quinta-feira, agosto 31

Trevas de mim

Sombra minha que te arrastas de mansinho
Suplicas existência prostrada no chão
Plagias-me os passos de fininho
Em perpétua e maçadora bajulação

Adulas-me as pernas e não descolas
Arrojas-te servil pela gravilha
E por muitas evasivas carambolas
Teimas em lapar-te-me à braguilha

Ai sombra, desprega-te de mim
Fedes à goma do sol em brasa
Persegues-me no encalço sem fim
Pisga-te daqui, larga-me da asa

Vogar as vogais

Sou pessoa de vogais abertas e, por consequência, alvo de discriminação. As vogais são as coqueluches do alfabeto e têm todo o direito de brilhar. São poucochinas e de porte frágil. Merecem ser cuidadas, acarinhadas, protegidas da tirania das consoantes, que tendem a aglutinar violentamente as pequenas. Por isso, devemos granjea-las com as exposição mediática devida. Revolta-me que as abafem entre émes, éles ou ésses, os mais torcidos da populaça consoante. Se, por exemplo, verbalizo olha ali uma suruba de dezóito pessoas amontoadas no sófá de bombázine é porque não quero emudecer as pequerruchas, já de si violentadas pelo estigma da minoria. Se me corrigem, tendo a aplicar uma certeira canelada no perfeccionista. Não sou violento, mas um instintivo paternal. Zombem das minhas meninas que apanham duas galhetas

quarta-feira, agosto 30

Spray Lázaro

Estamos diante um produto revolucionário. Um perfume que esmigalha em fanicos os gracejos sobre pés fétidos. Uma bomba que fussiliza o cholé nos arquivos do nosso esquecimento. Cheirar mal do chispe deixou de ser desculpa esfarrapada para justa causa em divórcio litigioso. Não temam a comunhão de bens, que ficarão vinculados para a eternidade a patudos com aroma a lírios. São campos floridos que germinam sobre o bedum de um pé acalorado. Uma baforada frischquinha que aniquila a gasta piada do eh pá, cheira a mortos.

Gostos de merda

Como já defendi recentemente, os afectos pelos seios fazem todo o sentido. São as botijas que nos nutrem os tenros orgãos nas primeiras baforadas de vida. Os homens reconhecem-no com o tributo perene às mamocas da próxima. As mulheres, como recebem o par de graça, acomodam-nos em confortáveis bolsas com alsas e dão-lhes arejamento nos passeios aos centros comerciais. Agora não entendo as afeições nadegueiras. Afinal, o que é que um rabo tem assim tão de especial? Por que raio se babam os homens por dois invólucros pendurados no fundo das costas? E qual a razão de tanto zelo feminino pelas almofadas celulíticas que abancam diariamente em esforço intestinal? Aquilo são duas turbinas de uma fábrica de cocó. Imaginem, por exemplo, excursões de maralha até uma estação de tratamento de águas residuais. Famílias a banhos nos tanques. Peitos inchados em inspirações higiénicas. Tristes ETAR, ou melhor, esquizofrénicos tarados adoradores de rabos

terça-feira, agosto 29

Hei, hei, hei

Dschinghis Khan, provavelmente a melhor banda de sempre

Xixis

Os cristãos amontoam-se nas igrejas a comer bolachas e a beber copos de vinho. Os muçulmanos estatelam-se no chão, de rabo para o ar e de pés descalços nas mesquistas. As mulheres têm também um espaço de culto. As casas de banho são cubículos exíguos, de um punhado de metros quadrados. Mesmo assim, têm o dom de desencadear uma incomensorável metamorfose. Assim de memória, julgo que é o único local capaz de desencadear solidariedade entre a espécie feminina. A vida das mulheres traduz-se basicamente em competição. Cuidam pelo melhor vestido, da maquilhagem mais desbotada ou decote pronunciado. Ficam com o dia estragado se a próxima insufla umas sinuosidades mais pronunciadas. Vociferam entranhas adentro. São potenciais homicidas mas uns anjinhos quando a bexiga dilata. É vê-las em procissões cúmplices. Partilham o rimel, o baton e o tampo da sanita. A mijinha passa de dejecto a fluido altruísta. Porta fora, passam a cobiçar a cuequinha rendilhada de quem se aliviou em comunhão

segunda-feira, agosto 28

Amor mamário

Os homens amam quem os alimenta. A noção é cristalina e pode ser comprovada por uma sucinta regressão temporal. Primeiro a esposa prendada que nos serve o prato. Recuando, a querida maezinha, que nos enche de guloseimas. Um pouco mais atrás, o seio que verte o leite da vida. E ai está. Em poucas palavras explica-se a tara pelas mamas. Já aqui explanei convenientemente um das minhas prematuras pulsões peitorais, mas só hoje presto a merecida homenagem à primeira grande paixoneta... localizada. Andávamos assim a mielas dos anos 80 quando a RTP remendou o buraco do Dallas com a não menos intragável Dinastia. Nos Estados Unidos aviaram umas dez temporadas daquela charupada, mas do infindável número de episódios aproveitava-se apenas o par de atributos da boazinha rica. O motivo que inspirou o ricalhaço Blake Carrington a desposar a swedish Krystle Jennings saltava à vista de todos. O homem arrebarbou-se às glandulas e nem quis saber mais da mulher anexa. Revoltava-me aquilo. Só me apetecia recostar-me solidariamente às lindas da Evans. Tão novo e já tão adulto

domingo, agosto 27

Para ti, xuxu


Espreitas pelo ombro do vulto que te encobre
enquanto te sacias na fatia destemperada

Fitas de soslaio o mundo que desconheces
e retens a sombra de um pedaço de nada

São raizes brancas de um manto acobreado
que denunciam um tempo gasto e desgrenhado

A comédia revisteira de deboche salutar
em palavras de escárnio para... lamentar

Velho ranhoso

Assoei-me três vezes, mas mantinha-se o embaraço. Não era possível. Qualquer muco mais obstinado não resistiria às violentas exalações. Mas enfim, o reflexo do espelho testemunhava que se conservava por ali qualquer coisa. Quis conhecer de perto o visco que não deslargava as fossas nasais. Aproximei-me do espelho e deduzi que se tratava dos maiores logros recentes da minha percepção sensorial. Aquilo que por mim se assemelhava a um pedaço de ranho que recusava finar-se no papel era, afinal, um tufo de pêlos brancos. Crescem-me magotes de alva lanugem no nariz. A constatação do avançar da idade é já de si penosa. Da minha parte, foi também viscosa

sexta-feira, agosto 25

O meu amor é verde

Escrevo como ando. Não escrevo o que me vem à cabeça, escrevo o que me vem à mão. Escrevo à mão, com uma Bic Soft Feel Roller preta, sobre uma folha A4 de papel reciclado cor-de-rosa. Barthes criticou aquilo a que chamou o "estilo Bic". O meu estilo é estilo Bic Soft Feel Roller, Adília Lopes, in Crónicas da Vaca Fria, Pública

As curtas férias que acabei de usufruir proporcionaram-me o mais delicioso dos reencontros. Redescobri a prosa de uma alienada numas Públicas de há cinco anos trás. Não sei se encenação, se puro desequilíbrio ou desgoverno existencial, mas Adília Lopes é que é. Pode considerar-se despudoradamente um ícone sexual dos tempos modernos. Pelo menos para mim, Adília mostrou que o sexo pode ser louco, na pior acepção da palavra. A poetisa-escritora, famosa por ter transformado o lar num fedorento gatil, foi outrora uma infeliz convidada do afamado programa Sex Appeal. Ora nesse particular programa, a lânguida Elsa Raposo desafiava a andrógena criatura a descrever um orgasmo. A mulher saiu estúdio fora e desceu a Avenida da Liberdade a roçar-se nos centenários plátanos. Foi das raras vezes que quase desidratei de tanto chorar a rir

domingo, agosto 20

Banhocas, a sequela

Vou a banhos pela segunda ocasião num curto espaço de tempo. Vá lá, não fiquem assim. É uma semaninha. Passa num instante. Sim, sim... prometo comportar-me. Claro que não! Acham que vou fazer essas figuras tristes da praia. Está bem. Prometo olhar só assim de soslaio. Rapidinho. Não vou deter o olhar em nenhum rabo mais descascado ou num par de mamocas ao léu. Tudo muito discreto. Palavra de escuteiro. O quê? É relevante não ter sido escuta?

Peep Show

Hoje fui assolado pela percepção dramática que andamos vulgarizados pela tecnologia. Uma máquina fotográfica da loja do chinês, do tamanho de uma caixa de fósforos, lembrou-me que vivi e sobrevivi a milhas de lcd's, plasmas, dvd's, etc, etc. Acho que ainda antes das cassetes Beta perderem a guerra para o VHS, os momentos lúdicos nas tardes de fim-de-semana eram passados junto da minha View-Master vermelhinha. Na rua, os miudos contrabandeavam às escondidas as fotonovelas da Gina e da Tânia, mas eu preferia os discos dos slides a 3D. Voei com o Peter Pan rumo à Terra do Nunca, nadei nos corais do Pacífico e pontapeei o rabo do obeso Sargento Garcia nas lutas de espada do Zorro. Uma técnica simples que tinha o dom de nos enfiar pelas fotografias dentro. Faziamo-nos convidados, sem pedir licença. A agulheta carregava-nos até aos lugares mais recôndidos e fazia-nos felizes. Hoje, tenho de gramar com o dvd das histórias da Carochinha, que mais parece um manual das noções básicas à ilustração informática

sábado, agosto 19

Dragostava

Provavelmente o melhor trailer de sempre

Chicken Little

Que guapo Mariano

Eu sou ga-gago mas gosto a be-be-berava de cantar rock n' roll
O me-meu pai ta-tambem can-cantava qua-quando apanhava sol
Uma vez ele foi à pe-pe-raia, apanhou sol to-todo dia
Ca-cantou tanto que de-depois quis falar e nã-não podia
Aqui-aquilo deixou-me peru-peru-perufundamente a-abatido
Con-con con-consteran... quer dizer, con-consterangido
E até-té eu que nessa altura, a cantar nunca engagueci
Pa-passei a ga-gaguejar... ai foi desde aí
Eu sou-sou ga-gago, eu sou-sou ga-gago
Tou-tou ga-gago, ga-gago
Ta-ta-tão ga-gago
Mas não-não ga-gaa, só-só ga-gago
Ca-quem, ca-quem nã-não-não gosta qu'eu-qu'eu ga-gagueje é a minha mulher
Ta-tem me-medo que as que-que-rianças ga-gaguejem a nascer
E a-alem disso há ou-outra coisa
É que ela te-tinha so-sonhado
Que-que o ma-marido havia de ser de-deputado
Mas eu sou ga-gago, eu sou-sou ga-gago
Tou-tou ga-gago, ga-gago
Sou tão ga-gago, tou-tou tão ga-gago
Ma-mas não ga-ga... só-só ga-gagoo
Eu sou ga-gago mas o peru-peru... ai, o perubelema é meu
Há pe-pessoas que falam me-muito e dizem me-menos do que eu
Pe-para disfarçar, qué-qué conveniente
Ape-aperendi a falar so-le-te-ra-da-mente
Mas eu sou ga-gago, eu sou-sou ga-gago
Tou-tou ga-gago, ga-gago
Sou tão ga-gago, tou-tou tão ga-gago
Ma-mas não ga-ga... só-só ga-gagoo

sexta-feira, agosto 18

Trampódromo

Onde nos levará a luta na lama se arriscamos um desafio de encadeamento de ideias? Provavelmente à manifestação mais primitiva da líbido masculina. Não entendo como o cenário desperta tantos adeptos. Afinal, são apenas duas mulheres a chapinhar em terra molhada, simulando amiude alguns movimentos de greco-romana. Mas pronto, que se aprecie duas enguias a atascar-se em lodo ainda respeito. Agora não me solicitem que contenha a indignação quando vejo homens, com instintos de touro cobridor, doidinhos para chafurdar naquela imundice, numa espécie de colectiva. Em investidas violentas, saltam para aquelas tinas imundas e encenam também eles movimentos de um género de soft-wrestling. Coisa só para passar a mãozinha pelo couro. Nada para aleijar. Conseguiram friccionar-se nas peles encardidas do par de lutadoras a fingir, e agora? Vão leva-las para casa? E depois quem é que limpa aquela javardice? Os homens podem ser uns badalhocos, mas as mulheres é que têm a iniciativa

Doce fel

Pela cidadania checa, estranho a origem conceito. Na República Checa é complicado testar a teoria, derivado da manifesta insuficiência de mulheres feias. Ora, não chegando para emparelhar com o esmagador número de bonitas, Milan Kundera, insiste, mesmo assim, na cumplicidade interesseira das amizades femininas. Julgo que nos Contos de Amor Risíveis, o autor defende que a melhor amiga de uma mulher bonita é sempre feia. E porquê? Porque a mulher bonita julga que a excelência estética multiplicar-se-á se confrontada com uma espécime menos dotada. Mas não se precipitem em solidarizar-se já em mimos de piedade com a amiga feia, que ela também é fresca. Kundera complementa a teoria reforçando a ideia de reciprocidade e lucros repartidos. Não só a bonita capitaliza a proximidade da feia, como a feia retira também dividendos da relação. Espera a feia que, ladeando a bonita, possa, eventualmente, ser iluminada pela formosura da parceira e arranjar finalmente um principe pitosga. São mesmo tortas as mulheres

quinta-feira, agosto 17

Cat fight

Os homens dão ao outro. As mulheres tiram da outra. A ideia pode gerar alguma polémica, mas os contestatários têm bom remédio. Assistam a uma peleja de mulheres. Numa rixa masculina, dão-se galhetas, chapadas, carolos, murros e calduços. Uma desavença feminina pia mais fino e arrepia abundantemente os espectadores mais sensíveis. Arrancam-se cabelos, olhos, lóbulos e, por vezes, pêlos púbicos. Ou seja, a mulher subverte a reputação de uma boa briga. O conceito de guerrear é aleijar o próximo, não despoja-lo de pelosidades ou apêndices. Eu nunca vi uma mulher preocupada em aplicar uma certeira paralítica na adversária. Retenho imagens um pouco diferentes, como, por exemplo, meia melena de uma a desabrochar entre os dedos cerrados de outra. A t'shirt branca arrancada à força. A saia revolvida. As meias de cintas esventradas. As alças do soutien arrancadas à força bruta... Caraças, só acho mal que um ou dois galos moralistas apareçam sempre a tempo de evitar que as galinhas se depenem

En garde!

Admito envergonhadamente que o Errol foi o meu primeiro herói. Seguiram-se o Superman e o Spiderman, mas guardo em primeiro lugar na minha meninice as desventuras do salteador altruísta. Pelos bosques de Sherwood, envergava orgulhoso uns collants verdes. Um pormenor que cativou Marian, a sua mais que tudo. Sabia de cor as deixas e só mais tarde entendi que o primeiro grande clássico do cinema sobre Robin Hood foi também a primeira grande missiva comunista de alguns produtores de Hollywood assalariados da União Soviética. Curioso como um filme sobre um ladrão que roubava aos ricos para distribuir pelos pobres passou incólume no conturbado período da caça às bruxas. A ideologia passou discreta, quando centenas de comissões interrogavam supostos comunistas, para depois os excomungarem de pronto da puritana sociedade dos States. Sou apartidário, mas de esquerda. Talvez por culpa de Robin Errol, um playboy que, nos tempos livres, em festas de sociedade, gostava de despir a capa e esgrimir o florete sobre as teclas do piano. Aqui podemos vislumbrar o artista depois de uma transpirada interpretação de You Are My Sunshine

quarta-feira, agosto 16

Herpes labial

Encanta-me a candura de um xôxo. Já apanhei a meio a revolução cinematográfica do decoro, mas ainda me deliciei com muitos selinhos na boca. Nos filmes da actualidade, comercializa-se o amor. Beija-se por tudo e por nada. E não só se beija como ilimitadamente se extravasa a insanidade da líbido. O marketing das linguas está em saldo. Partilha-se saliva a rodos e achincalha-se o carinho. Nas peliculas de hoje, gostar é espetar a lingua nas goelas do próximo. Antigamente, tocavam-se os lábios et voila... amor eterno e felizes para sempre. Guardo para mim uma das mais imortais sequências do xôxo. Mesmo no finalzinho do Cinema Paraíso. Salvatore, agora um realizador de créditos firmados, recebe finalmente o legado do mestre projeccionista Alfredo. Os excertos das peliculas outrora censuradas pelo pároco da aldeia. O génio compositor de Ennio Morricone faz o resto e amolecemos os corações de pedra. O beijo é coisa do passado e o linguado já não é só grelhado

Armários filantropos

Está na altura de varrer com os empoeirados detractores desta modalidade. O grupo de intelectuais que os apelidam de armários acéfalos esquece-se que foram estes senhores robustos que há uns 20 anos atrás projectaram Portugal à escala infinita da mediatização. Nessa altura, começávamos a estender a mão aos inesgotáveis fundos europeus e já havia quem engendrasse a melhor maneira de trocar o numerário por ferraris e porcelanas chinesas. No meio desta anarquia subsidiária, os strongmans decidiram arrastar camiões TIR na baía de Cascais. Emocionei-me de orgulho. A imprensa internacional especializada mostrava a bela costa portuguesa e aliciava potenciais capitalistas. Foi a prova cabal que estes homens vigorosos possuem um coração meloso por debaixo daquele cobertor de tecido muscular testeronizado. Esquecem-se os maldizentes que a força bruta pode mover esferas de cimento, mas também erguer o orgulho aos píncaros da vaidade patriótica. Estes sim, foram uns heróis (à beira) do mar, nobres e valentes de uma nação em eterna dívida. Bem hajam

terça-feira, agosto 15

Dejecto perfumado

Não há amor como o primeiro. A Elizabeth Savalla terá sempre prioridade, mas a Louise Brooks brasileira não me preencheu os afectos para todo o sempre. Naqueles tempos, estávamos confinados a dois canais de televisão, mas entre a parca oferta sempre se encontravam umas carinhas larocas. Um bom exemplo de terreno fértil dessas pérolas acidentais era a afamada série Fama. Lembro-me com saudade da namoradinha da primeira época, que desapareceu tão rapidamente quanto irrompeu pelos ecrans portugueses. Aquilo devia ser uma rebaldaria nos estúdios e os produtores preferiram abdicar da musa, sob o risco de serem perfilhados bebés latinos a vulso. No enredo, simulava uma química tórrida pelo Leroy, mas eu contorcia-me no sofá para um desfecho trágico da relação. Ela merecia muito mais que um bailarino com trancinhas. Tinha nome de matéria fecal, mas a Coco, Irene Cara no bilhete de identidade, emanava perfume de mulher

Fim da linha

E agora? Já se sentiram confinados às muralhas da vida? Que bateram num tecto quando idealizavam um céu sem limites. Que, afinal, o trilho encurta-se e sufoca os vossos argumentos. Que podiam dar três voltas ao Mundo, mas Deus doseou-vos as ambições. Tinha de chegar para todos. A minha prateleira pode ilustrar as barreiras que se erguem e castram os lúdicos devaneios das utopias. Descobri que há espaços que não chegam. Constatei que se esgotou a minha reserva. Os filmes da minha vida extravasam a exígua estante da sala. Agora onde é que eu ponho os Assassinos Natos, Gattaca, O Monstro, Manual de Instruções para Crimes Banais, Ponette, Nu, O Cozinheiro, o Ladrão, a Mulher dele e o Amante dela, Quatro Quartos, Abismo... Dêm-me espaço que vos retribuo com episódios digitais de ensinamentos preciosos

segunda-feira, agosto 14

Marias

A Maria é uma extremosa empregada de limpeza, de origem cabo-verdiana. É responsável por muitos impropérios madrugadores da minha parte. Limpa higienicamente todos os cantinhos, mas depois esquece-se de ligar os cabos de volta. Em certas ocasiões, eu já a rebentar de fúria, só ao cabo de uma meia hora consigo repôr a normalidade e arrancar com o computador. Mas a Maria nem sempre esteve no horário de madrugada. Há uns anos atrás, pertencia à equipa do final da tarde, que também não reunia grandes afectos. Imaginem-se atolados de papéis, em plena velocidade de cruzeiro laboral, e uma chata ao lado a juntar folhas e a abanar o espanador. Mas enfim, adiante. Hoje reencontrámos a Maria no hall de entrada do edifício. A minha Maria abordou-a e perguntou-lhe pelo filho. Uma criança que a Maria empregada-de-limpeza exibia orgulhosamente pouco depois do parto. Seis anos?! Já tem seis anos?! O tempo passa tão depressa! Exclamou a minha Maria, que pouco depois estava nos mesmos desabafos com um outro colega de trabalho. O qual ripostou: Filho?? Mas qual filho?? Ela tem é uma filha! Conclusão: a minha Maria é uma sectária fascista e ainda não sabia

A força da idade

Hoje ia assassinando uma velha. Por duas vezes, a septuagenária esteve à beirinha de quinar-se. Manhãzinha cedo. Labiríntica Moscavide. Deixar a miuda na avó e ala para o emprego. Quando embico para a segunda rua, uma idosa, em passo de bebé, espairece lentamente no meio da estrada. A minha viatura dirige-se a velozes 20 km/h rumo ao brutal esmagamento da senhora. Apito! A velha ganha fogo no traseiro e pula. Ruborece e dirige-se educadamente à minha janela:
- Ai filho, cuidado que sofro do coração.
- Cuidado tenha a senhora e meta-se no passeio.
Sigo. Uns 50 metros à frente, páro no sinal vermelho. Pelo retrovisor, a teimosa da senhora continua a passear-se na estrada. Mas agora parece a velhinha do anúncio do Obikwelu. Perna direita, bengala, perna esquerda, bengala quase se atropelam na pedalada. Pronto, pensei eu, vem aqui tirar de esforço e rachar-me a cabeça. O sinal verde não caia e a velha cada vez mais próximo. De semáforo ainda vermelho, a velha abeira-se de novo da minha janela. A deitar os bofes de fora, a campeã balbuceia qualquer coisa como: Vê... ainda o apanhei! Ponderei abrir a porta e esmaga-la contra o carro estacionado, mas entretanto caiu o verde

domingo, agosto 13

A encomenda

O carteiro José é um jovem profissional dedicado. Não nos falta com a correspondência e às vezes facilita nos vales-postais. Mantemos uma relação cordial. Chega para os bons dias, os boas tardes e uma pergunta ou outra sobre um dia mais atarefado. Já sabemos que quando há correio registado, o carteiro José toca três vezes, espaçadas por uma quarta. Eu percebi o sinal logo à primeira e o carteiro José até ficou todo encavacado com a minha perspicácia. Quando abri a porta, estava vermelho como uma lagosta a esturrar ao sol. Disse-lhe para não se surpreender, que eu era muito intuitivo. Só que, afinal, daquela primeira vez, ainda não havia correspondência registada. Enganou-se ele coitado, que eu quase antecipei. Não sendo íntimo, parece que o carteiro José é pessoa omnipresente. Não sei... é estranho. Há qualquer coisa cá por casa que me vai fazendo lembrar aquele rapaz com uns incisivos centrais pronunciados e sempre de óculos de sol fashion. A minha Maria chama-me parvo e muda de conversa

sábado, agosto 12

O que é que ela viu nele?

Chris Isaak-Wicked Game


Um raro registo digital de Helena antes da cirurgia laser a uma miopia galopante

Chico, o obreiro

O Chico nasceu na Nigéria, está radicado em Espanha e corre por Portugal. Mesmo com identidade diluida, lá vai arranhando umas frases em portuñol. Entre o discurso de circunstância, não esquece a mão que lhe estenderam em Portugal, quando ainda corria com dois baldes entre as betoneiras e as placas de cimento. Foi com o suor deste servente espadaúdo que se edificaram umas dezenas de empreendimentos na costa algarvia. Antes de todas as autoridades governamentais, sempre em bicos de pés nestas raras ocasiões de glória nacional, têm a palavra os empreiteiros. Foram eles pioneiros a idealizar os primeiros materiais da exigente metodologia de treino do veloz Obikwelu, à base de argamassa cinzenta e pó solidificado em tons de laranja. Doping, suspeitarão alguns. Eu prefiro chamar-lhe milagre. Um refugiado nigeriano, acolhido pela comunidade de pedreiros, contribui com ouro para as depauperadas reservas do Banco de Portugal

Game, set and match

Pausa no encontro. Paula Bobone é requisitada para encher um chouriço na transmissão da SIC da final do torneio de veteranos de Vale do Lobo. O inconformado John McEnroe mantém um aceso diálogo com o árbitro de cadeira.
- Sim... acompanho com alguma frequência esta modalidade...
The ball was out... out! Can't you see that??
- Sempre nutri um grande fascinio pelo ténis...
You should get your ass down here and see for yourself
- É um desporto muito nobre, que termina sempre com um aperto de mão entre os dois oponentes
Fuck that... fuck that!!

sexta-feira, agosto 11

Eu, a professora, o João e o lagarto dele

Na tradição de relacionamentos pedagógicos, nutri, alguns anos depois de ignorar a professora de inglês, uma paixão assolapada pela docente de educação física. Não era nenhuma estampa, mas tinha personalidade forte. Fomos criando laços de amizade, muito por culpa de um conhecimento comum, a minha vizinha. Que, por acaso, era professora na mesma escola. Que, por acaso, dava aulas na minha turma. Que, por acaso, me brindou com um bastante razoável 15 a Filosofia, que me enriqueceu a média. E já agora, também por mero acaso, tratou de atiçar o aluno - no usufruto dos primeiros meses de maioridade - à licenciada na Faculdade de Motricidade Humana. Amava as nossas pegas. Ela, magana, fazia quase sempre trombas de danada. Eu respondia com parvoíces inteligentes e lá conseguia amaciar aquele olhar viperino. Certo dia proporcionou-se irmos ao teatro. Ui, nem dormi. Já estava clima primaveril, mas fiz questão de levar a minha gabardina creme, igualzinha a uma do Eriksson, que a minha santa mãe me presenteou numa viagem à Bélgica. Eu, ainda mais elegante que o treinador sueco aquando da segunda passagem pelo Benfica. Ela, com aquela figura trombuda e de tailleur clássico, ficava um must. Já em pleno teatro da Malaposta, escuro como o breu. Encaminharam-nos para um género de armazém, ainda mais sombrio. De repente, um bando de cruzados puxaram-nos da mão, assim muito à bruta, e sentaram-nos nuns calhaus, distribuídos numa sala mascarada de gruta. O espectáculo já tinha começado e nós estávamos dentro dele. Enredo da treta, para lá de psicadélico, mas pouco importava. Estava pertinho da docente motora, assim à média luz. Entrou o João Lagarto, que se intitulava filho de Deus, ou não sei quê. O homem era filho do Criador mas pouco imaculado. Cinco minutos depois já estava a despir uma gaja, que ficou pelada a um metro do nosso calhau. A meio do espectáculo, nova sessão de brutalidade dos cruzados. Arrastaram-nos para outra sala, que simulava, desta vez, o interior de uma igreja. E não foi um espectáculo nada católico. Nuns repentes, deram uns calores ao João e o homem tirou a roupa, mostrando-se tal qual o Criador o concebeu. Assim por alto, posso dizer-lhes que transpirou repulsa naquela área santificada. Não terá sido, definitivamente, a melhor alternativa lúdica para partilhar com a minha amiga colorida. No rescaldo do evento, pedi-lhe, precipitadamente, um cabelo. Talvez ainda atordoada com o vislumbre do João Lagarto todo nu, acedeu. Arrependi-me quando, dias depois, reabri o bloco onde tinha guardado a lembrança da professora. Só me lembrava do denso cabelame do nosso artista e do tímido réptil apenso

Bien sur!


- Quelle est la difference entre l'homme e la femme?
- La difference... entre!

À consideração do DIAP

Sempre fui rapaz de atraiçoar as aparências. Com 14 anos, parecia que tinha uns 20. Agora, a caminhar para os middle 30's, ninguém me dá mais de 25. Ou seja, em 20 anos, envelheci oficiosamente uns cinco. Se nos antigamentes não me barravam a entrada no saudoso Bar 25, agora abordam-me para trocar cromos repetidos do Mundial de futebol. Voltando atrás, é com melancólico revivalismo que recordo alguns episódios infectados pela mentirosa maturidade da minha figura. Naquela altura, começávamos a experimentar os primeiros anos de cavaquismo. No pelouro da Educação, João de Deus Pinheiro preparava terreno para a reforma dourada como comissionista europeu. Nos intervalos dos contactos com o estrangeiro, requisitava para a minha escola formosas professoras de inglês. A I. M. era, como se costuma dizer, um belo pedaço de mulher, assim com laivos de Oceana Basílio, candidata a actriz nos Morangos com Açucar. Era gira, sim senhor. No entanto, aqui o gingas só pensava na bola. Tinha aspecto pré-marital, mas conteúdo infantilóide. Certo dia, a I. M. apanhou-me sentado à porta do pavilhão a engendrar a melhor forma de infligir uma cabazada aos rufias do 8º C. Para meu espanto, entregou-me um envelope... perfumado. Num inglês perfeito, escrevinhado em azul-bebé, tecia uma série de considerações abonatórias sobre a minha pessoa. Incrédulo, ainda fui confirmar se handsome queria mesmo dizer jeitoso. Não só queria dizer, mas como tinha anexo outros adjectivos de avaliação extremamente elogiosa. Passámos a apanhar o mesmo autocarro para casa. Sinceramente, ainda hoje continuo sem entender que raio de interesse tinha ela no "futebol 5", pois era efectivamente o âmago da esmagadora maioria das conversas partilhadas no caminho de regresso. Um dia, convidou-me para um cineminha. Os meus pais, liberais q.b., torceram o nariz, mas lá acederam. Vesti fatiota decente, pullover azul pelas costas e lá vai disto. Fomos ver a adaptação norte-americana dos Três Homens e Um Bebé (vómitos, vómitos, vómitos!) e acabámos a tarde no Cais das Colunas (sim, quando ainda resistiam as colunas no Terreiro do Paço). Eu a mostrar-lhe os hematomas nas canelas e ela sempre com ar de ter qualquer coisa entalada. Hoje, deve estar velha, cheia de tecido adiposo e a apanhar com papelinhos embebidos em saliva de uns índios da secundária de Queluz

quinta-feira, agosto 10

Juro que vos peido

Senhor gatuno. Permita-me abordá-lo nestes termos, pois temos mantido nos últimos anos um relacionamento próximo, que vence mensalmente. Praticamente ao mesmo dia de cada mês, sou vilipendeado por vossa excelência. Se uma flatulência sua está avaliada numas centenas de euros, um descuido meu desse calibre pode originar, por exemplo, nefastas consequências no meu local de trabalho. Não é por isso, no entanto, que deixo de ter ganas de aplicar uma denudada bufa sobre o rosto de vossa excelência. Hoje fui notificado que o roubo mensal passará a sofrer uma suplementar golpada. Coisa ligeira para vossa excelência, abastada de florescentes juros proxenetas, que nos vão rapando o sobejante reservado a uns livros, jogos ou mesmo um Buddy Christ. Não duvido que o senhor, experimentado capitalista, proporcionará a estes 25,24 euros o mais lucroso destino. O problema é que, quando iniciar o processo de capitalização, a citada verba deixará de ser minha, pois acabou de ser retirada de miseráveis ganhos para encher o bandulho de vossa excelência. Sem outro assunto, deixo o mais sincero desejo que um curto-circuito às antigas estoire com a sede da vossa instituição bancária e arraste consigo toda a base de dados para o espaço sideral

É fazer as contas

Enquadramento: um inquérito da RTP às meninas da Volta a Portugal
A pergunta: Incomodam-na os piropos?
A resposta de uma infeliz: A mim entram a 100 e saem a 50!


Algumas explicações prováveis:
- A jovem promotora baralhou-se
- A jovem promotora estava ainda abalada com um mais ousado esfragalhava-te essa lycra toda
- A jovem promotora envaidece-se com os elogios e retém bocadinhos dos piropos
- A jovem promotora tem um palminho de cara e de cérebro

A explicação improvável:
- A jovem promotora desencadeia internamente um aturado processo de filtragem às observações a si dirigidas, pelo que a atoarda já sai de pantufas

Pack top-model deluxe

O que terão estas duas imagens em comum? Praticamente nada. Une-as, porém, o conceito auto-colante. Do vosso lado direito, a Candy Candy do meu embaraço. Do lado esquerdo, uns plasticozinhos que se grudam às nadegas e alimentam a vã esperança de uma desatinada. Há muitos, muitos anos, a minha irmã coleccionava as desgraçadas peripécias da mais famosa orfã da manga japonesa. Às escondidas, ia espreitando na caderneta o desenrolar dos acontecimentos e torcendo para que my sister arranjasse os cromos 14, 27 e 89 para se conhecer o desfecho das histórias pendentes. Mas mais dramático que a agonia de uma história com brancas é a firme convicção que milagres sucedem, ao ritmo da instantanea metamorfose do milho em pipocas. Conheço uma pessoa cujas nalgas são um imenso expositor de um drama humano. Estão carregadinhas de auto-colantes, com a promessa que, em 15 dias, a pele se transforma numa aveludada epiderme da chancela Giselle Bündchen . Louve-se a inabalável fé de uma crente. Mas antes adepto da Candy Candy na penumbra que crédula às claras do tempo-volta-para-trás

quarta-feira, agosto 9

Abanar a carola

Twisted Sister - We're Not Gonna Take It


Não custa nada... é só investir coordenadamente em movimentos bruscos para trás e para a frente... e também assim de ladecos. O efeito é potencializado se possuirem uma longa melena. Se foram ao baieta mais recentemente, há estabelecimentos comerciais que alugam chinós

Separados à nascença

Partilham o mesmo olhar penetrante, que atormenta e esfrangalha a mais estóica das existências. O Max não conseguia, porém, fazer aquele jeitinho à boca, tal qual sequela de trombose. A Ana, por seu turno, fez batota e plastificou a região peitoral, que o Max foi malhando com muito suor de ginásio. Mas a Ana desenvolveu naturalmente o gene nadegueiro. O Max bem tentou, mas sempre lhe faltou um bocado de rabo. Em comum, o gosto pelas letras. Escrevinharam-se pelo corpo todo. O Max perpetuou os ensinamentos evangélicos, a Ana prosas de música de embalar. Um exemplo que podemos descortinar na zona pélvica:
Sabes que começou no A... A, A, A
E a seguir vem o E... E, E, E
Inteligente é com o I... I, I, I
U depois do O faz o A, E, I O, U

terça-feira, agosto 8

House maid

Sempre me impressionou a série de características inatas das crianças. Com poucos meses de idade, é vê-las nadar como campeãs, sem que para isso tivessem de passar por um curso intensivo por correspondência. A minha filha, por exemplo, já dobrou os dois anos de idade e agora começa a manifestar impulsos compulsivos de criadagem. Com um zelo que me emociona, é célere em procurar-me os sapatos quando me preparo para sair de casa. Pergunta se está tudo a meu gosto e, antes de me calçar, tem ela a iniciativa de me borrifar os ténis com o spray anti-cholé. É um mimo sermos mimados. Só tenho pena é que certas pessoas cá em casa, que se insurgem contra as etiquetas made in Taiwan e Indonésia, permitam substituir-se por uma tenra vivalma, que cedo se prepara para as exigências de um futuro lar a seu cuidado

Barbear para ganhar

Era ainda muito manhazinha. Enquanto esperava que saisse o caranguejo para ganhar o loto dos animais, fui dando uma pestanada aos Europeus de atletismo. Por motivos de compromisso com os contribuintes, a televisão pública tinham acabado mais cedo com o Zip Zap para dar corridas e saltos. Como o raio do caranguejo nunca mais saía, fui acompanhando de soslaio a transmissão. Em cinco minutos, deduzi que as atletas giras não ganham nada. Vide o exemplo do triplo salto. As feias deram um tratado às bonitas e qualificaram-se todas para a final. Naquela manhã, a formosura da Simona, aqui no meio de dois estafermos, foi esmagada pelo acne da Bufalova ou o buço da Safronava. Obvio que há excepções na alta competição, curiosamente da lavra nacional. Nomes como os de Rosa Mota ou Fernanda Ribeiro desmistificaram esse preconceito e vulgarizaram os penachos nas axilas

segunda-feira, agosto 7

Os loucos anos 80

O que é isto? O que é?
A Sophia Loren a atravessar uma esquina!
...
E agora isto? Sabem?
Um quadrado com três riscos!
...
E isto? E isto?
Um autógrafo do Stevie Wonder!

Um rei a dar cartas!

Os senhores da rádio engraçaram comigo. Há umas semanas atrás, recolheram dois punhados das minhas incoerências literárias e obrigaram um pobre coitado a debitar a complexa prosa para um microfone. Estava nervoso o pobrezinho. Não acertou com as pausas e subverteu o conteúdo das mensagens que procuro transmitir . O desvelo no que escrevo foi completamente desbaratado por um estagiário e deve ter indignado as cinco pessoas que, naquele momento, trocavam a praia pelas colunas áudio. Complexados com tamanho deboche de locução, os senhores da rádio elegem-me no respectivo endereço como "O blog" há três semanas, ignorando quem entretanto teve direito à sua hora de fama. O facto do webmaster da intacta página ter ido para mergulhos na Fonte da Telha é de somenos importância e só será evocado pelos invejosos

FeioHomeMacho

Não comecem já a fugir. Não se trata de um antes e depois. É mais do género do afinal-sempre-há-improbabilidades-mais-prováveis-que-ganhar-o-Euromilhões. Perguntarão, boquiabertos, que raio fará a mulher mais linda de Portugal junto do trombudo-mor do ranking dos carrancudos? Eu também já ando um bocado cansado de ouvir cochichar a mesma pergunta sobre a minha pessoa e a Maria, mas agora foquemo-nos neste casalinho. O Marco Ferreira é o exemplo de que perfilhar com ninfas do Sado está ao alcance de todos. E nem sequer é preciso ser inteligente (nem bom futebolista) para compensar as maldades do Criador. Por isso, se forem feios e pouco dotados de sabedoria, façam como o Marco. Arranjem uma marreta, aguardem numa esquina pela vossa deusa e, à traição, apliquem-lhe uma certeira traulitada na mona. Se não abusarem da força e a atirarem para estado vegetal, têm ali mulher para umas valentes salganhadas durante uns tempos. O pior é quando passa o efeito. Não fosse a FHM lembrar-se de dar a esta rapariga umas bananas para descascar, continuaria a Helena no doloroso processo de auto-flagelação

domingo, agosto 6

Barrigadas de Colombo

Com o conluio do Instituto Nacional de Estatística, o Estado anda a pregar uma grande peta à comunidade. Queixam-se que a taxa de natalidade anda a cair a pique. Sinal dos tempos modernos e da emancipação feminina. Eu até acho bem que as senhoras tenham rebentado os grilhões das lides domésticas. Mas desconfio que a libertinagem lhes abriu os apetites e vai de emborcar melancias inteirinhas. Senhor primeiro-ministro, não tema pela reciclagem da população portuguesa. Vá dar um giro ao Colombo e faça as contas. Fazendo uma estimativa por alto, em cada dez mulheres a cirandar por lá, pelo menos umas seis estão a arrastar as barrigas pelos corredores. Outras duas deixaram o ventre materno há um par de semanas e já se vestem à Britney Spears. Uma é a minha Maria a salivar pelas montras e a sobejante é brasileira, tem uma bata creme e está a limpar os cinzeiros. Enquanto cuidamos em não ser abalrroados por uma barrigona, podemos facilmente deduzir que ainda há muito truca-truca a dilatar os abdominais das senhoras parideiras. Eu?!... Isto é da cerveja senhor leitor

Fogueira das inutilidades

Juntem três notas de 20 euros. Em alternativa, uma de 50 e outra de 10. O que interessa é que totalizem 60 euros. A primeira opção proporciona, porém, um espectáculo pirotécnico um pouco mais duradouro, pela maior proporção de material combustível. Não abusem do alcool etílico. Três ou quatro gotinhas, que sirvam apenas para atear a combustão. Se ensoparem o papel, aquilo arde num instante e vocês não usufruem nada. A ideia é assim para o rebuscado, mas foi mais ou menos isto que eu fiz ontem. 60 euros investidos em determinado produto que se revelou perfeitamente inutil. Estão a ver aquelas coisas que vocês querem muito mas que estão esgotadas em todo o lado? E de repente, alguém vos liga a dizer que acaba de ver toneladas daquela coisa pela qual vocês quase degolaram num determinado estabelecimento. Praticamente a seguir, vão vocês a correr que nem doidos para adquirir o ansiado produto. Meio desconfiados, olham e voltam a olhar para essa coisa, não acreditando que têm aquilo nas mãos. Pagam e vão todos satisfeitos para casa. No dia seguinte, alguém vos diz que aquilo, afinal, não presta para nada. Aquilo, afinal, não tem o efeito milagroso que vos mudaria a vida com a facilidade de um click. Há pior. Assim de repente, estou a lembrar-me da probabilidade de sofrer um desarranjo intestinal no meio de um mato de urtigas

sábado, agosto 5

Istambul by night

Os mais impressionáveis... vão dar uma volta ao bilhar grande e não me chateiem. Mas prometo ser breve para não arrastar a agonia. Há um par de anos, fui a Istambul em trabalho. Entre o grupo de operários, calhou-me um gajo perturbado, mas de boa índole. Passou a viagem de avião a beber. Dizia que tinha pânico de voar e que aquilo o distraia. A cada trago acentuava-se o ritmo do paleio. Falava pelos cotovelos, calcanhares, joelhos e demais dobradiças. Percebi, por entre a fonética cada vez mais enrolada, que o tipo tinha uma tara descomunal por mulheres. Há quem seja mais sensível ao sexo feminino. Há quem goste. Há quem não goste. E há os que se viram do avesso por um rabo de saia. Parecia ser o caso. Já na capital turca, arrumámos a trouxas no hotel e fomos jantar. O maluco bebeu uma garrafa de tinto local e ainda surrupiou umas goladas da garrafa partilhada pelos outros três comensais. Com o depósito atestado daquela maneira, podem imaginar a condição do rapaz. Cansados e de orelhas inflamadas do cacarejar alcoolizado, ainda desmoemos o jantar com o regresso a pé até ao hotel. A cerca de 50 metros do destino, um estabelecimento com umas luzes neon deteve a excursão, por ordem expressa do bêbedo. Choramingou uns valentes dez minutos, mas ninguém o quis acompanhar. À porta, ainda acenou, mas teve de resposta um ou outro gesto mais obsceno. No dia seguinte, o rapaz tardava em juntar-se ao grupo. No hall do hotel, já todos bufavam pela seca monumental. Quando começávamos a amesquinhar a dignidade da mãe do dito, a recepcionista dirigiu-se, comprometida, a nós e perguntou-nos se estávamos com o tal maluco. Sim, porquê? Parece que há um problema. Algum de vocês pode acompanhar-nos? Não foi um, foram todos, junto com a recepcionista e dois seguranças. A adrenalina subia ao ritmo do galgar do elevador. Chegados à porta do quarto, todos tremiam e nenhum dos funcionários do hotel se aventurou a tomar a iniciativa. Num assomo, adiantei-me, pedi o cartão à recepcionista e abri a porta. Está morto! Esquartejaram-no!, pensei de pronto. O quarto era todo salpicos avermelhados, com pedaços de não-sei-o-quê anexados às manchas. O pivete era indescritível e penso que ainda hoje me vem o cheiro quando fico assim mais enervado. Sem me descontrolar, fui abrir as persianas, temendo que seriam as minhas últimas horas de liberdade. Mas, qual Lázaro, o morto depressa se ergueu dos lençóis putrefactos e, na maior das ligeirezas, desatou a dar bons dias a toda a gente. Logo depois, olhou para debaixo dos lençóis e avisou ao grupo de boquiabertos que estava todo nu. Furibundo com aquilo tudo, pedi-lhe que desse uma garujada ao espectáculo que o envolvia. IIIiiiiii, vomitei-me todo. Pois... Qualquer semelhança com a ficção é pura realidade

sexta-feira, agosto 4

Mea culpa!

A verdade: os disturbios mentais provocados por sucessivas manhãs no meio do trânsito
A consequência: fôiasse... caiáiu
O conselho útil: vão a pé
O conselho inútil: não a deixem brincar com o alho que ainda pode dar confusão, engenheiro Kunhas dixit

Frustrado e mal pago

Numa optica mais pessimista, podemos dizer que, feito um aturado balanço dos deve-e-haver, a vida não oferece grande justiça. Eu acho que devia ser milionário. Em vez de estar aqui nestas parvoíces, rabiscava umas coisas numa tela e vendia a criação a preço de um T5 em Telheiras. Mas não. Quis Deus brindar essa fortuna à borderliner Paula Rego. A mulher nem sequer acerta com o rimel, mas cada necrose que idealiza é logo transaccionada por milhares de euros. Não entendo. Sinceramente não entendo. E já nem falo das bufas que aparecem por aí. Ou dos quadros que denunciam o resultado de uma lata atirada à pinha da conjuge. Não é excessivo choramingar. Tenho lá em casa um monte de tralha, como a que pode ser testemunhada em anexo, a alojar populações de ácaros. A minha criatividade é, neste momento, um pirolito depois de uma amona à traição

Juizo finado

Tenho a memória de curto-prazo em farrapos. Temo que o chip tenha dado o estoiro e já não haja fusiveis para repor. Chateia-me levantar-me da cadeira com o intuito de aliviar a bexiga e, micro-segundos depois, esteja a desabafar para mim: Oh meu nabo, onde é que pensas que vais? Pois, não penso, porque já não me lembro. Depois, chateia-me estar todo torcido na cadeira, aflitinho para fazer xixi e a vociferar contra mim próprio: Oh grande choné, podias já ter ido mudar as águas mais cedo. A solução é começar a apontar tudo num caderninho. O problema é que depois me esqueça do impulso que me motivou a pegar na esferográfica e a escrevinhar na folha, já pejada de quadradinhos, circulos e losangos em perspectiva. Sempre abominei Geometria Descritiva, mas a disciplina deu-me as bases para o preenchimento dos períodos inuteis, que nos transformam em rabiscadores compulsivos. É por estes pormenores que eu nem acho mal a escola... Mas onde é que eu ia?

quinta-feira, agosto 3

Acudam!

Primeiro vão deitar as crianças. Os mais impressionáveis também façam o favor de abandonar a sala. Tudo pronto? Adiante. Ordenavam-se em circulo 26 papelinhos com a respectiva letra do alfabeto. Outros dez com os números de 0 a 9. Entre os algarismos e as letras, mais dois papelinhos, um com SIM e outro com NÃO. Um copo, de preferência dos que os miudos agora usam para se embebedar com shots, um grupo de corajosos e já está. Foi um vício que durou um ou dois anos e que só terminou quando apanhámos um cagaço das antigas. Desde o primeiro contacto que fizémos amizade com uma rapariga. Tenho pena de não me recordar nem do nome nem da história que a levou ao convívio com os espíritos. Só me lembro que eram grandes cowboyadas. Óbvio que a esmagadora maioria das coisas que a miúda prognosticou não se concretizaram. O refúgiado belga era o mais cretino. Chegou a perguntar quando é que ia morrer. O aveirense emocionava-se e passava o tempo a fungar. Eu levava a coisa um bocado na desportiva. Fizemos grandes galhofas os quatro. Passámos um reveillon em minha casa na maior das alarvidades. Era fresca a miúda. Oh se era. Só não publico o conselho que nos deu quando saímos para o que restava daquela noite porque a minha Maria vem cá dar umas espreitadelas amiude. O trágico desfecho ocorreu lá para as bandas da Serra da Estrela. O cenário da casa isolada no meio do nada (literalmente) abriu-nos o apetite. Vai de mais um encontro imediato. A miúda não estava bem. Tinha sido arrastada para o limbo. Solicitava, em pânico, por socorro. Batiam-lhe. Aquilo magoava-a. E dói. Dói. Ajudem-me. Ajudem. Eu transpirava. O cretino do refugiado belga empalidecia. O copo rangia sobre a mesa, para trás e para a frente. Dissemos-lhe, já com os tin-tins mirrados como ervilhas, que íamos em busca de auxílio e acabámos com aquilo. Ainda hoje espero pela factura da jovem do limbo

Deixaram-me uma mensagem no telemóvel já em plena madrugada. O refugiado belga, a banhos no Algarve, recordou-me que a miuda se chamava Solange. R.I.P.

Lunáticos Obcecados Sem Terra

Concedo-vos cinco minutos para esventrarem um passeio e munirem-se com baldes de pedras. Já está? Agora, esses mesmos histéricos oiçam primeiro de minha justiça antes de começarem a apedrejar-me. Esta série é a maior banhada da história. Mas mesmo sendo uma merdunça intragável, tem o miraculoso mérito de reunir milhares de milhões de alienados. Não entendo como se pode ficar de ventas coladas ao televisor a acompanhar as peripécias de um grupo de infelizes a circular por uma ilha. Aquilo é quase como os açorianos, mas (felizmente) com legendas. Forçados a uma insularidade demente, andam a fugir de qualquer-coisa-que-nunca-se-sabe-o-quê, mas que rosna de forma ensurdecedora. Eu sou do tempo da Galactica, a série que motivava os miudos a juntar quatro tampas BIC para simular uma nave espacial. Não tem nada a ver com esta treta, que deixa a Maria a salivar e com espasmos de privação

O tempo só anda para a frente

Pensava a Isabella que isto era só apanhar boleia dos genes da Ingrid Bergman e garantir uma estampa eterna. Misturar o gélido sangue nórdico com a irascibilidade latina pode proporcionar resultados exóticos, mas não oferece a imortalidade. Qualquer dia, também eu vou ter de me conformar com as rugas da Helena Christensen, mas até lá, outras pombas vão caindo. Neste caso concreto, isto não é de agora. Já lá vão uns anos, quando uma conhecida multinacional de produtos estéticos correu com a rapariga. Caiu o Carmo e a Trindade entre a comunidade de pré-reformadas. Aquilo era a mais terrivel forma de apartheid e não-sei-quê, quando apenas se tratava da selecção natural das coisas. Entretanto, conheço certas e determinadas pessoas que andam com auto-colantes nas coxas a alisar a esperança num elixir da juventude

quarta-feira, agosto 2

Adeus oh vai-te embora!

Como devia ter sido: Aquele sol da manhã ainda cega. O calor ganha embalagem para a torreira da tarde. A rapariga do Clio branco sorri-me timidamente e segue viagem. Um pouco mais à frente, é um Punto cinzento que se me atravessa. A mulher solta uma das mãos do volante e acena-me lá de dentro. Seguindo viagem, é agora uma transeunte, de cabelo ainda molhado, que me fita e volta a sorrir-me. Quase chegado ao emprego, uma trintona faz uma manobra de marcha à ré e, pelo retrovisor, procura-me o olhar. Moral: há uma aurea de líbido neste Verão.

...

Mas assim é que foi: Raios parta o sol, que não consigo ver um boi. É que já farta. É isto de manhã. É isto no final do dia. Nunca mais chega o céu carregadinho de nuvens. Olha-me para esta do Clio. Deves estar a esquecer-te que sou eu que venho pela direita. Vá lá, passa lá, vá. Mas o que é isto!? O que é isto, minha senhora?! Um Punto novinho que ainda se arrisca a ficar todo escangalhado com essa manobra. Vá, mude lá de faixa. Sou um santo, livra. Ai a porra, olha outra... Então a senhora não vê que a passadeira é lá mais à frente?? Estas gajas suicidas, pá. Depressa rapariga.. atravessa lá isso depressa. O que vale é que tou quase a chegar... Eeeiiiiiiiii!!! Mas o que é isto??!! A sair do parqueamento assim à maluca. Quase que me arrebentavas o capot, pá. Ai se eu não travasse a tempo. Pronto, pronto. Não me faças esse ar de carneirinha. Segue lá, vá. Moral: ser simpático é sexy.

Cachucho

Para os detractores do Fanã, a resposta do conceituado técnico foi dada em Atenas. Para quem duvida das potencialidades do senhor, a máquina trituradora do AEK é o exemplo fiel que o engenheiro trabalha à séria. Não é qualquer equipa que dá aquele festival de bola e o mérito é todo do Santos. Mas na carreira deste treinador, a capacidade anda de mãos dadas com algum azar. O infortúnio do destino ditou que se juntassem na capital grega o pai e o monstro por si criado. Danado com o abandono, o órfão aviou um arraial de porrada ao progenitor, recorrendo aos ensinamentos de outrora. O Fanã ficou todo (de) vermelho. Graças a Deus, sou do Olivais e Moscavide