sábado, agosto 5

Istambul by night

Os mais impressionáveis... vão dar uma volta ao bilhar grande e não me chateiem. Mas prometo ser breve para não arrastar a agonia. Há um par de anos, fui a Istambul em trabalho. Entre o grupo de operários, calhou-me um gajo perturbado, mas de boa índole. Passou a viagem de avião a beber. Dizia que tinha pânico de voar e que aquilo o distraia. A cada trago acentuava-se o ritmo do paleio. Falava pelos cotovelos, calcanhares, joelhos e demais dobradiças. Percebi, por entre a fonética cada vez mais enrolada, que o tipo tinha uma tara descomunal por mulheres. Há quem seja mais sensível ao sexo feminino. Há quem goste. Há quem não goste. E há os que se viram do avesso por um rabo de saia. Parecia ser o caso. Já na capital turca, arrumámos a trouxas no hotel e fomos jantar. O maluco bebeu uma garrafa de tinto local e ainda surrupiou umas goladas da garrafa partilhada pelos outros três comensais. Com o depósito atestado daquela maneira, podem imaginar a condição do rapaz. Cansados e de orelhas inflamadas do cacarejar alcoolizado, ainda desmoemos o jantar com o regresso a pé até ao hotel. A cerca de 50 metros do destino, um estabelecimento com umas luzes neon deteve a excursão, por ordem expressa do bêbedo. Choramingou uns valentes dez minutos, mas ninguém o quis acompanhar. À porta, ainda acenou, mas teve de resposta um ou outro gesto mais obsceno. No dia seguinte, o rapaz tardava em juntar-se ao grupo. No hall do hotel, já todos bufavam pela seca monumental. Quando começávamos a amesquinhar a dignidade da mãe do dito, a recepcionista dirigiu-se, comprometida, a nós e perguntou-nos se estávamos com o tal maluco. Sim, porquê? Parece que há um problema. Algum de vocês pode acompanhar-nos? Não foi um, foram todos, junto com a recepcionista e dois seguranças. A adrenalina subia ao ritmo do galgar do elevador. Chegados à porta do quarto, todos tremiam e nenhum dos funcionários do hotel se aventurou a tomar a iniciativa. Num assomo, adiantei-me, pedi o cartão à recepcionista e abri a porta. Está morto! Esquartejaram-no!, pensei de pronto. O quarto era todo salpicos avermelhados, com pedaços de não-sei-o-quê anexados às manchas. O pivete era indescritível e penso que ainda hoje me vem o cheiro quando fico assim mais enervado. Sem me descontrolar, fui abrir as persianas, temendo que seriam as minhas últimas horas de liberdade. Mas, qual Lázaro, o morto depressa se ergueu dos lençóis putrefactos e, na maior das ligeirezas, desatou a dar bons dias a toda a gente. Logo depois, olhou para debaixo dos lençóis e avisou ao grupo de boquiabertos que estava todo nu. Furibundo com aquilo tudo, pedi-lhe que desse uma garujada ao espectáculo que o envolvia. IIIiiiiii, vomitei-me todo. Pois... Qualquer semelhança com a ficção é pura realidade

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