quarta-feira, novembro 1

reViver das cinzas

Do outro lado do Atlântico trocam-se, por esta altura, travessuras por guloseimas. Com alguma sorte, batem-nos à porta uma ou duas diabinhas já na maioridade. Por cá, somos mais piegas e choramos os mortos. Cemitérios a abarrotar de gente enlutada. Ciganas prostradas no chão a berrar. Idosas a carregar regadores para alimentar as plantas da campa do mais que tudo. Enfim. No meio deste drama, um punhado de oportunistas a tentar capitalizar o negócio. Sim, que a morte também é um negócio. Que o diga uma multinacional espanhola que se instalou em Portugal depois de adquirir uma série de estabelecimentos para defuntos. Entre a vasta gama de produtos revolucionários, retive, durante uma reportagem matinal, um peculiar processo de cristalização. Não sabia, mas consegue-se transformar cabelos de mortos em diamantes para cravar em cachuchos. Mesmo assim, o maior proveito continua a ser retirado das cremações. Cada vez mais gente escolhe transformar-se em cinzas para se alojar numa urna de porcelana chinesa em plena sala de estar. Disso se queixava uma modesta comerciante de flores, que tentava a sorte à porta do cemitério do Alto de São João. "Isto agora escolhem todos ser queimados e o negócio morre". Mas não é essa a ideia?

1 comentário:

Woman disse...

Eu prefiro as romarias de lágrima no olho aos cemitérios, que o vaso chinês na sala. Pode ser?

Beijo