por cento aos nossos rendimentos mensais. Para isso... fiando que os extras miudinhos correm à velocidade da luz exclusivamente para cadenciar o spot televisivo... teremos apenas que transferir a mesada do patronato para a conta de uma qualquer dependência do referido grupo de benfeitores. Com a taxa de inflação fixada no presente em 2,4 por cento, oferecem-nos um poder de compra para lá das cinco décimas percentuais... acreditando que não existem taxas de esforço camufladas nas letrinhas muito pequeninas... o que nos permitirá estoirar em inutilidades o sobejante proporcionado por esta campanha de benemerência. Muito obrigado Jorge... a quem acusam invejosamente de furtar a um amigo o comando técnico do colosso Futebol Clube de Arouca... por ofereceres a cara pela graciosa iniciativa desses desinteressados banqueiros, que nos proporcionarão o deleite das carteiras e mais-valias nas angustiantes rotinas de endividamento. Fica, porém, o agradecimento condicionado ao revisionamento das imagens em super-slow motion!
quarta-feira, junho 20
terça-feira, junho 19
Mershare mal
segunda-feira, junho 18
Jack
sábado, junho 16
sexta-feira, junho 15
O axioma
Perfazem para lá de duas décadas sobre os meus tempos de menino e das saudosas tertúlias sobre a concepção e os seus rituais adjacentes. Amparado por um manual iniciante ao conhecimento do corpo humano, insistia junto dos comparsas que os ditos seriam fruto de semente depositada por um humanóide, de falo em rosca, numa botija almofadada na zona abdominal da humanóida. As pedagógicas gravuras da obra que me secundava o conhecimento careciam, porem, de fundamento para os que insistiam no teorema do cuspo. Na ideia deles, a origem da existência derivava dos beijos mais acalorados. Seria o suco das glândulas salivares, impregnado nas férteis papilas gostativas, a desencadear a complexa multiplicação celular, depois de devidamente deglutido pelas senhoras suas mães. Constatei de pronto que o referido axioma, assente em parâmetros delirantes, denunciava a incapacidade do colegiado em imaginar os progenitores a fazer aquilo. Ficam, até hoje, dois lamentos. O primeiro pela intransigência do pessoal em teimar com o fertilizante oral. O segundo, por nunca ter conhecido a cegonha que me trouxe de Paris
quinta-feira, junho 14
Palmaminhas
segunda-feira, junho 11
sexta-feira, junho 8
quinta-feira, junho 7
quarta-feira, junho 6
Porta de saída
Era a manhã a grelar. A vigília coxeava com o sono à perna. Nem o café duplo chegou para arrebitar uma face comprimida com as três horas de repouso. Mesmo assim, avancei, que outra coisa não se esperava. Estava por ali, a aguardar vez, quando ela me fitou as olheiras, que reforçavam uma palidez nauseada dos excessos de véspera. Olhou-me de novo, sem que me encontrasse o fito de volta. Conseguiu deter-me o rosto na sua fronte e tratou de verbalizar o ensejo que a movia:- Montre moi vottre taille!
Os requisitos modestos no domínio do idioma, agravaram-me as dúvidas e só consegui ripostar isto:
- Pardon?!
Iniciou um manejo que saciava o que o olho nu não alcançava. Voltou a insistir:
- Je veux la voir!
Incrédulo com o desembaraço, perguntei de novo, só para me certificar:
- Ici?
Nem duas milésimas de segundo volvidas, saiu-lhe num sagaz imperativo:
- Maintenant!!
Solavancou-me para as suas proximidades e deteve-se no meu pertence:
- Cette boucle de ceinture...
Ah, isso, folgar a fivela? Anui e esperei pelo que dava...
- ... l'enléve des pantalons
De calças nas mãos, passei o cinto pela detector e ala para o avião de regresso
sexta-feira, junho 1
Prison fake
O restóran vai encerrar por uns dias. Estou a caminho de Bruxelas. Caso não regresse, estarei a cumprir pena máxima por furto descarado das estatuetas do Tintin, da Milu, do Capitão Haddock, do Dupond, do Dupont, do Gaston Lagaffe, do Spirou, do Fantásio, do Marsupilami, do Asterix, do Obelix, do Ideafix, do Panoramix, do Abracourcix, da Falbala, do Lucky Luke, do Jolly Jumper, do Rantamplan, do Joe Dalton, do Jack Dalton, do William Dalton e do Averell Dalton. Espero que, pelo menos, sirvam cerveja à indiscrição no cárcere
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