domingo, dezembro 31

SIC Tragédia


Enquanto os Estados Unidos se apressam a enforcar ditadores, por cá assistimos impávidos a mais uma sangrenta facada no humor. Hoje morre o único canal dedicado exclusivamente a inspirar sorrisos nas nossas sorumbáticas trombas. Hoje é um dia triste. Adeus Jerry, George, Kramer, Raymond, Frasier, Renee, Smith, Jones, Conan e Leno. Saber rir dos outros e com os outros. Perde-se agora embalagem

sábado, dezembro 30

Soberba decalcada

"Nunca escrevi nada tão bem", Clara Pinto Correia, escritora, cronista e copy writer, em reverência à sua nova criação intelectual

sexta-feira, dezembro 29

Antes uma casa, hoje um armazém

Era uma casa muito engraçada,
Ainda tem um tecto,
Mas sem espaço para mais nada.
...
Ninguém pode entrar nela, não,
porque nessa casa
é só brinquedos pelo chão.
...
Ninguém pode fazer chichi,
para alcançar a casa de banho
nunca mais se chega ali.
...
Mas é cuidada com muito esmero
Na rua dos tolos, número zero.

quinta-feira, dezembro 28

Atiça a cobiça

Anda tudo histérico aqui no emprego. Depois de levar com a palavra do Senhor durante as intermináveis festividades natalícias, regresso ao trabalho e apanho com palavras de jocosa denúncia sobre uma imprudente prática lasciva. Já ninguém faz segredo do grande acontecimento depois da publicação das memórias da Carolina Salgado. Parece que num destes dias mais calmos, o nosso segurita foi presenteado com uma sessão de sexo à borla aquando de uma das rondas. Como é diligente nas responsabilidades e vasculha todos os cantinhos empoeirados, o nosso segurita surpreendeu, numa dessas áreas recôndidas, um casalinho em empenhado ritual copular. Foi do género peep-show mas sem ter de largar moedas para a ranhura. Só ainda não consegui destrinçar se andam a apregoar a denúncia com repulsa ou se há por aqui muita cobiça encapuçada. É que as mais alcoviteiras já são entradotas ou mal casadas

quarta-feira, dezembro 27

Anjo mameu

Há dias castradores, como estes da ressaca natalícia. Arrastam-se por tarefas mesquinhas, sem alentos que instiguem pequenas felicidades. Dias quase fúnebres, sombrios como túneis labirínticos e sem saída que se vislumbre. Carregamo-nos no cinzentismo e esperamos pelo ano já a seguir. Que traga a luz e cor que nos compensem. Mas a apática resignação pode, por vezes, ser alvejada com imprevistos capazes de adoçar as jornadas de fel. Novas de fora que nos acalentam esperança. Afinal, populam por aí vidas bonitas, que consolam um quotidiano deprimido. Procuraram-me para deixar uma missiva nobre. Um exemplo de auto-estima reconstruída, que nos obriga a revolucionar o cepticismo sobre a humanidade. Afinal, há quem lute e, sobretudo, se reedifique, deixando-nos portas abertas para, solidariamente, compartilhar o novo invólucro. Deixo-vos o testemunho da Stacy, uma amiga que se me dirigiu no Hi5 para me florear o ânimo. Bem hajas, anjo peitudo.
...
"Gosto de música, rapazes e festarolas, não necessariamente por esta ordem. Consegui finalmente juntar umas coroas e fi-lo. Ora dá lá uma olhadela aos meus implantes. Passei de uma copa bê para uma cê e foi a melhor coisa que fiz em toda a minha vida. Sinto-me maravilhosamente e ainda não acredito no tempo que esperei para o fazer. Amo o meu novo eu. Estás à vontade para me adicionares como amiga. Adoro conhecer gente nova".

sábado, dezembro 23

Pela causa

Como é Natal, não se pode falar mal
Volto depois das prendas

sexta-feira, dezembro 22

Suou-me mal

Recentemente, o destino apresentou-me um complexo desafio de decoro. A prova arrancou assim que coloquei os coutos num estabelecimento comercial. De súbito, apareceu-me uma Sylvie Dias de farda decotada, cheia de fernicoques e sorrisos. Estava à vontade para dispor dela. Primeiro pretexto para o imperativo imediato que gelasse a imaginação fértil: conceber a eurodeputada Ana Gomes fantasiada de Herman José... ou o Herman José transvestido de Tia Caturra, que vai dar à mesma coisa. Adiante! Lá respirei fundo, literalizei a simpática disponibilidade e deixei-me de obscenidades. Disse-lhe então ao que vinha, motivo que a estimulou a aproximar-se um nadinha mais, quase colidindo com a aura de minha propriedade. Como aquela existência esticava para lá do 1,80, a desnudada área cardíaca afrontou-me os argumentos ópticos. Preparava-me para desfalecer quando descortinei novo ponto de referência. Qual bálsamo que me reanimou as fraquezas. A menina sustentava um nutrido e farpado buço, polvilhado de perolazinhas transpiradas pela derme. Um género de purpurinas orgânicas, que lustravam os vigorosos pêlos. Prestes a denunciar-me pelo paralizado fito naquele exagero, retive-me no vazio. Reflecti na ténue barreira do fascínio. Ora lânguido, ora enfermo. O que bonito nos possa parecer, no couro pode desfalecer. Ou, por outras palavras, nem tudo o que parece transpirece

quinta-feira, dezembro 21

Rabo de tralha

Manifestação simplista em expressão plástica de tributo ao alívio das vísceras. Na zona nadegueira, a incorporação diluída de um panfleto na carne humana. Reprodução gráfica da simbiose entre a ilusão do corpo e a existência que simula. O aparente camuflado no evidente. Um rabo que se consola com a brandura da necessidade premente. O bacio que acomoda. A vulva que acama a semente, que, por sua vez, germina o gás pútrido dos detritos rejeitados. O esfíncter que purifica as entranhas, em descargas fedorentas para conforto intestinal. Não me digam nada, mas há melhor que uma boa cagada?

quarta-feira, dezembro 20

Fado malhado

Ai Carolina, o que fizestes (ta, tan, ta, tan)
Tramastes o papa que amastes (ta, tan)
Perdoa-lhe meu bom senhor (ta, tan, ta, tan)
Que aquilo foi dor nas hastes (ta, tan)
...
Carolina alma perdida (pim, pirim)
Deixastes teu esposo, sua cama (pa, pi, pim, pim)
Viestes prá rua esquecida (pa, pim)
Que devoção merece quem ama (pa, pi, pim, pim)
...
Exposestes vossa intimidade (pa, rim, pam, tan)
Dissestes que o senhor se bufava (pa, tan, pam)
Escrevestes tamanha alarvidade (pa, rim, pam)
Quando aquilo até nem cheirava (pa, rim, tan, tan)
...
Queixastes-te que o Jorge era mau (pa, rim, pa, pam)
Que vestia do lobo a pele, (tarim, tarim)
Ao capuchinho dava tau-tau (pa, rim, pa, ram)
Ao Bexiga, arreava nele (pa, ri, pim, pim)

terça-feira, dezembro 19

Heitor Canimal

Volto às curiosas deambulações por este inesgotável espaço lúdico de trabalho. De uma penada, arranja-se um vasto leque de personagens curiosas, que me enriquecem a vida. Encho-me de orgulho por ser brindado com funções que proporcionam um salário mensal e nutrientes sociais de indispensáveis mais-valias. Hoje recordo o Heitor, nome fictício de uma personagem que se identificava pelo aspecto franzino, cabelo heavy metal e parque automóvel heterogéneo. Para o dia-a-dia, recorria ao AX branco, que também servia de guarida ao simpático rafeiro que o acompanhava. Escrupuloso cumpridor de horários, saltava da cama direitinho ao emprego, juntamente com a pochete da espuma e lâmina de barbear. Chegava ao edifício ainda a tempo da higiene íntima na casa de banho pública. Não era muito falador. Preferia o sossego para aparar as pontas espigadas da melena. Nas noites de movida, metia-se no Lótus vermelho para angariar candidatas que lhe alimentassem a ocupação artística. O Heitor, já retirado das lides desta casa, continua hoje a ser considerado uma adiada promessa na arte de fotografar. Neste caso, fotografar mulheres nuas, com especial incidência na simulação de práticas bondage. Não sendo particularmente dotado pelo Criador na fisionomia, a verdade é que o Heitor rodeava-se por verdadeiras estampas, que se desnudavam a troco de uma voltinha no descapotável. Eu escolhi as telas, mas sem Lótus não fui a lado nenhum

segunda-feira, dezembro 18

Sobre rodas

Amigo Pai Natal. Quero que saibas que, no meu entendimento, a Lapónia é a materialização dos ensejos mais lúdicos do ser humano. Os queixumes dos intriguistas sobre o frio e as artroses esvaziam-se com o vigor que exibes anualmente e o musculado colo que ofereces aos pituchos. Inóspitos são os rabos dos paizinhos deles. E sobre as grosseiras piadinhas que questionam a tua inexistência, devo dizer-te que escarro o mais consistente e esverdeado muco sobre os acéfalos cépticos. Tu reproduzes-te por todos os espaços comerciais e afagas com desvelo os rostos carnudos da criançada. É, por isso, irrefutável a tua existência. Vai agora fazer um par de anos que quase ceguei com o intenso reflexo da lua sobre as polidas lâminas do teu trenó. Desculpa o caruncho da chaminé no Natal passado. Descurei porque a Maria traiu a minha credulidade e insistiu que tu agora preferias deslizar pelo exaustor, com uma treta qualquer sobre ajustamento aos tempos modernos. No rescaldo de mais um ano, apenas me penetencio pela Cice proferir com destreza caiaiu e foiasse. Mas garanto-te que apenas vocifera quando está mais importunada com alguma contrariedade. Pelo acima transcrito, tomo a liberdade de te pedir para este ano esta geringonça. Já me satura ser olhado com desdém pelos seguritas do Colombo. Mas juro, Pai Natal, que ainda não empurrei nenhum
...
Se, mesmo assim, achares que não mereço o mais castiço andarilho do mundo, deixo-te duas alternativas: esta ou esta

domingo, dezembro 17

Vira Falo

A RTP anunciou que começará a realizar em breve uma nova versão da Vila Faia, saudosa telenovela portuguesa. Seguem as negociações para as cenas de sexo entre João Godunha e Mariette

sábado, dezembro 16

Tom "Wolf"

Provavelmente... o arroto mais melodioso de sempre

Homenagem a um benfiquista com polido sentido de humor e que sofre tanto ou mais que eu com as experiências do Fanã

As feias catitas

Há mulheres feias. Tão feias que carregam o estigma ao longo de uma vida de quase retiro. Cansam-se das piadas e dos esgares agoniados de terceiros. Encerram-se nos quartos e desidratam em lágrimas, responsabilizando o espelho pelos fracos atributos, tal qual há anos atrás se degolavam os mensageiros das más novas. Há mulheres cuja fealdade está tão entranhada na carne que não existe tecnologia plástica sofisticada que faça milagres. Mas também há outras que convivem bem com a ideia do não-te-safas-com-essa-cara-de-estafermo. Capacidades invejáveis em outras áreas quase as transformam em top models. Mulheres que atraem por argumentos vísceros de um interior cheio de talentos. A Zezinha Morgado é feia pra cacete, mulher-sardinha com sapatos ortopédicos, mas o material daquele bibelot não quebra. Cresce para os poderosos e agora promete acabar com as bufas fedorentas do futebol português. A Felisbela é um nadinha mais jeitosa, mas tem cara-de-ter-acabado-de-acordar qualquer que seja a hora do dia. Aquilo dá-lhe alguns problemas de mobilidade, sobretudo quando tropeça nas intermináveis olheiras. Mas seduz-me a ligeireza na detecção dos erros e incoerências de uma comunicação social agrilhoada à sufocante corrida dos exemplares comercializados. Enfim, em época de Natal, são duas fadas que não vamos encontrar nas prateleiras dos hipermercados, mas desconfio que também não queiram estar à venda

sexta-feira, dezembro 15

Os vassoureiros tiroleses

O Inverno traz-nos o frio, o Natal e a modalidade mais hilariante de todos os tempos: o curling. Um desporto que junta colectividades de aposentados, que, por sua vez, têm de arremessar umas chaleiras de granito até um alvo. Ganha quem acabar com mais artefactos junto da bolinha impressa no gelo da outra ponta do recinto. O fundamento ficar-se-ia pelo simplório não fosse uma particularidade que coloca esta prática desportiva nos píncaros das mais desconcertantes coreografias: um par de loucos septuagenários com umas vassouras na mão, esfregando descontroladamente no pavimento, enquanto a robusta chaleira se arrasta pelo gelo. Talvez pela aplicação insana e histérica dos vassoureiros, não consigo mudar de canal sempre que a Eurosport me presenteia com as aguerridas competições da peculiar prática desportiva. A caminho do encerramento do canal SIC Comédia, eis a alternativa possível para as tardes do fim-de-semana. Há profissionais desta treta, quase todos reformados da função pública e pagos a peso de ouro. Há pavilhões com mais assistência que muitos jogos do nosso campeonato de futebol e o mais incrível é que ninguém é internado depois da jogatana

quinta-feira, dezembro 14

Tetações

Um recente debate sobre os ofícios telefónicos lembrou-me a funcionária encarregue da complexa tarefa de encaminhar as chamadas aqui da casa. Nunca vi tanto empenho de uma mulher em premir teclas. Mais ainda. É raro beneficiarmos da oportunidade de conviver com pessoa de fôlego tão inesgotável, capaz de, num dia inteiro, rodar pela numerosa familia. Alguns entes, os mais chegados, têm mesmo direito a uma atenção suplementar. Chama-se a isto criatura de índole magnânima, com coração quente e amplo. Tão amplo que dilata violentamente a caixa torácica, a ponto de denunciar duas glândulas mamárias de proporções avantajadas. Tão avantajadas que desencadeavam eplilépticos afrontamentos de líbido a um antigo parceiro de trabalho. Não imaginava que um par de nutridos seios pudessem inspirar tão distorcidas fantasias. Até porque a criatura nem prima pela beleza. Há quem lhe apelide, de forma grosseira, cara de cavalo. Os mais polidos preferem chamar-lhe Rossy de Palma, uma das atrizes ícone do Almodovar e a cara chapada (ou estalada) da nossa telefonista. Quanto a mim, respeito-lhe a frontelidade e o zelo com que cuida do que é seu. Como naquela vez em que se engalfinhou com a segurita quando descobriu que a meretriz ligava o aquecedor de sua propriedade nas madrugadas de Inverno mais rigoroso. Realmente, também acho mal. Temos de ter peito para quem cobiça desenvergonhadamente os nossos bens. Por vezes, não há pára-choques, nem airbags, capazes de evitar embates frontais com invejosos que andam à mama dos pertences no seio de terceiros

quarta-feira, dezembro 13

Cagonia

Tomo-vos hoje algum tempo para o merecido tributo ao nosso engenheiro dos sanitários e demais inutilidades. O senhor engenheiro, Pinguim para os mais íntimos, cumpre nos desígnios mandatados pelo patronato. É justo reconhecer que a atacarracada figura não tem mãos para tanto serviço. Desde o fusível esturricado à maçaneta da porta afrouxada, todos os acidentados imprevistos são zelosamente anotados no caderninho de incumbências. Cansa de tão pronta a prontidão do Pinguim. Com meia dúzia de andares ao encargo, vão-se acumulando as anotações e desbastando árvores para alimentar a celulose amarelecida dos post-it do senhor engenheiro. Além do critério no cuidado da infra-estrutura que nos alberga, o Pinguim gosta também de controlar o parqueamento. Na sua fronte, o edifício desta empresa exibe orgulhosamente uma interminável linha amarela, que o Pinguim tratou de rabiscar com a sua trincha de pêlo de morsa. Infeliz seja o aventureiro que se atreva a calcar o quilómetro de tinta tingida sobre o pavimento. Segundos volvidos, um exército de agentes da Direcção-Geral de Viação e toda a infantaria da Brigada de Trânsito vem pedir contas ao criminoso que maculou a expressão plástica do Pinguim. Espero que a comparticipação da Emel nos 2,5 euros requisitados para arrumar diariamente a viatura no proxeneta parqueamento sirva para o senhor engenheiro se dignar a trocar de vez o autoclismo da latrina do segundo andar. É que já estou um bocado cansado de mergulhar a mão na água para levantar a rolha do engenho

terça-feira, dezembro 12

Pêlo sem desvelo

Pêlo meu que desbota
Pêlo dele que só brota
Tem pêlo que nasce assim
Num revolto frenesim

O meu cai do cocuruto
O dele prospera, astuto
Oh cabelo que me escapas
Que no dele firmas como estacas

A cabeleira mirra em calvicie
E aponta-me, bruta, à velhice
A dele cresce emaranhada
A minha desfalece encalacrada

Adeus pêlo, que me deixas
Para no outro alindares madeixas
Some-te na àvida cobiça da laca
E espeta-te na carapinha do Chewbacca

Arre, com a breca, que estou a ficar careca

segunda-feira, dezembro 11

Oups... i did it again

Nunca gostei de igrejas. Fazem-me lembrar amplas salas mortuárias, com frescos e um pé direito de fazer inveja a muitos T2 pela IC-19. Mas no sábado, por directiva do Criador, fui testemunha do enlace religioso do par que há mais de três décadas perfilhou quem vos escreve. Correu tudo muito bem. Seguindo as instruções prévias do meu pai, só tive de carregar a noiva até ao altar e levantar-me as 38 vezes estipuladas pela cerimónia. Mais uma vez, resisti à curiosidade de degostar a hóstia. Segundo as regras, não sou digno do ázimo, porque não me confesso há 32 anos. Acho mal, pois julgo-me isento, dada a imaculada peregrinação da minha existência. Depois, só foi complicado explicar à Cice o que fazia ali o papá Jeçus de cueiros, espetado numa tábua e com rubor liquefeito pelo corpo todo. Expliquei-lhe que estava de castigo por mais uma vez não ter pedido para ir ao bacio. Vamos lá ver se é desta que a miuda deixa as fraldas...

sexta-feira, dezembro 8

Está Láda

Provavelmente... uma dor de cabeça

Passava no Canal Panda de 30 em 30 minutos. Passa agora no nosso DVD de três em três

quinta-feira, dezembro 7

Engengarde!

Imaginem a mulher mais bonita do Mundo, depois da Helena e da minha Maria-quando-está-maquilhada. Já concluíram o exercício? Pois saibam que o resultado anda a cirandar pelas instalações do meu local de trabalho. Doutorada nas lides informáticas, a bela senhora carrega no rosto um par de olhos verde-cristalino que encadeia até à cegueira da paixão. Com silhueta de 20's, a referida idolatrada anda pelos 40's e pariu um filho que já fez a muda da voz e tem o dobro do meu tamanho. Vai motivando uma colectividade de adoradores, que caminha a passos largos para números semelhantes aos de associados do Benfica. Charmosa, perfumada e deliciosamente intocável, a engenheira lá concede de quando em vez e aceita partilhar comigo o elevador da sub para as sobre-caves. São curtas levitações de mudas partilhas, que me convidam aos insistentes devaneios sobre as artes que a engenheira vai apurando nos momentos de lazer. Não bastasse ser linda de rebentar todos os parâmetros da estética, a engenheira tem dotes no manejo do florete. Laços estreitos e familiares com os maiores especialistas nacionais em esgrima artística. Um verdaderio touché ao coração dos mais desprevenidos

quarta-feira, dezembro 6

Fúria major

Depois do Clark, falo-vos hoje de outra distinta personagem que saltita no meu quotidiano. O Major Alvega é mais um cromo aqui da praça, que também contribui para as delícias do meu dia a dia. De bigode negligê e popa disciplinadamente arrumada no topo da testa, o Alvega trata-se bem na companhia do mulherio. Ainda há dias, a minha amiga R. recebia com indisfarçável estupor a informação que o Alvega trocava de companheira ao ritmo da muda de peúgas. Admirava-se a minha amiga sobretudo por uma particularidade um bocado desconfortável: para soletrar um simples "bom dia", o nosso herói perde cerca de 3,41 minutos. Umas turbinas mal oleadas originam-lhe graves problemas no discurso, que sai sempre mal amanhado. Despeja sílabas aos solavancos. É uma aflição codificar o discurso, que no conteúdo oscila entre o enfadonho e o insurrecto. Num planeta de incompetentes, sobra ele, um gajo que de manhã apura o paladar com torradas barradas a azeite. Além da sinuosa oralidade e dos gostos excêntricos, o Alvega tem outra particularidade que um dia despertou a atenção do Tó Mãozinhas. Uma mancha azul na testa, que se dizia, à boca fechada, ser resultado de um rebentamento de uma mina na guerra colonial. Ora o Tó, conduzido pelo faro alcoviteiro, perdeu a vergonha e foi indagar junto do próprio. Sumiu da sala e, cinco minutos volvidos, reapareceu, de tez ruborizada e aparência invulgarmente mansa. Lá no infinito, alguém encravava teimosamente em gritos de cólera. Ainda hoje o Alvega tenta completar a ameaça, creio que "eu vou-te aos cornos!!", mas entretanto o Tó reformou-se

terça-feira, dezembro 5

Levantada do chão

"Fiquei sem sapatos, a mala saltou-me do braço e fui a rebolar desde o rés-do-chão até à cave", Maria José Valério, in 24 Horas. Bem ditos tablóides da nossa praça, que nos fornecem esclarecimentos descurados pelas publicações de referência. Soube-se que a cantadeira revisteira, célebre pela madeixa verde-alface estampada sobre a lacada melena, deu um monumental tralho em casa, quando se aprimorava para levantar nos correios o vale da reforma. Diz a notícia que a animadora dos espectáculos sportinguistas tem o lado direito "todo dorido" e que pondera recorrer ao raio-x para um diagnóstico mais minuncioso sobre o estado da velha carcaça. A notícia, ou o Grande trambolhão, remete-nos para a triste constatação que os imortais também podem ser abatidos pelos imponderáveis de um quotidiano rasteiro... ou rasteira

segunda-feira, dezembro 4

Defequei-me integralmente (v. refl., pop. + adv.)

Uma película inigualável (adj. 2 gén. que se não pode igualar; incomparável).
Um roadmovie brilhante (adj. 2 gén. luzente; cintilante; fig. célebre; excelente; pomposo, sumptuoso; notáve)l.
Um actor genial (adj. 2 gén. portentoso; próprio de um talento, de um génio; fig. prazenteiro; alegre; festivo).
Um humor hilariante (adj. 2 gén. que produz alegria ou o riso; jocoso; cómico).
Um argumento mordaz (adj. 2 gén. que morde; que corrói; picante; fig. pungente; satírico; maledicente).
Numa palavra... soberbo (adj. magnífico; sublime; grandioso; majestoso).
A rever (v. tr. tornar a ver; ver com atenção; examinar cuidadosamente; recordar; evocar; relembrar; v. refl. contemplar-se com desvanecimento; comprazer-se; tornar a ver-se).

domingo, dezembro 3

I kiss you

Provavelmente... o Borat original
My eyes are green
I have a car
I like music
I watch the stars
...
Mahir Cagri

sábado, dezembro 2

Púdico

O jornal Público informa os leitores mais impressionáveis que vai mudar de grafismo já a partir de Janeiro

sexta-feira, dezembro 1

Ordinarómetro

Oh Trincas, desculpa lá pazinha, mas isto é uma grande banhada. Para além de estar estragado, ainda me ofende. Experimentem vocês, mas aviso já que tem perguntas um bocado porcas, género se alguma vez beijámos uma mulher ou lhe cheirámos roupa interior usada

quinta-feira, novembro 30

É Matal!

A época natalícia que se avizinha e a passeata do Bento Ratzinger pelo Bósforo reanimaram-me o conto predilecto nas tertúlias com o refugiado belga. Há uns anos atrás, a verdura de um estagiário neste estabelecimento de doidos era amadurecida com traduções de novas do estrangeiro. Com a candura de iniciante no mercado de trabalho, o jovem examinando canalizou cinco anos de curso universitário numa missiva de uma reputada agência internacional anglófona. Noticiou o aprendiz que a época que celebra o nascimento de Cristo recupera anualmente a milenária tradição da degola de turcos. Excluíndo algumas zonas do planeta mais carenciadas, praticamente todo o mundo civilizado se empenhava no ritual de matar turcos. Mandava o hábito festivo que se estripasse uns valentes milhões de turcos para o repasto da ceia. Por imperativo bíblico, os turcos afagavam o estômago das famílias, que em retiro íntimo de confraternização, agradeciam à divindade o recheio do prato. O aturado trabalho do noviço resultou numa bela e comovida prosa, não fosse a particularidade de um ligeiríssimo descuido de tradução, que quase desencadeava um conflito institucional com a Associação de Produtores Avícolas

quarta-feira, novembro 29

Clark Quente

Anda por aqui um rapaz, já pelos quarentas, apelidado carinhosamente de Clark Kent. Moreno, alto, de par de lunetas ensebadas, fronha acnada e pateta como o original, o Clark é a figura sobre a qual animo a alma nos dias mais tristonhos. Quando o cenário chuvoso teima inspirar-me melancolia, vou ali ao estaminé do lado, dou duas ou três contempladelas ao Clark e fico logo bem disposto. Se providenciarmos alguns cuidados nos períodos de canícula, para nos esquivarmos à fedentina emanada pela sovaqueira, podemo-nos aproximar com relativa segurança da criatura. São necessários, porém, alguns requisitos prévios. Para evitar prelecções enfadonhas sobre as propriedades dos teclados ergonómicos, é aconselhável simularmos um achaque de surdo-mudez e esgueirarmo-nos de mansinho. Sugere-se também uma distância segura se, eventualmente, o potencial interlocutor carregar com a cruz de ter nascido mulher. A abordagem de salamaleques é inevitável e independente da categoria de fealdade da visada. Este Casanova fará marcação cerrada à portadora de ventre parideiro mais incauta. Aquando em intimidade com os seus botões, o Clark pratica as fracassadas investidas com a fotocopiadora. Ainda há dias lá estava ele, de joelhos flectidos, em pose de inicialmentes ao acasalamento. Inclinado sobre a máquina, mirava com minuncia a sumptuosa prateleira que avia as folhas printadas. Indagava pelos motivos de tanta indiferença aos seus ensejos de reprodução documental, desconhecendo que é aconselhável digitar a tecla clitoriana para que o engenho comece a despachar serviço

terça-feira, novembro 28

Carambolas de bolas

Tenhos as cruzes inflamadas e a mira óptica desregulada. O emocionante reecontro familiar, depois de uns dias de folgas, deu nisto. Passei o fim-de-semana a arriar-me sobre o soalho para indagar sobre o destino das bolinhas de gelo pontapeadas, com aplicado recorte técnico - sublinhe-se - pela minha Cice. Perdi a conta aos golos do Benfica, mas pago agora a factura do festival Glorioso. Tenho o lombo a latejar e o chão da sala semeado por bolas coloridas, precisamente as mesmas que há 30 e picos anos mordiscava para aliviar as gengivas. Aquilo mete-se por tudo o que é fresta e dá uma carga de trabalhos recuperar no lusco-fusco da sala. Fonix!
...
Pssshhht, não se chibem, mas o rebento dos dotes futebolísticos fartou-se de dizer caiaiadas, retiradas de
ensinamentos passados, quando tentava arrumar outras bolinhas coloridas na árvore de natal, edificada nos intervalos das jogatanas. Se é para ter futuro no pontapé da bola, já ganhou o jeito e a verborreia apropriada para se fazer entender

segunda-feira, novembro 27

A ceia

Uma reportagem recente da Visão vasculhou a intimidade do comissário europeu. Descobrimos que Durão Barroso cumpre um rigoroso regime, que lhe consumiu, até ao momento, a significativa fatia de 11 quilos. Cansado de rebolar pelos corredores do poder, o Zé Manuel anda a reconquistar ligeireza. A imagem enxuvalhada de uma Europa a 25 está a ser paulatinamente reconstruída por um homem que cuida da imagem. Entre os vários registos do aturado trabalho jornalístico, detive-me no convite aos leitores para o repasto semanal de Durão com um grupo de glutões em recuperação. Pudémos presenciar a amena cavaqueira numa ceia de minoridades calóricas. Depois de degustar duas fatias de tomate e metade de um hamburguer de soja, Durão partilha com os convivas um morno chá verde, junto com uma água natural gaseificada, para rematar a digestão. No rescaldo do banquete, o repórter fotográfico em serviço registou o momento em que o comissário delata a mais recente anedota sussurrada pelo amigo Santana. Contou-lhe o seu sucessor no passado recente de ex-primeiros em desgraça que almeja regressar à política activa. A confidência, de potencial risível inesgotável, parece não recolher grandes sorrisos entre os parceiros de mesa. Ora atentai na fotografia. O parceiro do lado recolhe discretamente para recuperar do abalo, enquanto o que se lhe segue paraliza de estupefacção, inspirando o cenário taciturno entre as alminhas que o acompanham na refeição. A prova incontornável que as dietas não têm piada nenhuma

domingo, novembro 26

Dick Bocage Hard

Provavelmente... a melhor poesia

sábado, novembro 25

Dias de solteiro

Mas o que é o o cu tem a ver com as calças? Esta será a pergunta que monopolizará as consciências entre os estupefactos que presenciam o acasalamento entre Os Normais e o V for Vendetta. Pois bem. Serei lesto a esclarecer. Foram as companhias no meu último dia de "solteiro", na véspera de levantar a encomenda despachada há dias para Cabo Verde. No lugar de casas de strip ou outras alternativas de irrepreensível utilidade lúdica, aqui o Fogacho emborcou duas tostas místicas, vestiu o pijama, estatelou-se na cama e pôs os discos a correr. Primeiro o filme em que o Matrix Mr. Smith não deslarga a máscara de um antigo espadachim e desata a esventrar os maus da fita. Uma grandíssima obra sobre a justiça na ponta de uma naifa, que me apanhou totalmente desprevenido. Está uma pessoa à espera de descansar o cérebro numa banda desenhada transformada em pessoas e apanha com uma dica aterradora sobre um futuro de tirania que pode estar já aqui ao lado. Depois, para desanuviar o ambiente, seis episódios de enfiada (julgo que os únicos editados em Portugal) de uma das melhores coisinhas do audiovisual brasileiro. Peripécias de Rui e Vani, um casal de desequilibrados que me fazem rir até às câibras abdominais. Imperdível a sopa de cagalhote de parasite, servida com a concha que chapinhou na retrete da intragável sogra da Vani. Sirvam-se que é à confiança

sexta-feira, novembro 24

O melhor golo da vida dele

Um realizador de televisão mal-formado acaba de esvaziar a campanha de angariação de sócios que o Sporting planeava para breve. A aquecer a napa fria do banco do Inter de Milão, Luís Figo exultou com o golo que arredou os lagartos da Liga dos Campeões. Quando os verde-e-brancos esperavam que o Pastilhas arrebentasse com os contraplacados da cabine dos reservistas, afinal tiveram de engolir com os histéricos festejos do Luigi. Devassaram a intimidade do nosso astro, que tem todo o direito ao recato aquando em júbilo. Acho mesmo muito mal que já estejam a dizer que o célebre anúncio benfiquista do choramingas Rui Costa contará brevemente com uma sequela

quinta-feira, novembro 23

Spama tu também

"Cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do 'recrutamento'. Ademais, cada participante deve reproduzir este 'regulamento' no seu blogue."

Desafiado por uma
mulher que se "farda" de escrevinhar compêndios de palavrões, enuncio então cinco das minhas 387.724.209,534 manias. A ordem é arbitrária, embora tenha especial apreço pela terceira
...
1. Escaranfuchar entre as impurezas da cavidade que medeia o mindinho do pé e o dedo que se lhe segue (anelar?)
2. Acompanhar atentamente os debates desportivos de segunda e terça-feira enquanto extraio da mosca do lábio inferior pêlos com pontas espigadas
3. Transformar licor de ranho em consistentes bolinhas de sebo. Dá algum trabalho e requer muita paciência, mas é contagiante induzir aquela metamorfose
4. Entupir as estantes com DVD’s e estatuetas Star Wars
5. Orgiar abraços a três com a Maria e a Cice. Fica logo tudo despachado!
...
É-me agora indiferente se a corrente fluirá por estas paragens - engenheiro kunhas, coccixas, ducas, miúdo noriega e trincadeira - mas já me livrei do mau olhado. Desenrasquem-se!

quarta-feira, novembro 22

O ascensor do amor

Vou à sub-cave tomar outro café. O desígnio madrugador arrasa-me a vigília e carencio de substâncias que me reponham a firmeza. Já no balcão, embrulho-me em ligeira peleja com o Cacá, o proprietário do micro-estabelecimento que nos dá serventia, e insisto que páre de me chamar senhor. Disfarço o desconforto com duas ou três frases sobre a crise de resultados do Benfica. Emborco em duas penadas a cafeína liquefeita e regresso ao elevador. Pára dois pisos antes, detido por alguem que acalenta tomar o mesmo caminho. A porta escancarada denuncia o vulto antes destorcido pelo vidro martelado. É ela, a Pápi, o mulherão entradote que muitos cobiçam em fantasias desequilibradas. Recuo no exíguo compartimento para lhe dar espaço à entrada. Sorriso cortês da praxe e lá vamos nós por ali acima. Chegados ao andar, seguiram-se o par de milésimas de segundo mais longo das nossas vidas. Por que esperava ela? Pelo infinito? Paralizara ela num emaranhado de reflexões? Quando me preparo para inquirir sobre o estado da moça, eis que a Pápi, desenvencilhada do estado de letargia, se me dirige de pronto: Não me vais abrir a porta? Atropelado por uma série de impropérios, doidinhos para lhes esventrar os tímpanos, cerro os lábios para que não me escapem os adjectivos mais labregos. Limito-me a um lapidar: Tu estás mais perto! É que lá por serem bem constituídas e giras com'um raio não pensem que lhes afago a soberba. Meteu o rabo super-sexy entre as torneadas pernas e saiu porta fora

terça-feira, novembro 21

Toca A Proxenetar

Ontem fui despachar uma encomenda para Cabo Verde, leia-se penosa viagem de trabalho da Maria até à cidade da Praia. Na minha incursão pelo Aeroporto de Lisboa, descobri que a TAP anda a promover visitas guiadas às instalações por uma quantia a rondar os 15 euros. Pois foi a referida cifra, uns 3.000 escudos na moeda antiga, que tive de desembolsar por hora e meia de estada. Depois do check-in, fomos enganar o estômago com uma bucha. Por duas sandes manhosas e um par de refrigerantes, os proxenetas do pronto-a-comer Astrolábio usurparam-nos qualquer coisa como 12 euros. Com um nó na garganta, nem sequer arrisquei investir na cafeína, provavelmente adornada com raspas de ouro. Depois de deixar a Maria em lágrimas, fui levantar o veículo ao parqueamento. Só recebi o visto dos gajos da EMEL lá do burgo depois de aliviar a carteira com mais 3 euros. Acredito que a parasitação das low-cost anda a baralhar as contas ao minino Fernando Pinto, mas caro administrador, o nobre gesto de expedir a minha senhora não tem preço

segunda-feira, novembro 20

Cós Laureta

Vai desculpar-me este meu amigo o plágio descarado do look à la cromo, mas o Laureta da farfalhuda caracoleta, cujo pindérico registo fui sacar daqui, fez parte da minha vida. Foi jogador mediano e nunca granjeou categoria suficiente para vestir a camisola do Glorioso. Arrastou-se por clubes regionais como o FC Porto, Sporting de Braga ou Vitória de Guimarães e encerrou a carreira quase sem ninguem dar pela reforma. Hoje, o Laureta renasceu inadvertidamente do jazigo da minha indiferença. Tudo começou há uns bons anos atrás. Um colega atiçava-me a cobiça exibindo, com desmesurado orgulho, um fato de treino comercializado, a preço de amigo, por um ex-jogador. Sim, esse mesmo, o Laureta. Prostrado de joelhos e simulando um quasi desfalecimento, pedinchei a esse meu work partner que intercedesse junto do antigo craque. Anuiu e dias depois envergava um felpudo training suit da Adidas, tal qual um outro que hoje vi a agasalhar uma cinquentenária. Ou, há dez anos, tinha dotes de visionário e antecipava a longevidade do cós no tornozelo, tal qual o calçonito no Tintin, ou, em meados da década de 90, padecia de um refinado, e preocupante, mau gosto

domingo, novembro 19

A graça do Luís

Ontem estive com o Luís. Não é amigo do peito, mas conhecemo-nos há mais de dez anos. Tenho por ele alguma estima. Acho mesmo que faz jus ao apelido. Tem piada o Graça. Uma forma peculiar de existir. Por isso, muitos diagnosticam-lhe precipitadamente desequilíbrios comportamentais. Muito pelo contrário. Posso testemunhar que o Luís é uma enciclopédia ambulante, com apuradíssimo sentido de humor. Também é escritor. Comprei-lhe há dois anos, no Festival da BD, O Homem que Casou com uma Estrela Porno e outras histórias e o Neura 2004. Pouco depois, borrei-me todo de tanto rir quando o vi declamar poesia erótica no Cabaret da Coxa. Comprei, pois está claro, o De Boas Erecções Está o Inferno Cheio. Este sábado, estivemos juntos no Estádio da Luz. O Luís é campeoníssimo de ping-pong, mas também um estudioso do voleibol. Ontem, adivinhava praticamente todos os pontos e ainda tinha tempo para injuriar o speaker das "palminhas encarnadas". Quando toda a gente saudava mais um ponto do Glorioso, o Luís preferia incentivar as correrias das meninas da estatística, enquanto controlava, de soslaio, as movimentações das adeptas mais voluptuosas. Graça(s) ao Luís, aprendi que um jogo de voleibol masculino pode proporcionar extras de líbido

sexta-feira, novembro 17

The girl next door

Com a graça de Deus, conquistei a independência bem cedinho. Pouco depois de dobrar as duas décadas de existência, adquiri um habitáculo ali para o Conde Barão. Umas águas furtadas de 40 metros quadrados. Aquilo era tão apertadinho que tinha de tomar banho de cócoras. Recordo-me que na altura de rechear o investimento, alguns electrodomésticos foram recambiados à origem, por não atravessarem a porta de entrada. Descontando esses pequenos contratempos, a dificuldade em me mexer lá dentro e de chover a cântaros em dias de temporal, aquele canto era o orgulho da minha afirmação. No andar de baixo cirandava a N., a desterrada vizinha algarvia, de alto porte e elegante silhueta. Fruto da graça de duas almas joviais, fomos conquistado intimidades. Comovi-me no dia em que me bateu à porta para me confiar a chave. Ia para o Sul e pedia-me para lhe regar as plantas. Estávamos tão próximos que em certa ocasião convidou-me para um café. Falou-me com paixão incontida das barragens. Era uma aficcionada das represas. Uma admiração de anos pelo poder electrificante das águas. Foram horas de convívio, nas quais consegui beber alguns conhecimentos da complexa arte de erigir diques. Não fiquei adepto. Saí de mansinho, convicto que existiam poucos gostos em partilha. Assim de memória, apreciávamos café... ah, e soube depois, gostávamos de mulheres

quinta-feira, novembro 16

Claudidíase

Ontem, no espaço de segundos, vivi entre a exaltação e o logro. Por outras palavras, provei o veneno dos mal-entendidos. Considerações precipitadas que transformam, por exemplo, o mais cândido idealismo romântico em líbido promiscua, como mostra o exemplo recente das tatuagens de Elsa Raposo. Histérico representante das colunas de opinião, Cláudio Ramos é personagem que desencadeia paixões e afectos entre a esmagadora minoria dos que lhe dão crédito. Desbocado compulsivo, denuncia em praça pública comportamentos de terceiros. Nem a suspeita paternidade, após relação fútil com uma roliça alentejana, lhe amansou os instintos do escárnio. Transmitiu-me a minha tia que a personagem tinha acabado de levar um enxerto que lhe deixou a fronha numa bola. Quando me preparava para opinar sobre os inevitáveis resultados daquela boca viperina, demoveu-me de pronto a minha tia. Afinal tratava-se de um enxerto ósseo, para corrigir um acidente do passado, provavelmente o parto do próprio

quarta-feira, novembro 15

Inflacção urinária

Tive o cuidado de cronometrar a necessidade que me impulsiona a tomar este caminho para aliviar a bexiga. Esperei, porém, pelo meio termo. Nem em estado de rebentar o reservatório, nem pretexto para gotejar sobre a alva porcelana. Demorei precisamente 1,37 minutos no processo que me conduziu ao vazamento, respeitando criteriosamente uma mediana necessidade premente. Ora, fazendo as contas por alto, o patronato desbaratinou naquele período 3 cêntimos, precisamente o valor subsidiado por 1,37 minutos de lides profissionais. Vamos deduzir, também por alto, que em cada sete horas de tabalho mijo umas quatro vezes. A romaria fica valorizada por uns 12 cêntimos/dia, quase 2,7 euros/mês pia abaixo. Se contas recentes mostraram que a minha carreira tem uma progressão fixada nos 5 cêntimos/dia, qualquer coisa como 1,1 euros/mês, mijo mais do dobro sobre a tabela de valorização do meu desempenho. Se me esperam mais 30 anos de ofício, o politburo aqui do burgo fechará as contas com um subsídio de quase 1.300 euros pelo meu xixi. Descontando naturalmente os últimos cinco anos, comparticipados pela caixa de previdência, que me sustentará as fraldas para os achaques de incontinência

terça-feira, novembro 14

Um tolo segundo isto

Levantado do chão, Ricardo Reis formalizou o ano da sua morte junto do evangelho subscrito por Cristo. Sentia-se um homem duplicado, a monte numa jangada de pedra. A cegueira ensaiada em menino, desafiava a lucidez ao velho pai, que lhe chamou todos os nomes. Encarcerado nas memórias do convento, assustava-se com a história do cerco de Lisboa. Refugiou-se na caverna, vacilando nas intermitências da morte. A definhar, clamou em surdina: Estar vivo é estar. Estar morto é já não estar!

segunda-feira, novembro 13

Demência às bolinhas

Por culpa disto, a insanidade vai derrotando os neurónios à Maria lá de casa. No âmbito de um desequilibrio emocional vertiginoso e decadente, a dita camarada de assoalhadas sofre com as dúvidas sobre a indumentária a usar na boda religiosa dos meus criadores, outros que não andam lá muito famosos de discernimento. Tal a estima pelos sogros de afinidade, a Maria tem gosto em apresentar-se catita na cerimónia. Ontem tive direito a desfile. Ponderámos em conjunto sobre as duas dezenas de alternativas a concurso, mas nenhuma delas parece ter desencadeado o click. Em pleno rescaldo da desgastante mostra, repousava o olhos no futebol criativo do Barcelona quando a desequilibrada me apareceu na sala com um capacho postiço cheio de esferas de rolamentos. Ponderava - e repito para que não restem dúvidas, P-O-N-D-E-R-A-V-A - acachapar aquela coisa na tola durante o casamento dos meus progenitores. Ainda hoje me dói o esfíncter de tanto gás deslargado pelas gargalhadas alarves

PS: agradecimentos ao grande amigo da minha Cice, o Tonecas, pela disponibilidade ao registo fotográfico, para memória futura

sábado, novembro 11

Zé Manel, o encerador

Provavelmente... a bola atrapalha
aqui tinha denunciado o incidente

sexta-feira, novembro 10

Marta súbita

Final de mais um dia de labuta. Jantar num estabelecimento de bifes com molhos à indiscrição. A Maria contentava-se com um chá gelado. A mim, trespassava-me o goto uma loura geladíssima. Ao lado, um casal com duas crias hiper-activas. O gajo assim pequenino, atarracado. Olho azul, aspecto germânico, já em plena condição cinquentenária. A tipa, uma trintona bem aviada. De buço mal cuidado e com uns papos monstros pendurados sob o par de glóbulos oculares, caga de alto para a inquietação permanente dos pequenos. Prefere dedilhar compulsivamente as teclas do telemóvel, enquanto jaz um pedaço de carne e um punhado de chips num prato mal amanhado. De melena em carapinha e franja desactualizada, a tipa não é definitivamente da geração Mudasti. Parece que estagnou na década de 80. À excepção do abdómen, discreto por aquela altura, mas agora com ganas de dar nas vistas. Assim numa apreciação descuidada, um real camafeu, quase com o dobro do tamanho do mais-que-tudo. Mas após uma avaliação mais minunciosa, o soco que me acabou com os apetites. Aquela era ela

quinta-feira, novembro 9

Dar-te forte

A ambição humana pela imortalidade aparafusar-nos-á inevitavelmente a caixilhos e rolamentos num futuro muito próximo. Num mundo que se adivinha um imenso bairro social, com famílias encaixotadas em estruturas de 40 andares, o presente trata de oferecer pistas para o que poderá aí vir. Para melhores esclarecimentos sobre o futuro, contamos com os visionários. Lembro-me, por exemplo, de George Lucas, que nos ficcionou o melhor exemplo da ambição do respirar perene. Sorrateiramente, atribuiu o ensejo da eternidade aos instintos mais negros dos mortais a baptizou-o de Darth, Darth Vader. Com a ajuda de uma complexa maquinaria, Darth ameaçava o bem, mas, apesar de prevaricar, granjeava adeptos entre os mais diversificados escalões etários e sociais. Continua a ser o vilão mais popular, mas hoje está confinado a um recanto obscuro no Museu da Electricidade. Besuntaram-lhe as solas com Araldite e deixaram-no a enferrujar por alí, sem a dignidade de outrora. É injusto. A Elizabeth Taylor enterrou 38 Lassies e prepara-se para nova boda e ainda ninguem aparafusou a múmia ao Museu de Arte Antiga

quarta-feira, novembro 8

Tiro nos escuros

Em Washington DC alojam-se etnias em guetos. Com um louvável faro para o negócio, a poderosa National Rifle Association (NRA) capitaliza avultadas mais-valias com a insatisfação dos afro-americanos, os bodes expiatórios da incontrolável criminalidade na capital do Império. Temendo pelo emagrecimento dos recursos, a presidente da NRA, Sandra Froman, associou-se aos repúblicanos na recente campanha eleitoral nos States. Desancou nos democratas e fez depender o futuro colorido do país no voto no partido dos elefantes. Sandra Froman injuriou Nancy Pelosi, John Kerry, Ted Kennedy e Hilary Clinton por terem cometido a ousadia de prometerem medidas que estaquem a liberalização do negócio das armas. O resultado saiu avesso às contas republicanas e parece que até o Senado está prestes a ser tomado pelos burros. Nancy Pelosi, a nova líder da Câmara dos Representantes e a bloquista lá do burgo, promete sanguinárias pelejas com Bush Jr., mas à força dos punhos cerrados. A NRA sai em defesa do presidente e gaba-se de providenciar, ao longo de 125 anos de existência, programas de segurança, educação e responsabilidade aos fellows americans. Agora, o poder virou canhoto na ideologia e os democratas ameaçam escangalhar os ensinamentos dos pró-portadores. Infortunadamente para a NRA, há coisas que não se podem resolver a tiro

domingo, novembro 5

Gilles, o Bárbaro

Alertou-me esta criativa para uma curiosa obra de Gilles Barbier, um tipo francês com desmesurado sentido de humor. Tem expressões plásticas engraçadas. Por outras palavras, tem um jeitinho risível. Mas por vezes intromete-se em meios que deviam ser palmilhados com reverência e decoro. Achou por bem o engraçadinho desmistificar a comunidade de heróis, que zela diariamente pela integridade dos mortais. O artista gaulês esmurrou-me o estômago. A mim e a milhares de milhões de terrestres, que contam com a cuidada diligência do clube de justiceiros. Defende Barbier, com a referida manifestação tétrica, que esgotou o prazo dos signos da imortalidade. A Catwoman com achaques de menopausa, o Capitão América prostrado numa marquesa ou o Super Homem apoiado em andarilhos são interpretações distorcidas, que lesam a integridade de um planeta que cultiva diariamente bandos de parasitas. Tenha cuidado senhor Gilles, que os nossos heróis não deixarão passar incólume a afronta

sábado, novembro 4

Kalmitos

Não sou de saudosismos bacocos, mas sinto falta dos Kalkitos. Apresentavam-nos um cenário de cartão e um celofan com bonecada. Seguia-se o desafio de acasalar as duas partes harmoniosamente. Pegava-se no plástico translúcido e desgrudava-se as figuras anexas sobre o cartão. Era viciante o processo criativo. Cheguei a cobrir cenários em cinco minutos, tal a ganância de contemplar o resultado final. Do abichanado General Custer ao herói de collants Superman, kalkitei um pouco de tudo. Infelizmente desapareceram e escancararam o mercado a uma série de empresas oportunistas. Limitaram-se a kalkitar parcialmente o conceito. Tornaram-no mais complexo e sinuoso. Há um par de anos, um refugiado belga ofereceu-me um super-mega-hiper album que transbordava cenários desertos. Competia-nos pegar nas resmas de auto-colantes anexas e escarrancha-las naqueles vazios de nada. Não me acostumei. Aquilo é um bacanal de perspectivas que é praticamente impossível adaptar cada figura ao local adequado. Só complicam estes modernistas. O Hulk que me parecia adequado ao deserto do Arizona, afinal estava a escangalhar a ponte de São Francisco. Enverdeci que nem a besta do mutante e renunciei aos propósitos lúdicos. Sou da velha guarda!

sexta-feira, novembro 3

Bride pride

Numa sociedade preconceituosa e letal nos conceitos caluniosos, venho aqui sair em defesa dos funcionários públicos. Essa gente bem formada anda a alimentar com injustiça o anedotário, só pelo nosso gostinho em desdenhar na competência. Uma espécie de cobiça encapotada em desdém. Não entendo tanto preconceito. Só para calar os viperinos, conto aqui uma linda história de amor, que ruiu a inabalável compostura de mim mesmo. Empunhava o 37º ticket num balcão de atendimento. Esperei civilizadamente as horas necessárias até o gongo soar finalmente. Preparava-me para esclarecer ao que vinha quando a balconista me pede um segundo, pois a colega de serviço acabava de esparramar a nadegueira sobre o tampo da sua secretária. Acedi com cavalheirismo e esperei. Em bom tempo o fiz, pois o que se seguiu encheu-me o espírito daquele violeta e verde garrafa, tonalidades indissociáveis aos fundos das fotos de bodas. A colega rabuda empunhava orgulhosamente o anelar com o cachucho oferecido pelo noivo. Dissecados os quilates da sumptuosa preciosidade, a balconista aproveitou para solicitar à noiva conselhos sobre a melhor fatiota a envergar no casório. Como o anterior segundo que me pedira já se esgotara entretanto, pediu-me a balconista um outro mais. Atender-me-ia logo de pronto. Mais uma vez anui, de sorriso rasgado, pois o amor e seus derivados gozam de privilégio sobre trivialidades de impostos municipais. Soube então que a velhaca da sogra da colega cuzuda se preparava para levar um tailleur muito semelhante ao idealizado pela balconista. Ora bolas, voltámos então à estaca zero e passámos por novo processo de filtragem na escolha da melhor indumentária. Sucessivos segundos acumulados depois, não chegaram a conclusão alguma, mas emocionou-me aquele trato da colega rabuda, que nem sequer pediu desculpa aos 15 pindéricos que esperavam ainda pela sua vez. Isto porque os cerimoniais festivos de amor são prioritários e dispensam cortesia, educação, brio e vergonha. Fosga-se!! Bem dito regime da velha senhora, que providenciava muito espaço no Tarrafal aos excedentários. Agora, até mamas subsidiamos a estas gajas

quinta-feira, novembro 2

Sopa dos pobres

Estive ontem a dedilhar sobre a máquina de calcular e descobri que a progressão na minha carreira está valorizada em cinco cêntimos/dia. Isto números redondos e sobrevalorizados, porque o resultado da complexa equação mostrava arrepiantes 0,047 euros. Entre o intervalo de dois escalões profissionais, as minhas competências laborais valem precisamente 17,3 euros/ano. Ainda por cima o patronato anda a propôr à brigada do reumático, leia-se sindicalistas, dilatar as progressões automáticas de três para dez anos. Congratulo-me que os nossos representantes saiam transpiradamente exultantes com o resultado das árduas negociações, no que diz respeito às compensações conseguidas para o pessoal em final de carreira. Coincidentemente, malta assim na faixa etária dos delegados sindicais. Coincidentemente, os mais directos visados no usufruto das benesses. Até lá chegar, à pré-reforma dourada, já estou imaginar o cenário de todos os dias, à saída de nova jornada de labuta, compensada com mais cinco cêntimos...
- Portas: senhor, senhor, não se esqueça da moeda...
- Moi-meme: ora bolas, já me olvidava
- Portas: vai ao mesmo sítio?
- Moi-meme: agora estou a tentar os Anjos
- Portas: o Martim Moniz já não dá nada?
- Moi-meme: Eram uns sovinas. Sete colheres e mai nada. Nos Anjos trocam a moedinha por meia tijela do caldo sobejante da canja de galinha
Miséria!

quarta-feira, novembro 1

reViver das cinzas

Do outro lado do Atlântico trocam-se, por esta altura, travessuras por guloseimas. Com alguma sorte, batem-nos à porta uma ou duas diabinhas já na maioridade. Por cá, somos mais piegas e choramos os mortos. Cemitérios a abarrotar de gente enlutada. Ciganas prostradas no chão a berrar. Idosas a carregar regadores para alimentar as plantas da campa do mais que tudo. Enfim. No meio deste drama, um punhado de oportunistas a tentar capitalizar o negócio. Sim, que a morte também é um negócio. Que o diga uma multinacional espanhola que se instalou em Portugal depois de adquirir uma série de estabelecimentos para defuntos. Entre a vasta gama de produtos revolucionários, retive, durante uma reportagem matinal, um peculiar processo de cristalização. Não sabia, mas consegue-se transformar cabelos de mortos em diamantes para cravar em cachuchos. Mesmo assim, o maior proveito continua a ser retirado das cremações. Cada vez mais gente escolhe transformar-se em cinzas para se alojar numa urna de porcelana chinesa em plena sala de estar. Disso se queixava uma modesta comerciante de flores, que tentava a sorte à porta do cemitério do Alto de São João. "Isto agora escolhem todos ser queimados e o negócio morre". Mas não é essa a ideia?

terça-feira, outubro 31

Eu fui à praça...

... comprei uma batata
... outra batata

... uma cenoura

... uma banana

... dei a volta à praça e ficou uma caraça

Versão acumulada, depois do épá-não-lhe-dês-o-bloco-de-postites-prá-mão