A propósito da Bolsa da Sensualidade, desafio lançado pelo diário Correio da Manhã, lembrei-me dos parcos recursos para elaboração de fantasias na minha pré-adolescencia. Nestes tempos modernos, é oferecido um cabaz de referências nacionais com reservas suficientes para sustentar o imaginário até à reforma. Na penúria da década de 80, a cobiça tinha fronteiras delimitadas e apontava quasi exclusivamente às locutoras de continuidade. Entre a parca oferta, ficou-me a Fátima Medina. Em suma, a minha sexualidade foi edificada sobre a versão de uma mulher de bolso. Neste particular, tratava-se de uma criatura de pulso e tornozelo maciços, ligeiro prognatismo no maxilar superior, que lhe conferia um sorriso perene, olho cristalino, pálpebra gorda e rosto ovular. Semanalmente, ia circulando pelas publicações de referência: as resistentes Nova Gente e Maria e a já defunta Crónica Feminina. Preparava-nos monocordicamente para mais uma sessão de Bota Botilde, um novo episódio do Blue Thunder, o helicóptero indestrutível, ou a fornada de animação checa servida pelo Vasco Granja. Como a líbido borbulhava pustulenta, condescendia-se e a Fátima desembaraçava o novelo do imaginário pueril. A Ana Lourenço chegou tarde demais... seria homem de gosto mais apurado, mas não podia chamar-me Borges
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2 comentários:
A memória que tu tens, credo :S
meu amigo, continuo a achar que deveria de apostar mais no plantel masculino! naquela de agradar às suas leitoras, tá a ver???
é complicado, né? compreendo!
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