quarta-feira, fevereiro 28

Finados do Cristo

Depois de ter sido amarrado, vilipendiado, cuspido, pontapeado, esbofeteado, esmurrado, apedrejado, açoitado, chicoteado, golpeado, esfaqueado, escalpelizado, salgado, martelado e esventrado, Jesus quinou! A descoberta pertence a James Cameron, o mesmo que afogou a escaldante relação entre Leonardo Di Caprio e Kate Winslet. 1974 anos depois da carnificina, o realizador de cinema fez a vez da comunidade científica e aniquilou o certificado de ressurreição do nazareno. Um documentário provará que Cristo subumbiu às violentas sevícias de judeus e romanos e já não teve estaleca para se reerguer do túmulo. Cameron mostrará também que a sepultura estava soterrada junto da de Maria Madalena, meretriz para a Igreja mas alegada esposa do pobre crucificado. Para apimentar ainda mais o documentário, um terceiro féretro denunciará que Cristo perfilhou um jovem vigoroso, arrasando com o casto e assexuado perfil do auto-denominado filho do Criador. Depois de há uns anos um grupo de artistas ter desmistificado o angélico rosto de Jesus, recriando uma fronha que mais se assemelha a um líder tribal do paleolítico, querem agora fazer-nos crer que Cristo, além de fedorento malparecido, não ressuscitou. Qualquer dia ainda dizem que, afinal, Jesus era herdeiro do proprietário da mais abastada peixaria de Belém e zombam das potencialidades fertilizadoras da luz do infinito, muito elogiadas na altura por Maria junto do crédulo José

terça-feira, fevereiro 27

Calotes aos magotes

- Então, qual é o quadro clínico?
- Grave! Múltiplas fracturas e em estado pré-comatoso...
- Ora bolas, estamos tramados!
- Estamos?!?!
- Claro. Assim quem é que lhe arranca o código multibanco?
A propósito das recentes queixas do Ministério da Saúde sobre o "grau de incobrança muito grande" das novas taxas moderadoras nos hospitais, com especial incidência nos serviços de urgência

segunda-feira, fevereiro 26

Helenannibal

Tal como previa a bolsa de apostas, esta senhora arrebatou o óscar de melhor actriz. Mas poucos sabem que, muito antes de se ter clonado da verdadeira Elizabete, a Helena granjeou fama no meio cinematográfico por ter protagonizado uma das mais escaldantes cenas da prática copular. O reinado de Margareth Thatcher estava em período de finados, junto com o seu molde capilar enlacado. Antecipando a queda da líder conservadora com sapatos ortopédicos, Peter Greenway decidiu criar, em finais de 90, uma divertida alegoria ao Thacherismo, e a brincadeira resultou numa obra-prima de requintado humor negro: O Cozinheiro, o Ladrão, a Mulher e o seu Amante. À Helena calhou o papel de esposa do bandido, proprietário de um suspeito restaurante, meio de práticas canibais correntes. Farta dos bárbaros hábitos do alarve esposo, Helena compensava-se afectivamente incestuando com um culto livreiro. Ficou então registada em pelicula uma original rapidinha sob a aduela de uma porta. Nunca experimentei, mas garantem-me que é figura de complexa exequibilidade, só ao alcance de ginastas de alta competição. Não bastasse o mérito contorcionista, Helen Mirren brinda-nos com um género de segundo folego para os mais corajosos: depois da traulitada com o amante, ainda tem pulmão, ou estômago, para comer o marido

domingo, fevereiro 25

Vision Break

Robin Tunney, a mais sardenta namorada de um condenado à morte

sábado, fevereiro 24

Fogamacho

Uma reputação a transbordar fronteiras
Gotinha de água retirada do oceano de coisas malucas (e não só)

sexta-feira, fevereiro 23

Pudicidade

Limpa-me as ventas. Abre-me as vistas. Apressa-te, que se aproximam montanhas de cegueira. Adoça-me a viseira para que o caminho se amacie curto, assim como o coeiro, de carne viva, que te abraça, lasciva, o porte nadegueiro. Massaja até ao translúcido, que preciso fitar. Denuncia-me o rubor da máscara e o ensejo de trilhar. Calcorrear. Palmilhar os veios sinuosos das curvas até ao êxito da meta do teu âmago. Serei campeão, pela destreza da tua mão

quinta-feira, fevereiro 22

Mal-que-viste

Tenho dificuldade em eleger o filme da minha vida. Tenho mais certezas se desafiado a juntar um punhado deles. Assim num repente, lembro-me de um que, há uma dezena de anos, me deixou, como se costuma dizer, piurso. Saí de lá com ganas de pontapear as cadeiras e apedrejar o projectista, tal a profunda indignação que me motivou. Fruto de algumas limitações de Michelangelo Antonioni, já um octogenário na altura, Além das Nuvens (Al di là delle nuvole no original) foi realizado em parceria com Wim Wenders e contou com um elenco de semi-luxo. Tinha o agora holywoodesco Jean Reno, o robocop Peter Weller, a veterana modelo dos perfumes e cremes de beleza Ines Sastre, o insuspeito Marcello Mastroianni, a belíssima Sophie Marceau e o camaleónico John Malkovich, entre outros mais desconhecidos. Tratava de uma série de histórias passionais calcorreadas por Ferrara, Portofino, Aix en Provence e Paris. No meu entendimento, a pelicula debita duas cenas marcantes. Na primeira, Ines Sastre é induzida por um lorpa, Kim Rossi Stuart no original, num arrastado jogo de preliminares até ao pré-orgasmo da pobrezinha. Quando a rapariga se manifestava prontinha para a cópula, o veadão baza e deixa a Ines em estado pre-apopléctico. A segunda - e essa sim, deixou-me de rastos - o feioso careca Malkovich, sob o pretexto de personificar um realizador de cinema em busca de novos argumentos, seduz a Sophie. Pior que isso, leva-a para a cama. E ainda mais impensável: depois da cambalhota, larga-a nos lençóis e vai à sua vida. O drama da situação chega aos píncaros quando vemos a Sophie escangalhar o orgulho e a arrastar-se, com as mamocas ao léu, para recuperar a atenção do calvo malparecido. Escreveu a crítica que, afinal, Sophie ficcionou, de forma irrepreensível, a motivação daquela obra: a caminhada íntima pela verdadeira imagem dessa absoluta e misteriosa realidade que ninguem jamais vislumbrará. Por outras palavras, a personagem de Sophie não via um boi e confundia o Johnny com um rapaz mais bem apessoado. Ou como confidenciaria o Malkovich em roda de amigos: a Sofia marchou!

quarta-feira, fevereiro 21

Danoninho

Pelas vistas, não basta coragem para ser um líder com patente

terça-feira, fevereiro 20

Teoria da consumidade

Quando reenquadramos a nossa vida como fieis depositários de determinado género de oferendas, poderemos dramaticamente constatar que encerrámos um ciclo. Recordando uma (quem sabe) premonitória observação de um amigo, dobrei a idade de Jesus. A partir daqui é o abismo. Um Judas Iscariote denuncia-me à fiscalização alfandegária e estou duas horas a encher galhetas por rebentar o plafond em material importado. Um pouco como Mel Gibson relatou cruamente na sua espécie-de-roteiro-pelas-mais apuradas-técnicas-da-degola chamado Paixão de Cristo. A questão é muito simples: o que fazer quando já não temos prateleiras que acautelem um ou outro ensejo que possa ainda germinar entre os caprichos sorvedores de estatuetas? Aquele enorme Silver Surfer açambarcou-me os centímetros quadrados que sobejavam. E como explicar a um agente da autoridade mais patriota, que possa eventualmente interpelar-me, que no próximo Verão ostentarei orgulhosamente uma camisola made in states, ornada na fábrica de talentos Marvel? E já agora, quem responsabiliza os imprudentes que largaram umas dezenas de notas, junto com dois cheques FNAC? É por isso que odeio aniversários. Convidam-nos a uma pornográfica alarvidade e a complexos exercícios aritméticos. Já não cabe nada lá em casa, mas arranja-se... fórmula

segunda-feira, fevereiro 19

33!

Parabéns para mim
Nesta data festiva
Muitas leviandades
Muitos anos de lascívia
Hoje é dia de festa
e o Fogacho não é tolo
Deixem o rapaz sossegado
para curtir a menina do bolo

sábado, fevereiro 17

sexta-feira, fevereiro 16

Em que é que ficamos?

À vossa esquerda o vencedor da votação recentemente promovida pelo Inimigo Público, em parceria com a SIC Notícias, para o português que mais contribuiu para a ruina/estado a que chegou o país, ao cabo de uma luta renhida com Mário Soares. À vossa direita o campeão do mega-inquérito da RTP sobre o maior dos Grandes Portugueses. O resultado foi alegadamente protelado por mais dez semanas. Conta-se agora que, face aos números finais da votação, a televisão pública desabafou um comprometido estamos fo#&%os e decidiu arrastar a iniciativa com debates individuais sobre os dez finalistas. Tem então a RTP pouco mais de dois meses para explicar aos portugueses que, afinal, o António parecia mais alto porque usava umas botinas ortopédicas com tacão reforçado

quinta-feira, fevereiro 15

Imorçalidade

Morre-se gira ou gira-se até morrer?
Karen Allen, a mais sardenta das Indiana girls

quarta-feira, fevereiro 14

Quanto vale a identidade?

Conheço certa e determinada pessoa cuja orientação sexual custa precisamente 20 cêntimos. Aviso já que nas partilhas não ficas com nenhuma das minhas Star Wars statues. Ah, e podes também despedir-te dos DVD's. Pronto, ficas com a Companhia dos Lobos, que aquilo já não mete cagufas nenhumas

Amor tutano para todo o ano

Amor é cegares-me a existência com a poeira do passado
Amor é abraçares-me com a força granítica do desejo
Amor, meu amor, enlaça-me na imensidão do abraço

Chega-te, toma-me no peito e projecta-me o infinito
Ai amor, deita-me sobre pedras e fossiliza-me em braços
Escuta, amor, quão indiscreta pode ser a imortalidade
Um afago que o vento denuncia, tramando o recato milenar
Ai amor, estamos fundidos... esqueci-me de vestir cuecas
...
Além das cuecas, os pombinhos também se olvidaram de arrumar o falo de marfim

terça-feira, fevereiro 13

Richter

À Maria não quis dizer nada
mas tenho de arranjar uma criada
Fina no trato, jeitosa no prato
Na cozinha, diletante, mas que aperte no picante
Só que o traje a preceito, não deve dar muito jeito
Ela que se ajeite com os folhos e capriche nos molhos
Mas ainda vem gelado? Ai que estou tramado
Depois do branco degostar-se fresquinho
Ao estômago pede-se mais um jeitinho
Antes, uma pausa para a reza e logo se avia a sobremesa
Eu que nem sou devoto
No outro dia até houve terramoto

segunda-feira, fevereiro 12

Sim!

Oui, Si, Ja, да, ναι

domingo, fevereiro 11

Fuuii fuuiiuuuu

Desculpa lá Cocci, mas não resisto ao plágio: Diane Lane, a mailinda da semana (bem hajas querida NS... só tu consegues revigorar o moribundo Diário de Notícias)

sábado, fevereiro 10

sexta-feira, fevereiro 9

Óbito

Há coisas que só merecem ser recordadas pelos melhores motivos. Anna Nicole Smith, 1967-2007. Paz à sua alma

Abort(r)etas

Com a campanha do referendo a esgotar os últimos argumentos, fui acompanhando atentamente a porradaria verbal entre as duas facções. Entre o fogo cruzado de bazucas e misseis nucleares, fui apanhado de ricochete por uma ou duas pérolas que deviam alindar os futuros manuais escolares, sobretudo nas três escolas do país onde se lecciona Educação Sexual. No meio deste bombardeamento, retive um alerta que, apesar de aparentemente espatafúrdio, faz todo o sentido. Alertou o Não que o aborto, se despenalizado, pode banalizar-se como consequência de alguns ajustes estéticos para mulheres menos abonadas e com parcos recursos financeiros. Denunciam alguns nãos que, sem capital para cobrir uma intervenção plástica que lhes insufle os peitorais rasos, algumas raparigas apressam-se a engravidar. E porquê? Na esperança de acicatar as adormecidas glandulas mamárias. Com o processo hormonal em curso, e ganhas duas copas no soutien, as outrora tu-sais-ao-pai enchem os novos peitos de coragem e alinham no desarranjo. No vão de escada de uns bairros sociais lá para as Mercês, a enfermeira Guilhermina, técnica de saúde já aposentada, lanceta o feijão com a precisão cirúrgica de uma septuagenária et voila, ganham todos. A rapariga um par de mamas sem adicção de químicos, silicones ou latexes. A dona Guilhermina uns trocos que fazem muita falta ao governo da casa. E finalmente, o boletim de voto uma cruz no Sim à despenalização

quinta-feira, fevereiro 8

Salmonelas fashion

Batuque, tum-tum. Batuque-tum-pa-tum-tim-pum
- Refugiado: Eh pá, eh pá, não sabes o que aconteceu...
- Fogacho: O que foi? O que foi?
- Refugiado: Roubaram os cortinados ao P.!
- Fogacho: O quê?!? O casaco de estampados do Foz Côa?
- Refugiado: Sim pá. Arrumou-o num canto da pista e alguém o gamou
- Fogacho: Graças a Deus!
- Refugiado: Não digas isso pá. O homem está inconsolável
- Fogacho: Deixa lá... assim deixamos de fingir que não estamos com ele
Batuque, tum-tum. Batuque-tum-patum-tum-tum
- Fogacho: Olha lá... e tu... já reparaste na tua figura? Estás todo cuspido
- Refugiado: Cuspido? Onde?
- Fogacho: Na cara pá
- Refugiado: Aaahh... deve ter sido a gaja que conheci há bocado
- Fogacho: O quê... lambeu-te?
- Refugiado: Não pá... são perdigotos!
- Fogacho: Perdigotos?!?!
- Refugiado: Sim pá... faltavam-lhe uns dentes

in Memórias de um Reveillon

quarta-feira, fevereiro 7

O Luís Pereira pousa

Apesar de ser este espaço criação, e recriação, hormonal masculina, a audiência, pelo menos a visível e participativa, é esmagadoramente feminina, facto objectivo que preocupa a Maria e causa algum embaraço ao autor que vos escreve. À minha estranheza posso acrescentar melindre, pois alguns dos que me acompanham têm formalizado, amiúde, queixas sobre as temáticas que vou escolhendo. Num exercício de lógica, e sem grandes aparatos, é natural que, sendo eu um homem straight, manifeste interesse saudavelmente patológico no sexo oposto (leia-se mulherio). Em consequência, julgo não ser estranho que os temas que verse incidam, velada ou declaradamente, sobre seios, ombros, nádegas coxas ou o seu conjunto. Neste complexo puzzle, posso apresentar alguns números, que até considero bem abaixo das expectativas dos mais preconceituosos. Por exemplo: nos últimos 30 postes, apenas 15 (exactamente 50 por cento) abordam, superficialmente ou com mais acuidade, a temática feminina. Desses 15, só oito, ou 26,6 por cento dos últimos 30, chafurdam com entusiasmo sobre as valias das Evas. Entre os já citados oito, apenas, e devo sublinhar, a-p-e-n-a-s cinco (16,6 por cento do grupo das últimas 30 postadas) são ilustrados com imagens de nudez ou semi-nudez. Tudo isto resulta, na minha leitura, em abordagem indesmentivelmente light e contraria as referências, muitas vezes recorrentes, sobre uma líbido irrequieta e descontrolada da minha parte. Mas para que não fiquem a queixar-se, ou que me acusem de parcialidade crónica, deixo aqui o boneco do desaparecido Luís. Deliciem-se e não precisam agradecer

terça-feira, fevereiro 6

Mãe, pai, avó, tio e borbulhas da afilhada

Partilho hoje convosco um dos mitos urbanos que circulou, por meados de 90, neste estabelecimento. A célebre história da menina do roupão azul. Aconselho a leitura durante a pausa para o café, que isto é extenso. Então cá vai. Era uma vez uma menina, uma menina muito simpática. Namorava um cabo do exército e tinha um grande apreço pelos laços familiares. Numa das primeiras vezes que colocou à prova os ensinamentos universitários num estágio não remunerado, a menina conheceu um menino maroto. Certo dia, um grupo de marotos e marotas desafiou a menina simpática para uma saída nocturna. A menina simpática ficou muito contente e nervosa. Alindou-se como para uma romaria domingueira à paróquia da freguesia e ala para a discoteca. Como tinha o hábito de se levantar com as galinhas, a menina simpática dançou só um pedacinho e foi descansar as pernas junto do menino maroto, que já aviava o quinto vodka. Conversaram até lhes dar um ratinho no estômago. Foram então a um tasco afagar a barriga com um caldo verde e uma bucha com chouriço. A menina simpática aproveitou para partilhar com o menino maroto dois álbuns de fotografias que guardava religiosamente na valise. O menino teve então oportunidade de conhecer a mãe, o pai, a avó materna recentemente enviuvada, o tio que recuperava de uma dupla fractura do perónio e a afilhada que padecia há uns meses de uma borbulhagem estranha, cujo diagnóstico aguardava por novas análises. O menino começou a ficar com muito soninho. Preparava-se para lhe indicar a praça de táxis mais próxima quando a menina lhe pede um favor. Como a casa do menino era mesmo ali ao lado e já passavam das 5:00 da madrugada, a menina solicitou-lhe uma incursão à sua banheira antes de rumar directamente para o gracioso estágio. Entre uns bocejos para camuflar uns quasi mudos ai a p#&a da minha vida, o menino acede. Em casa, a menina pergunta-lhe onde se poderia despir. O menino - que acabara de conhecer a mãe, o pai, a avó materna recentemente enviuvada, o tio que recuperava de uma dupla fractura do perónio e a afilhada que padecia de uma borbulhagem estranha, cujo diagnóstico aguardava por novas análises - indicou-lhe o quarto, junto com o roupão de turco azul. Dois minutos volvidos, a menina simpática saiu do quarto e dirigiu-se ao WC, enquanto o menino acompanhava com férrea atenção o programa das insónias da Rosa Bela. Não passaram outros cinco minutos quando a menina simpática saiu do balneário, ainda com a melena a gotejar sobre o pavimento do menino. Simpaticamente, aliás como fora sempre o seu timbre, a menina pede mais um favor: uns jeans que fizessem a vez da saia canelada, para que ficasse mais ajustada à informalidade do espaço do estágio. O menino - que acabara de conhecer a mãe, o pai, a avó materna recentemente enviuvada, o tio que recuperava de uma dupla fractura do perónio e a afilhada que padecia de uma borbulhagem estranha, cujo diagnóstico aguardava por novas análises, voltou a vociferar em surdina qualquer coisa como aiii, só a mim f#dass& e lá desenrascou umas calças. Mais uns três minutos, a menina voltou à sala com a camisa folhada da festa e a nadar numas calças com um gancho até aos joelhos. O menino elogiou o stylish vanguard, indicou-lhe a porta de saída, desejando-lhe hipocritamente um magnífico dia de labuta com todos os outros meninos e meninas. Deitou-se, mas, trinta minutos depois de enroladas insónias com a mãe, o pai, a avó materna recentemente enviuvada, o tio que recuperava de uma dupla fractura do perónio e a afilhada que padecia de uma borbulhagem estranha, cujo diagnóstico aguardava por novas análises, desistiu do sono e foi-se inundar em cafeína. Mal sabia o menino que a épica aventura no seu próprio domicilio havia-se espalhado, de forma pandémica, pelos viciados corredores de maldizentes. Deu-lhe muito mais trabalho desmistificar o preconceito da alegada homosexualidade que recuperar as calças emprestadas, devolvidas dois dias depois, engomadas e dobradas em saco opaco. A menina cansara-se, entretanto, de trabalhar de borla e investiu na hospedagem na Expo'98. Pôde finalmente comprar umas calças. Quanto ao menino, desconfia-se, ainda hoje, de dois ou três palermas, mas todas as buscas na procura da sua verdadeira identidade resultaram infrutíferas

segunda-feira, fevereiro 5

Vai maitê despir-te

Serve também a agenda cultural para cavar o fosso que nos separa de quase todo o resto da Europa. Enquanto o emancipado Harry Potter promete exibir a varinha no West End de Londres, lá para meados do mês, nós, por cá, temos de nos contentar com um espécie de canapé mal amanhado, sem posterior repasto. Passo a explicar. Se em Inglaterra as pitas prometem lotar as bancadas para ver Daniel Radcliffe copular com um cavalo branco, por que raio não temos nós o direito à pelota da Maitê Proença em palco? Para que serve o aperitivo de acolhermos a protagonista do mais belo ensaio fotográfico da Playboy brasileira se a dita não tira a roupa no Achadas e Perdidas? Está bem que é uma comédia, mas na sinopse garante-se que, ao longo dos estimados 80 minutos de peça, as duas actrizes (junta-se uma tal de Claudia Borioni) trocam 35 (?!?) vezes de figurino, mas nos bastidores. Nesta maratona, o mais que prometem é "muita beleza para encher os olhos do espectador". Referência vaga que deixa, mesmo assim, algumas dúvidas no ar. Na incerteza, o melhor é ir ver. Entre as 23 personagens representadas pela dupla, só por manifesto azar não aparece uma galdéria mais encalorada

sábado, fevereiro 3

Foste Leonel!

Nunca percebi o que ela viu nele. Ela esteve três anos para não perceber

sexta-feira, fevereiro 2

Amalia Grandota

Pouco depois das 08:00. Trrriiiiiim, trrriiiiiimm. Toca o telefone. É o doido da almofada para acertar as agulhas de mais um dia de penosa labuta:
- Bom dia
- Bom dia pá. Já aí estás?
- Já pá... a miúda hoje madrugou e não me deixou dormir
- Pois... é chato. Também tivemos umas noites manhosas há uns tempos
- Bem... adiante. Tu já viste naquele jornal...
- Já, já... e pensei logo em ti!!
- Ai foi? Porra, mas aquilo é verdade?
- Julgo que sim. Tem todo o aspecto ser de origem
- Eh pá... mas que grandes...
- Sim, sim, sim... e redondinhas
- E o...
- Ui Jesus, nem me digas
- Reparaste na aranha?
- No ombro? Até me passo
- E eu até nem gosto da Amalia
- Pois... mas esta pia mais fino
- Bem... então se houver mais alguma coisa vamos mantendo contacto
- Ok, combinado. Então até já
- Até já
Clic. Clic
Chama-se a isto concertação de estratégias para trabalho de equipa. A entidade patronal agradece

quinta-feira, fevereiro 1

Iva panela

Deve a TVI reclamar, com toda a justiça, parte do subsídio estatal destinado ao serviço público de televisão. Numa destas tardes, confrontei-me acidentalmente com um programa que faz mais pela iliteracia que uma década de duvidosos portugais nos corações. Por módicos 60 cêntimos, o telespectador é convidado a telefonar para Queluz de Baixo para um desafio de intrincada complexidade. Mais que os 2.500 euros, a coragem do telespectador, que arrisca uma humilhação pública se falhar o desafio, é premiada com uma dose adicional de competências lexicais. Com uma ajuda muito discreta da Iva Pamela, foi entregue a um dos últimos concorrentes do programa um encriptado desafio de incomensuráveis índices de exigência. Entre um interminável leque de alternativas - sempre são cinco vogais e 21 consoantes - o telespectador ainda vacilou. Face à tremideira na outra ponta da linha, Iva prosseguiu nas dicas que já havia lançado umas centenas de vezes. Internet, software, bytes, etc, etc. Após nova hesitação, o concorrente arriscou o "A" no lugar do tracinho e levou 500 contos pra casa. Ser burro dá um bocado de trabalho, mas vale pelos trocos para o mealheiro