quarta-feira, janeiro 10

Elefantétrico

Um destes dias fui à FNAC para mais uma penosa sessão do olha-que-prateleiras-tão-arrumadinhas-e-cheias-de-bens-de-consumo-apelativos. Para não sofrer sozinho e garantir um ombro que me sustesse as lágrimas da privação, levei a minha filha. Escolha desacertada, pela vergonha que passei. Entendeu o rebento que tínhamos de saltitar entre as gigantescas circunferências amarelas coladas sobre pavimento. Caso calcasse a sola na alcatifa, terreno minado no entendimento dela, soltava um berro estridente para satisfação lúdica das centenas de presentes no mesmo estabelecimento. Prevaricasse ou não na espalhafatosa caminhada sobre as bolas amarelas, a discrição não era propriamente característica do espectáculo que oferecíamos aos outros consumidores. Senti-me um elefante a saltitar entre nenufares, para gáudio particular da minha filha, que se ria com uma alarvidade sádica que me destroçou o coração. Só me passaram as vontades de lhe esganar o tenro pescocinho quando, com inesperado desembaraço, se dirigiu à secção de música francófona e começou a folhear os CD's da France Gall e do Gilbert Becaud. Tenho uma fila torcida e de ouvido empoeirado
Et le voilà parti sur ses petites jambes
Sur des routes trop grandes, bien trop grandes pour lui.
Et le voilà grandi, il a les joues qui piquent,
Il fume de la musique et part pour New Delhi.
Gilbert Becaud, A chaque enfant qui nait

2 comentários:

Anónimo disse...

Pareces a aquele lagarto gila!
é só baba!!!!!
T.L.

Carla disse...

bem, ja tive cena idêntica c a minha sobrinha...
mas cmg era mais lady esbelta de nenufar em nenufar...

tu, claro, sr. espaçoso .. já n se pode dizer o mm!

(sou tão engracadinha eheheh)