segunda-feira, julho 31

Todos a paroxar

Diz o calendário que hoje, finados de Julho, se celebra o Dia Internacional do Orgasmo. Fui apanhado de surpresa. Desconhecia a efeméride, mas aplaudo, desde já, a iniciativa. O orgasmo também merece ser comemorado. Acho que celebrar o orgasmo é muito melhor que conhecer, por exemplo, a sua definição técnica. Ora, atentemos os ensinamentos do compadrio de letrados que escrevinhou o dicionário da lingua portuguesa. Esclarece a obra que o orgasmo é o fenómeno fisiológico que se manifesta por uma turgescência de certos orgãos. Não se detendo, o mesmo grupo de letrados reforça, para quem ainda não tenha ficado elucidado, que é o ponto mais alto da excitação genésica. Enfim, o paroxismo do prazer sexual.
- Ai, ai... é agora que paroxo
- Oh homem, já?!? Já turgesceste?

Só acho mal uma coisa. Estes dias deviam ter um alcance universal. É pena que a festa de hoje esteja reservada ao género masculino e a um punhado de mulheres. Mas para a metade da humanidade que ficou de fora, não tarda nada o Dia Internacional do Teatro

Paleio de gaja

Há uns tempos, entrei num estabelecimento comercial para adquirir uma maravilhosa estatueta para prenda de aniversário. A figura de Freud com duas mulheres nuas escarrapachadas na testa... Psst, você aí, importa-se de tomar atenção? Como eu ia dizendo, a transacção foi o melhor pretexto para a senhora do balcão descarregar frustrações, debitar teorias feministas e denegrir a espécie masculina. E não sei quê... os homens são todos iguais... só pensam nessas coisas... é só mulheres naquelas cabecinhas... pata-ti, pata-ta... Hei!! Sim, você... está a acompanhar o meu raciocínio?? Enfim, o meu gesto altruísta acabou por merecer o mais veemente repúdio de uma ressabiada. Ai o caraças... mas para onde é que está a olhar?? Adiante. Embrulhou a caixinha contrariada e não parava de lançar considerações menos abonatórias. Mau-maria... Estou aqui a falar para o boneco ou quê?? Já estava doidinho para me ir embora e... Mas afinal quem foi o engraçadinho que se pôs aqui a fantasiar com a Helena???

domingo, julho 30

T5

Ando a reaprender a dedilhar sobre o teclado. Agora tem de ser assim de ladecos. Tenho este mono atrás de mim. Uma iniciativa maternal, que veio acumular-se ao elefantinho com rodas, ao triciclo com pisca-pisca, ao caixote das bolas coloridas e à bola ortopédica, um esférico vermelho de tamanho considerável. A minha sala é um exíguo espaço lúdico onde reina animação de um maralhal de brinquedos. A custo, vê-se televisão e com boa vontade consegue-se usufruir do computador. Mas olhem que vale a pena. Uma senhora trintona aos abracinhos e beijinhos na tenda, a brincar às casinhas. Sempre se ganha uma assoalhada

sábado, julho 29

TCHANK!

Uma manhã igual às outras. Correrias para acertar com os horários. A miuda ainda com a birra do sono. Corre atrás de mim com o frasco do perfume. Pede-me deseducadamente para a pulverizar. Chapeu, casaco, mochila. Tudo em ordem e ala que se faz tarde. Acabadinhos de fechar a porta, o primeiro contra-gosto. Não quer descer as escadas. Já no colo, não desarma. Agora pede as chaves. Irra. Pega lá nas chaves do carro e tá caladinha. A lufa-lufa continua no passo apressado até ao carro. A Maria ficou para trás. Foi levar o lixo ao contentor. Vai de sentar a criança na cadeirinha e fechar a porta. Dois terços de segundo depois: TCHANK! Empaledeci como uma fornada de mortos. O carro trancado. A criança lá dentro. Provavelmente preparada para me rebentar os estofos. Bonito. Vou ter de estilhaçar o vidro. Com este aspecto mal dormido, ainda me confundem com um meliante e encaminham para a choldra. Quando me preparo para enrolar o casaco no cotovelo, um som semelhante ao de três segundos atrás: TCHANK! Tenho uma filha que abre as portas a uma miscelânea de sadismo e inteligência

sexta-feira, julho 28

Virgem de ouvido

O que terão em comum Madalena Esteves, Cláudia Fernandes e Ângela Santos? Andam todas na casa dos 30. Casadas. Filhos. Uns quilos a mais. Empregos entediantes e uma casa nos arrabaldes de Lisboa. São possivelmente felizes dentro dos curtos parâmetros das expectativas. Há duas décadas atrás, o trio trauteava, em voz de falsete, o primeiro grande sucesso de Madonna. Pelos canais de Veneza, a rapariga, agora rija cinquentenária, gabava-se da imaculada pureza da sua virgindade. Madalena, Cláudia e Ângela limitavam-se a uns melos nas traseiras do liceu e guardavam-se para o santo matrimónio. Não perdiam o Music Box e o vídeo da pop-star, que lhes inspirava as luvas de renda e os trajes das sainhas de folhos. Hoje, alimentam o share da TVI e a aposta na ficção nacional

Kathleen Turn Old

O cabelo levado pelo vento
A pele amadurecida com o sol
O abdomen dilatado pelo salgadinho
O nariz esfriado com a intempérie
O sorriso roubado pelo espelho
O tenro que enrijece com os dias
A robustez esmagada pela flacidez
A carne derrotada pelas peles
A canja que amacia os dentes
Os chinelos que acomodam os joanetes
Mais um segundo no drama do presente
E o tempo que não volta para trás
E o cabelo... levado pelo vento

quinta-feira, julho 27

Tareco gay

Temo que a bola de neve tenha começado a rolar e já ninguem a possa deter. A minha filha iniciou o intrincado processo de formação da personalidade. Quer dizer, só agora começamos a ter os primeiros sinais da sua edificação como pessoa. E a coisa está preta. Não antecipo coisa boa. Tão pequenina e já sectária e preconceituosa. A mais recente vítima desta complexa ebulição do ego foi um boneco de pelucia de fino trato. De tez rosa, o pequeno felino optou por um lacinho amarelo para lhe adornar o pescoço. Vê-se que se trata bem. Tem pelagem sedosa, as unhas tratadas e a pele hidratada. Não vejo mal nenhum que se cuide. Mas a criança lá tem as suas ideias e não há quem a demova. Como se chama o gatinho Cice, como? Rabo, gato rabo. Ela lá sabe

quarta-feira, julho 26

Ai Jesus

Tenho de acabar com isto. Ainda vou saber onde os viciados nas slot-machines arranjam aqueles cartões que lhes barram a entrada nos casinos. As autoridades deviam ponderar seriamente na categoria dos agarradinhos da Fnac. Vedavam-me as portas do estabelecimento e já não estourava os euros em coisas parvas. As prateleiras estão todas arrumadinhas e cheinhas de rebuçados de lazer. São centenas de jogos para as mais variadas consolas. Milhares de filmes com preços a todos os gostos. Ecrans plasma a 60.000 euros. Livros ao desbarato. Agora até vendem bonecada. Tenho repúdio de mim próprio. Tenho asco das minhas fraquezas. Tenho vergonha de ter parado na secção dos toys and statues e comprado isto. O Buddy Christ. Ou, em bom português, o Cristo Amigo. Jesus em postura informal e com um cisco no olho. Mexe a cabecinha, como aqueles cães que esticam o pernil nos tabliers traseiros das viaturas de domingo. Ai Jesus, que nunca mais me ajuizo

terça-feira, julho 25

Mata Hari

Todas as guerras são feias e todos os conflitos têm um rosto. Ora, juntando as duas associações, muitos desaguarão nas fronhas da Condoleezza Rice para ilustrar a crise no Médio Oriente. A chefe da diplomacia norte-americana cumpre as duas premissas: tem um rosto e não é das senhoras mais bonitas. Mas a secretária de George W. Bush só carrega a balística dos States para Israel. Quem lança as bombas ao Hezzbolah tem nome de fecho-eclair e uma carinha laroca. Diz-se nos corredores da diplomacia internacional que é Tzipi Livni, hebreia ministra dos negócios estrangeiros, quem manda verdadeiramente no Estado de Israel. Nos mesmos corredores, depois de refeições bem regadas, os mais desbocados denunciam que é Livni a responsável pelo debilitado estado de saúde de Ariel Sharon. O antigo primeiro ministro trocou a cama do quarto pela marquesa do hospital porque não teve pedalada para a antiga agente da Mossad. E nós lá temos que levar com ministras do gabarito estético da Maria de Lurdes Rodrigues

domingo, julho 16

iupii

Vou de férias, iupii. Carradas de malas, iupii. Torrar ao sol, iupii. Os engarrafamentos, iupii. Cocós na areia, iupii. Os castelinhos, iupii. A tara pela água, iupii. As birras, iupii. As fraldinhas, iupii. As feijoadas domingueiras do vizinho, iupii. A cama dura, iupii. A almofada mirrada, iupii. A consola em casa, iupii. A praia de manhãzinha, iuppi. A praia ao finalzinho da tarde, iupii. Madrugar para o pãozinho fresquinho, iupii. Uffas, já cansa antes de descansar

sábado, julho 15

Gentleman's night

Fomos apresentados por um taxista escocês. Depois de atravessarmos o Lago Ness, ao final do dia, desafiou-me a provar the finest scottish malt. Fiquei adepto. Eu, que tolerava a custo whisky. Passei a contar os dias para o regresso a casa e partilhar a nova com os amigos. Conseguia finalmente degostar aguardente de cevada. Neste caso, sem gelo, como aconselhou o escocês de narigão avermelhado. Já em casa, descobri no Chiado uma loja que importava o néctar da Destilaria Macallan. Levei a garrafa para casa do refugiado belga e armamo-nos em finos. Ou melhor, começámos finos e acabámos taberneiros, em concursos de penalties. Entre Rolling Stones e Mariah Carey, aviámos a garrafa até ao fundo da vergonha. Fui carregado em ombros de regresso a casa por um abstémio. O refugiado ficou às portas do WC agarrado à sanita. Estávamos pelas 23:00 e a noitada de copos tinha-se pirado com a lucidez

Musiquinha carapinha

Foi naquela fase da transição da infância para adolescência. A produção hormonal deixa o corpo a debitar testosterona, mas fragiliza o coração. Começamos a ficar sentimentalões e apaixonamo-nos por tudo o que mexe. O single do Leo Sayer acompanhou-me nessa delicada metamorfose. Ouvia pela Sofia, a coxuda fantasiada de patinadora na festa de carnaval. Ouvia pela Marta, que tinha o dobro do meu tamanho. Cheguei a ouvir pela Cristina, a filha de um mecânico da TAP, que aparecia bronzeadíssima depois das férias de Natal. Não vão acreditar, mas também ouvi pela Clélia, com aspecto de refugiada vietnamita. Na semana em que não estava apaixonado, também ouvia, por todas as que foram e as que ainda haviam de vir. Etapa conturbada essa, em que a agulha se desgastava no single de vinyl de minha mãe. When i need you... you, you and you too

sexta-feira, julho 14

Duelo de tetâns

Muitos vocês se recordarão do boom Samantha Fox. Aquela segunda metade da década de 80 ofereceu muita musicalidade kitsch. Ainda hoje me penetencio por ter curtido tanta aberração. Nesses tempos férteis em mau gosto, a Samantha Fox juntava canções obscenas a um decote ordinário, que desencobria um par - dizia-se na altura - sem rival. Quem lançou a atoarda arrependeu-se logo a seguir. Os italianos desmistificaram a criação britânica da página 3 com a Sabrina capa-de-revista. Também cantava mal, mas transpirava muito mais charme que a roliça branquela. E se queriam guerra, a artista transalpina não se furtava a um criterioso estudo comparativo. Mandava uns airbags que reduziam os melões da raposa a insignificantes esferas de rolamentos

Magia macaca

Há imagens que se cravam na memória e não há maneira de desgrudarem. Quem nunca desbastou o nariz, que levante o dedo. Sim, o mesmo que varreu as impurezas da cavidade. Não sei, e acho que nem quero saber, por que razão se depositam nas fossas nasais aqueles pedacinhos repugnantes. Mas a verdade é que temos burriés e não há vivalma que tenha resistido a uma bolinha de muco. Ora a gente trata do recado dos nossos, o problema é os dos outros. Um certo dia, já há uns anos, almoçava com um amigo. Esse amigo parecia que tinha urticária crónica e insistia em esventrar o nariz com o indicador e o mindinho. Concluído o respasto e já no finalzinho do café, o belo do cigarro para assentar os morfes. Entre Benficas, Sportingues, nádegas da empregada e o comi-que-nem-um-alarve, vai de esborratar a beata no cinzeiro. A minha sucumbiu nos despojos, a dele levitou das cinzas e regressou coladinha ao dedo

quinta-feira, julho 13

Tumulto das ideias peregrinas

Se há termo que me arrebita, esse termo é indiscutivelmente brainstorming. Tem uma fonética sinuosa, que seduz de pronto o ouvido. Ainda por cima, consegue encaixar dois termos que acasalam muito a custo (imaginem uma enxurrada de massa encefálica). Depois, tem esse grande mérito de identificar um ritual peculiar. Atafulha-se numa sala uma série de iluminados com crise de brancas e espera-se que a salganhada de alegações e contra-alegações resulte numa ideia peregrina. Dizem que o Viagra nasceu de uma orgia intelectual do género. Cinco funcionárias da limpeza fecharam-se acidentalmente num escritório da empresa que as avençava. Sexta-feira à noite, sem ninguem que as acudisse, passaram o fim-de-semana em prelecções do infeliz quotidiano. Afeiçoaram-se à vassoura e fantasiaram sobre um milagre que oferecesse um colorido azul celeste à insatisfação doméstica. Sem o brainstorming não brotavam estas coisas acidentalmente bonitas

Martini Monster

Volto à rubrica do antes e depois para accionar o alarme aos malefícios do alcool. Muitos se recordarão da menina que se deliciava com um Martini algures na riviera francesa. Partilhava a mesa com um octagenário quando começou a ser galada por um rapaz com fungos nos lábios. A química brotou naquele preciso momento. Incendiada pelos calores, a menina larga o abastado velhote e encaminha-se precipitadamente para o jovem da boca inflamada. Não reparou, porém, que um cordelinho da saia ficara entalado na cadeira e que o traje descosia ao ritmo das passadas, denunciando um rabiosque catita. Anos volvidos, e litradas de martinis emborcados, é naquele estado que se apresenta. Não bastasse o fígado em frangalhos, a micose do mais que tudo alastrou-se pela derme da miúda e transformou a musa num bolo sarnento. Fica o alerta aos adolescentes dos shots em copinhos de plástico

quarta-feira, julho 12

O belo e a monstra

A edição portuguesa da Gentleman's Quarterly (GQ) recuperou o revolucionário conceito televisivo da Vera Roquette e lançou o desafio aos leitores. Adaptou o repto às mais modernas técnicas de marketing e deixou o critério nas mãos do público. Imprimem-se duas capas e lança-se o desafio: Agora Escolha. Na década de 80, a gente ligava o número da RTP e votava num dos dois programas em contenda. Hoje, temos estas modernices. Ainda por cima, trata-se de uma peleja de gigantes. O Special One, aqui em intimidante postura de guerreiro Maori, ou a Musa Galega, preparadinha para se agaixar na retrete. Como o nome da publicação trimestral indica, serão os cavalheiros a escolher. Agora, só uma dúvida me atormenta. Será que os engraçadinhos dos editores andam a esticar a corda? Será que questionam a masculinidade do público alvo? Mas será que alguém ainda tem dúvidas?

Mojito-me todo

Fiz juras de amizade eterna. Dancei a valsa. Ponderei seriamente (se é que naquele estado se podem tomar decisões reflectidas) numa banhoca no Tejo. Perdi a cabeça, a dignidade e o respeito dos mais próximos. Tudo por causa desta droga. Uma mistela cubana de rum, lima e hortelã. Raramente, mas muito raramente, apanhei pielas daquela amplitude dramática. A esta distância, e pelas consequências nefastas ao intelecto, já não me recorda o número de copos que ingeri alarvemente, mas parece-me que andei perto da dezena. Como consta no dialecto da malta das capelinhas, apanhei uma potentíssima cardina. Mais velho e ajuizado, não me meto agora nessas corridas, mas ainda hoje não posso cheirar hortelã. Aliás, não consigo conceber como há rapazolas capazes de improvisar um swing ao som da batida latina, a feder a rum e a diagnosticar: mais um, só mais um, e arrebito

terça-feira, julho 11

Mi-Mi-Micolli

Depois do recente apagão na Cidade Luz, esta é a melhor notícia dos últimos dias. O piccolo calciatore vai voltar e oferecer ao plantel encarnado perfume e instinto goleador. Fartinho dos frangos do Moretto, das caneladas do Petit, dos buracos no relvado do Beto e das charutadas para as nuvens do Nuno Gomes, haja alguem naquela equipa que saiba jogar à bola. Depois de exultar com o quarto posto no Mundial, o futebol português pode gabar-se de ter um campeão do Mundo. Pronto... da escola dos campeões. Grazie vecchia signora

BemConseguidoCarago

O meu tio era como você, um tipo divertido. Para o final já não era... não era lá muito divertido. Perdeu as duas pernas. Teve uma trombose. Tinha poucos motivos para se rir quando estava no piso de baixo e ouvia a mulher lá em cima a dar uma queca com outro homem. Apesar da morfina, conseguia ouvi-la. Acho que morreu de desgosto. Mas, mesmo assim, é um grande dom... fazer os outros rir
...
Mais uma obra-prima dos criadores do The Office, Ricky Gervais e Stephen Merchent. Para quem gosta de rir à séria. Desta vez, com a parceria de algumas mega estrelas de hollywood. Podemos ver uma ninfomaníaca Kate Winslet, um narciso Ben Stiller ou Samuel L. Jackson as himself and like no other. Seis episódios vêm-se de uma penada e a BBC prepara já a segunda série

Sex bomb

Parece que a comunidade científica anda abalada com a notícia de que, afinal, Albert Einstein gostava tanto, ou mais, de mulheres quanto a quântica da física. Resmas e resmas de cartas mostram um cientista mulherengo, machista e perverso. Dizem as más linguas que há por lá algemas e fivelas a dar com um pau... ou com um chicote. O Nobel da Física gostava de dar uns açoites às que comungavam dos mesmos fetiches. Os registos dizem que o pai indesejado da bomba antónia teve duas mulheres na vida. Mileva Maric, uma coleguinha de carteira na universidade, com quem perfilhou dois rebentos. Cansado da roupa amarrotada e das fragilidades da esposa nas lides domésticas, Alberto aviou-a com guia de marcha e juntou-se à prima Elsa Lowenthal, com quem mantinha, até à altura, um relacionamento secreto. Insaciável, foi aliviando as hormonas com a fiel secretária Helen Dukas, que escondia no escritório um uniforme das SS para corresponder aos caprichos sexuais do patrão. As cartas descobertas agora prometem denunciar outras parceiras de cama e de devaneios. As pessoas têm a tendência de estampar os ícones universais com a chancela de impolutos e ficam depois abaladas quando se humanizam os imortais. Einstein gostava da brincadeira. E depois? A Rainha de Inglaterra também faz cocó

segunda-feira, julho 10

Sobe, sobe, balão sobe

Estava aqui a ver o anúncio da nova água das pedras melão-hortelã (edição limitada) e lembrei-me quão discriminadas podem ser as pessoas pela fisionomia. Falo especificamente da mulher e das formas voluptuosas das fêmeas. Nos dias debochados de hoje, é mau ser-se vistosa. Quem é que está interessado num QI a rebentar a escala se, ligeiramente mais abaixo, duas glândulas se prestam a rebentar as costuras? Ora vide este exemplo que desencantei depois de me ter indignado com o anúncio da água das pedras. Esta senhora argentina, Sabrina Sabrok, passou ao lado de uma carreira na investigação da genética molecular. Se atentarem com o devido cuidado, podem descortinar no rosto linhas que denunciam sapiência de uma iluminada. Ora Deus equivocou-se nas proporções. Quando lhe fertilizava a massa cinzenta, deixou cair dois balões da festinha do miúdo Jesus e a rapariga ficou nestes modos. E agora vá lá conseguir convencer os proprietários dos laboratórios que precisa de suporte para o doutoramento. Oh sim, sim... aquecia-te é já esses frascos aqui com a lamparina de Bunsen

Il toro

Não importa sol ou sombra
camarotes ou barreiras
toureamos ombro a ombro
as feras.
Ninguém nos leva ao engano
toureamos mano a mano
só nos podem causar dano espera.
Entram guizos chocas e capotes
e mantilhas pretas
entram espadas chifres e derrotes
e alguns poetas
entram bravos cravos e dichotes
porque tudo o mais são tretas.
Entram vacas depois dos forcados
que não pegam nada.
Soam brados e olés dos nabos
que não pagam nada
e só ficam os peões de brega
cuja profissão não pega.
Com bandarilhas de esperança
afugentamos a fera
estamos na praça da Primavera.
Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazermos da tristeza graça.
Entram velhas doidas e turistas
entram excursões
entram benefícios e cronistas
entram aldrabões
entram marialvas e coristas
entram galifões de crista.
Entram cavaleiros à garupa
do seu heroísmo
entra aquela música maluca
do passodoblismo
entra a aficionada e a caduca
mais o snobismo
e cismo...
Entram empresários moralistas
entram frustrações
entram antiquários e fadistas
e contradições
e entra muito dólar muita gente
que dá lucro as milhões.
E diz o inteligente
que acabaram as canções.

domingo, julho 9

Campeões da cabeça erguida

Vamos cingir-nos à frieza dos números. Sabiam, os meus caros amigos, que o Uruguai já foi campeão do Mundo (1930)? Que a ex-Checoslováquia cheirou de perto a Taça por duas vezes (1934 e 1962)? Que a Hungria (1954) e a Suécia (1958) também figuram na galeria dos quase-campeões? Pois, já foi há uns anitos, é provável que não se lembrem. Mas há mais. Essas grandes potências futebolísticas como a Áustria (1954) ou o Chile ((1962) foram os campeões na final de consolação. Ou seja, fizeram melhor que Portugal na Alemanha. Na história do torneio, ficámos a par de selecções como a da Bélgica (1986), Bulgária (1994) ou... Coreia do Sul (2002). Sim, não se trata de qualquer gralha. Estas selecções fizeram exactamente o mesmo que a nossa constelação de estrelas. Está bem que tivemos azar, que fomos roubados e que o Scolari só reparou que tinha o Nuno Gomes no banco quando o artilheiro do Benfica pediu timidamente para ir fazer xixi ao balneário. Mas mesmo com todos estes factores extra-futebol, vamos ser rapidamente esquecidos nos documentos históricos da FIFA. Mesmo assim, levámos hoje 20.000 taralhocos ao Estádio Nacional. Obviamente a maioria do género feminino, que ainda continua a pensar que Pauleta é uma estaca que se crava no meio da pequena área.

Super Mário

Se apanhar o avião. Se não beber na viagem. Se não arrombar o cockpit. Se não apalpar a hospedeira. Se não for detido por posse de estupefacientes. Se passar pelo detector de metais. Se a Karen deixar. Se o salário cobrir as dívidas de jogo. Se o Beira-Mar tiver Bingo. Se o Beira-Mar pagar prémios com ovos moles. Se perder 20 quilos. Se puserem um sofá no banco de suplentes. Se ganhar juízo. Se houver milagres. Se as balizas aumentarem. Se treinar só uma vez por semana. Se conseguir fugir ao doping... o goleador está de volta

Mafalda, a visionária

Esta jornalista é multi-facetada. Desdobra-se em múltiplas tarefas. É das mais ecléticas profissionais dos media. Mafalda Gameiro não se esgota na redutora função de dar notícias. Ela transcende-se e oferece ao país uma diversificada gama de serviços. Além de uma biblioteca de obras sobre refugiados e minorias, esta rapariga faz-se na área da electrotecnia. Mais do que isso. É uma artista na montagem de câmaras ocultas em saulas de aula. Aquilo está tão bem feito que ninguem dá pela tramoia. Depois, é sentar no sofá, carregar um balde de pipocas e acompanhar as peripécias dos nossos tonecas. São arraiais de chapada. É pontapé de meia-noite. Murros e rasteiras. Um espectáculo só possível pelo engenho da jornalista da RTP, futura estrela do reality show Os Meus Três Banhos Diários

sexta-feira, julho 7

Vaidoso e félix

Bagão Félix desbocou-se e partilhou com os portugueses o íntimo de um ex-ministro. De coração aberto, admitiu que aceitou a pasta das Finanças "por vaidade e sedução de poder". Ora Bagão mostrou que, afinal, sempre há exemplos raros na política e na sociedade em geral. Primeiro, é dos poucos benfiquistas vaidosos que conheço. Para além do ex-ministro, só me lembro daquele proprietário de um restaurante na Caparica, sempre altivo com a sua barba até aos joelhos. Agora, invulgar-invulgar é um próximo de Paulo Portas dar um rombo no senso comum e revelar uma valente paixoneta pela autoridade sobre o cidadão. Nunca dei por nada. Nem sequer me passou pela cabeça que do circulo de afeiçoados do ex-líder do PP saísse um fulano com tamanha ambição. Os benfeitores da política não mereciam esta ovelha ronhosa para lhes manchar a lapela imaculada. Valha-te Bagão a Luz de seis milhões

Lavabos

Não chegou ao firmamento, mas foi estrela internacional q.b. Teve um prazo de validade curto. Vendeu uns LP's durante um ou dois anos e depois viveu dos rendimentos. Já nessa fase descendente, foi convidada do Júlio Isidro no Passeio dos Alegres. Nunca fui adepto daquela flash-music, mas continuo intrigado com o nome da rapariga. O pai devia ser canalizador e inspirou-se na tez alva. A Pia até agradeceu o tributo, pois grande parte dos seus indefectíveis ainda (Z)adora aquela evocação a bidés e outras bacias de higiene pessoal

quinta-feira, julho 6

Despojos do dia

Imaginem que estão a aliviar-se na casa de banho. Imaginem que, de repente, alguém irrompe pelo privativo e pede para acompanhar os trabalhos. Imaginem agora que, concluído o serviço, o penetra chama a família toda para uma salva de palmas ao presente. Imaginem hurras e vivas ao fedor depositado. E depois, cantiguinhas. Estão a ver? Cantiguinhas. É este atentado à dignidade humana tipo-do-género Guantanamo que me preocupa lá no infantário da miúda. Assim não, senhora educadora, assim não. O cocó da minha filha é coisa intima. O alívio do meu rebento não é espectáculo circense. Não se pode esmigalhar assim o tenro espírito de uma criança. Daqui a uns anos, levo-lhe o envelopezinho com os recibos do psicanalista e do Dulcolax

Patinhos feios

Eu também acho que fomos discriminados por sermos feios. O orelhudo do Caneira, o pencas do Figo ou o cabeçudo do Petit estragaram tudo. O aviário dos franceses prima pela estética. Os irredutíveis exibem orgulhosos as carecas do Barthez ou do Zidane. Nós, ficámos com o galo da eliminação. Felipão queixou-se, e muito bem, que somos o Patinho Feio do Mundial. Ninguém queria ver na final aqueles cabeludos malparecidos. Nomearam um árbitro sul-americano, ofereceram-lhe um saquinho com pin´s, canetas e blocos da FIFA e sussurraram-lhe que dava jeito despachar os portugueses. É que ficava muito mal na fotografia juntar em Berlim os bellos italianos com os feiosos lusitanos. O Madaíl bem se vangloriou que metemos medo aos franceses. Acho que o presidente foi redutor. Nós metemos medo a toda a gente. Os angolanos ainda têm insónias. Os iranianos já pensam em trocar as centrais nucelares por bunkers. Os mexicanos ainda não se lembram em quem votaram para as presidenciais. Os holandeses bebem chazinhos de marijuana para esquecer. Os ingleses continuam em sessões de terapia de grupo. Os franceses têm três dias para apagar dos sonhos aquelas fronhas horrorosas. Si tu ne manges pas la soupe j'appelle Nuno Valente

quarta-feira, julho 5

terça-feira, julho 4

Mama mia, tua e de todos

Acabei de esgotar os meus índices de indiferença. Assisti àquele grande bocejo entre a Alemanha e a Itália, com mais uma vitória letal dos cínicos. Andaram para ali a empatar durante 119 minutos e quando o árbitro se preparava para assoprar no apito, dois golos de enfiada. Foi bem feito para os alemães, que já se estavam a fazer às penalidades. É que os boches nunca perderam no desempate dos castigos máximos. Quinaram-se e, para agravar o azedume, foram derrotados pela primeira vez em Dortmund. Agora vem a pior parte para Portugal. Há seis anos, os transalpinos também ganharam à Holanda, na Holanda, nas meias-finais do Euro. No dia seguinte, a França mandou os portugueses para casa, na célebre mão do alto e louro Abel Xavier. Ora, isto são coisas do passado e toda a gene sabe que a história não se repete. Mas, nunca fiando, vamos lá fazer um cordão humano com figas. É que desta vez, não me cheira que baste a Nossa Senhora do Caravaggio

Cambalhota da física

Tinha chegado finalmente a Portugal a valiosíssima edição da Playboy brasileira que mostrava a nudez da Maite Proença. Fui chamado de urgência a casa de um amigo, que acabava de descobrir a publicação numa prateleira do escritório do pai. Pisguei-me de casa e corri que nem um doido. Depois de folheada a revista, ficámos na conversa a dissecar os atributos da artista. Foi já nessa fase de descompressão que, numa prateleira um pouco ao lado, descobri este génio. Maurits Cornelis Escher, M. C. Escher para os amigos, representa para a arte gráfica muito mais que Freud para a psicanálise. Ainda hoje tenho dores de cabeça a tentar digerir alguns dos rabiscos. São perspectivas irrealistas, planos inconcebíveis, estruturas utópicas que o holandês conseguiu traçar no papel. Neste exemplo, desafia todas as leis da física, quando reproduz um trilho de água a percorrer uma superfície plana. O caudal vai desaguar na nascente do fenómeno e recomeça tudo de novo. São duas aspirinas se fizer o favor

segunda-feira, julho 3

Couro de nada

Careca reluzente, brilhante, destapada
Careca que ofusca, que cega, que devolve o sol
Careca que desnuda, descarna, descabelada
Careca que transpira, que escorre sacrifício
Careca dos calvos, que ilumina as ideias
Careca que reflecte, intromete e encarna
Careca que nada me apraz, quando pouco faz
Aaah, careca, que abalas sem deixares passado
Some-te careca, que me deixas desgrenhado

Obrigado reforma

Não sou nada de especial, na realidade sou um bocadinho aborrecida
Se contar uma piada, provavelmente já a terás ouvido
Mas tenho um talento, uma coisa maravilhosa
Porque toda a gente ouve quando começo a cantar
Estou grata e orgulhosa
Porque tudo o que quero é cantar bem alto
Por isso digo
Obrigado pela música, as canções que canto
Obrigado pela alegria que transmitem
Quem consegue viver sem ela, pergunto honestamente?
Como seria viver?
Sem música ou dança o que seríamos?
Por isso digo, obrigado pela música
Por me ter dado isso tudo
A minha mãe diz que era uma bailarina ainda antes de começar andar
Diz que comecei a cantar ainda antes de saber falar
Ainda pergunto frequentemente como tudo isto começou
Quem descobriu que nada pode tocar o coração como uma melodia?
Bem, quem quer que tenha sido, sou sua fã
Por isso digo
Obrigado pela música, as canções que canto
Obrigado pela alegria que transmitem
Quem consegue viver sem ela, pergunto honestamente
Como seria viver?
Sem música ou dança o que seríamos?
Por isso digo, obrigado pela música
Por me ter dado isso tudo
Tenho tido sorte, sou uma rapariga de cabelo louro
Quero cantar bem alto para toda a gente
Que alegria, que vida, que oportunidade!
Por isso digo
Obrigado pela música, as canções que canto
Obrigado pela alegria que transmitem
Quem consegue viver sem ela, pergunto honestamente
Como seria viver?
Sem música ou dança o que seríamos?
Por isso digo, obrigado pela música
Por me ter dado isso tudo

domingo, julho 2

As mãos que embalam o terço

Ricardo acaba de transformar um best-seller num fiasco. Depois daquele fim de tarde na estufa quente de Gelsenkirchen, já ninguem está interessado nas aflições dos guarda-redes antes de um penalty. Muito menos os ingleses. Espero que o nosso guardião esteja ciente do rombo que infligiu na cultura universal. Agora, nenhum Gabriel Alves terá a ousadia de citar a obra de Peter Handke. O título já estava manco de tanto servir de muleta às referências previsíveis dos comentadores desportivos. Agora, ganhará aquele fedor a bafio. Mas, pior ainda. Deixaremos de ver as equipas festejar antecipadamente sempre que é assinalado um castigo máximo. A fezada passou-se para o lado de quem toma conta da baliza. As cagufas passaram a projectar-se nos jogadores e Ricardo revolucionou a concepção da penalidade. Eh pá, marca tu, encravei a unha do pé