segunda-feira, janeiro 21

Sensibilidade vesicular

Ponto prévio: sou apartidário. Depositei apenas três vezes um boletim de voto nas urnas. A primeira, quando atingi a maioridade e para ajudar a eleger Edite Estrela à Câmara Municipal de Sintra. Borbulhava-me descontroladamente a testosterona e, em reconhecimento às decotadas saias da filóloga aquando dos ensinamentos televisivos sobre a língua pátria, ofereci-lhe a minha cruz. Somando os dois referendos ao aborto, fica concluído o meu contributo cívico. Tenho o âmago diluído em convicções mais à esquerda, mas teimo em desinteressar-me por toda a classe. Identifico o mesmo móbil de procedimentos para quem se diz dextro, meio-termo ou canhoto de ideiais políticos. Como insiste a vox populi, são todos da mesma lavra. Serve o (já) extenso preâmbulo para deixar o meu repúdio biliar ao aproveitamento político da morte de uma criança de dois meses na Anadia, associando-a ao encerramento de um serviço de urgências. Com uma objectividade assombrosa, o pai do bebé louvou a celeridade e o cuidado do INEM e até admitiu que o filho já pudesse estar morto ainda antes do pedido de socorro. Mas não. A facção oposicionista aprontou-se a associar a morte ao encerramento das urgências, capitalizando a indignação popular para aviar nova traulitada ao governo socialista. Sócrates reagiu e chamou-lhe "politiquice, demagogia e maledicência". Foi (muito) meigo. A mim bastar-me-ia chamar-lhe inadjectivável, tanto quanto a dolorosa tragédia de perder um filho. Sugiro que todos os partidos da oposição reclamem o direito potestativo para agendar compulsivamente uma audiência parlamentar com o ministro da saúde e vergasta-lo publicamente pela sua incapacidade do divino milagre

4 comentários:

Avelã disse...

este assunto já foi quase motivo de um motim lá em casa, tenho um pai que se alimenta por todo o mal que o ESTADO faz, e se não coisa assim tao mal feita, ele depressa transforma o acontecimento num horror, "isto tá tudo fodido, não sei o que vai ser de nós". não interessa o pai vir dizer que o bebé já estava morto, é calá-lo pá que está a lixar o drama, o horror... tuguisses

Vivian disse...

Pá, eu devo ser a única que concordo com o Ministro.... Um dia destes faço um post sobre o assunto... Desculpa-me discordar :/

Avelã disse...

florença, não não és a unica

coccinella disse...

Eu sei que entrava muda e saía calada e que não estive assim tanto tempo nas Lúcias quanto isso, mas acho que sempre frisei bem que é "EM Anadia" e não "NA Anadia"! :)